Este trabalho foi recuperado de uma versão anterior da revista Educação Pública. Por isso, talvez você encontre nele algum problema de formatação ou links defeituosos. Se for o caso, por favor, escreva para nosso email (educacaopublica@cecierj.edu.br) para providenciarmos o reparo.

Parceria entre colégio e empresa começa a dar frutos

Leonardo Soares Quirino da Silva

Busca de parceiros é uma das características da escola

Para "enriquecer o processo ensino-aprendizagem em fornecer cursos e trazer outros pontos de vista sobre os problemas, bem como arrecadar recursos", segundo sua diretora, Tânia Regina Borges e Silva, o Colégio Estadual Ezequiel Freire, em Itatiaia, tem desenvolvido uma política de busca de parceiros.

O resultado mais recente foi a associação com a fábrica de pneus Michelin para oferecer cursos profissionalizantes à comunidade interna e externa da empresa, beneficiando cerca de 50 pessoas. No final do primeiro semestre se formaram os alunos das primeiras turmas de cursos oferecidos para essas comunidades.

Associação de objetivos

Tânia observa que essa iniciativa atinge a dois objetivos:

- Com esse projeto, por um lado, conseguimos atender a uma das prioridades da Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) que é a formação para o mercado de trabalho. Por outro, isso muda a percepção da comunidade sobre a escola. Esta passa a ser vista como ponte mais direta para o mercado de trabalho.

Para a empresa, a iniciativa se enquadra em sua política de responsabilidade social. Seu objetivo geral é desenvolver as pessoas e capacitá-las para o mercado de trabalho em geral e não formar mão-de-obra para a Michelin, observa Tânia.

As negociações entre a escola e a empresa começaram ainda no primeiro semestre do ano passado. Em abril de 2005, as diretoras do Ezequiel Freire procuraram a empresa depois de ouvirem dizer que essa pretendia doar computadores. O contato foi feito com a assistente social.

Essa conversa evoluiu para a possibilidade de parceria mais abrangente. Além dos dois parceiros iniciais, também entraram no projeto a Prefeitura de Itatiaia, as associações de moradores e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).

O resultado desses encontros, segundo Tânia, é que o Ezequiel se tornou o único colégio público no Brasil com que a empresa tem esse tipo de parceria. A Michelin desenvolve trabalho semelhante em escola da própria fábrica, no bairro de Campo Grande, no Rio de Janeiro. Segundo a diretora, o objetivo da empresa é que o projeto dure 10 anos.

Cursos

Os cursos oferecidos para os alunos do colégio foram escolhidos em discussões entre os representantes das duas organizações. Foram abertos cursos de francês, informática e operador de processos mecânicos. Este último parcialmente feito nas instalações do Senai, em Resende (RJ).

No total, 32 alunos participam do projeto. Com duração de um semestre, o curso de informática formou seus primeiros oito alunos em junho. As aulas foram dadas com material didático fornecido pela a empresa no laboratório da escola, cujas máquinas são mantidas pela Prefeitura. Em agosto, deve-se iniciar a segunda turma.

Para o aluno Wesley da Silva, do terceiro ano do ensino médio, o curso de informática serviu tanto como revisão para aumentar seus conhecimentos como para aprender a usar atalhos para o teclado. Depois disso, ele aposentou o mouse do computador e aproveitou para ensinar à mãe, que agora entra no computador assim que ele vai para a escola e só sai quando ele volta.

O curso de francês, que também tinha duração prevista de um semestre, foi ampliado a pedido dos alunos. As aulas são ministradas por funcionários da fábrica de pneus. Uma das alunas da classe, Talita Gomes dos Santos, declarou ao Portal da Educação Pública ter optado por esse programa por gostar da sonoridade da língua e por ser complementar ao curso de auxiliar administrativo que fez fora da escola.

Entre os cursos oferecidos, o com maior número de vagas e duração é o de Operador de Processos Mecânicos. Atualmente, 16 alunos do colégio se dividem entre o Ezequiel Freire, onde fazem as aulas teóricas, e as instalações do Senai, local da parte prática.

Com duração de um ano, o treinamento oferece a possibilidade de se conseguir emprego nas indústrias da região tão logo terminem o ensino médio.

As famílias receberam muito bem a novidade. A aluna Aline Fernandes da Silva, por exemplo, disse que a mãe falou para ela abraçar a oportunidade, porque a família não teria condições de pagar um curso desses.

Da mesma opinião foram os pais de Rodilson dos Santos Almeida. Segundo o estudante, eles já tinham ficado surpresos com ele ter conseguido chegar ao terceiro ano do ensino médio. O pai de Rodilson trabalha em uma fazenda. A mãe terminou recentemente o ensino médio e trabalha em um restaurante. Ela foi uma das pessoas formadas no primeiro curso para os que não são alunos da escola.

O trabalho no restaurante provavelmente foi conseguido com a ajuda da empresa que apoia o projeto. Funcionários da fábrica procuraram empregar os cerca de 20 alunos dos cursos de garçom/barman e manicure/pedicure que se formaram na primeira turma, dia 7 de junho de 2006. Para isso, telefonaram para bares, restaurantes e bufês da região.

A escolha dos treinamentos foi feita em reuniões com representantes das associações de moradores, da escola e da empresa. As aulas foram preparadas pelo Senai.

Os interessados em participar tiveram que se inscrever e depois fizeram uma prova. Segundo a professora, um dos objetivos da prova é dar transparência ao processo seletivo.

Seleção dos alunos

O processo de escolha dos alunos habilitados a participar dos cursos, contudo, foi bem mais sofisticado e foi dividido em duas fases.

Na primeira, foram escolhidos os alunos que poderiam se inscrever. Esse processo seguiu três critérios, que, segundo Tânia, visavam a motivar os alunos tanto para terem um bom desempenho acadêmico quanto um bom comportamento. O primeiro deles era ter média superior a seis, outro era ter bom índice de frequência e, por fim, os que se habilitavam a participar da segunda fase, deveriam ter boas avaliações no conselho de classe.

Na fase seguinte, os alunos aptos só poderiam se inscrever para concorrer às vagas de um curso apenas. Segundo Tânia, o objetivo da direção da escola com esse critério era dar oportunidade para que o maior número possível de alunos pudessem fazer um dos cursos.

Os inscritos tiveram que fazer provas de português e de matemática, tendo sido classificados em função do resultado.

Todos os critérios de seleção foram apresentados aos alunos em reuniões com a direção da escola e a pedagoga da empresa, observa Tânia.

Essas profissionais, a cada quinze dias, realizam reuniões de avaliação com a participação de representantes da escola e do Senai. Para acompanhar o projeto, a Michelin contratou uma estagiária que fica o tempo todo na escola Ezequiel Freire e é supervisionada pela pedagoga Alexandra Ferreira, que também acompanha o projeto da empresa em Campo Grande.

Um pouco de história

Além da Michelin, a escola também desenvolve parcerias com o Parque Nacional de Itatiaia, a Prefeitura da cidade, o Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar.

Para se aproximar da comunidade, são organizadas festas e eventos culturais, como a Feira de Talentos, em que alunos, pais e vizinhos da escola vêm mostrar suas habilidades.

O Colégio Estadual Ezequiel Freire foi fundado no dia 29 de setembro de 1913. Em 1938, ele foi transferido para o distrito de Campo Belo, atual município de Itatiaia. Seu nome homenageia o chamado Poeta das Flores. Por conta disso, todo o ano a escola realiza concurso de poesias.

24/7/2006

Publicado em 25 de julho de 2006

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.