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Rio foi maior cidade escravista da história
Leonardo Soares Quirino da Silva
Em termos absolutos e relativos, segundo o professor Luiz Carlos Soares, a cidade do Rio de Janeiro, no período imperial, foi a metrópole com a maior população escrava da história, mesmo quando comparada com Roma no auge do Império. A afirmação foi feita durante a palestra A cidade do Rio de Janeiro no século XIX: capital do Brasil e metrópole imperial, última do ciclo Rio, Capital Imperial, na Casa de Rui Barbosa, no dia 11 de julho.
O Rio de Janeiro também foi o maior porto de entrada de escravos do Brasil. Dos cerca de dois milhões de cativos que entraram no Brasil no século XIX, a cidade foi o ponto de entrada de 50% deles.
O momento de maior concentração de escravos seriam no final dos anos de 1840. Luiz citou o censo de 1849, segundo o qual dos 266,5 mil habitantes da cidade, 110,6 mil eram escravos. Em números percentuais isso significa que 41,5% da população era cativa.
Nesse período, a cidade, segundo alguns viajantes, parecia uma metrópole africana. Das 10h da manhã até às 16h, as ruas eram ocupadas principalmente por escravos.
Ele também comparou a cidade a outras metrópoles escravistas da época. Segundo o professor, os EUA tinham o maior contingente de escravos das Américas, 3 milhões, contra os cerca de 2 milhões do Brasil. Contudo, os cativos de sua maior metrópole escravista, Nova Orleans, eram um pouco mais de 20% da população total, em 1830. Isso acontecia porque a maior parte dos escravos vivia no campo.
A abolição definitiva do tráfico, em 1850, vai fazer que o escravismo no Brasil passe a ter perfil semelhante, bem como vai provocar mudanças importantes na economia e na capital do Império.
1850
A pressão inglesa para o fim do comércio de cativos, segundo Luiz, decorria do interesse em ocupar a África. "As guerras intertribais patrocinadas pelos traficantes desorganizava o continente e dificultava sua ocupação", declarou o professor. Para ele os ingleses e franceses só ocuparam o continente depois do tráfico.
Luiz observou ainda que, como na antiguidade, o fim desse comércio levou também ao fim do regime escravista e a outras três mudanças importantes. A primeira é na base da propriedade, com a aprovação da Lei de Terras, no mesmo ano. A partir daí, além da posse de terras, escravos e bens, os ricos vão passar a incorporar apólices e ações.
O desenvolvimento de capitalismo mais avançado no país também só foi possível com o fim da importação legal de escravos. Os capitais antes empregados nessa atividade passam a ser investidos em empresas e negócios. Luiz mostrou que esse processo foi retrato pela literatura e citou o exemplo do banqueiro Santos, de Esaú e Jacó, que fica rico com a Febre das Ações de 1855.
Para que a aplicação desses capitais fosse regulamentada, no mesmo ano foi aprovado o Código Comercial. Como desdobramento, a antiga Bolsa de Comércio do Rio virou Bolsa de Valores. Na bolsa antiga eram negociadas mercadorias; na nova, títulos.
Parte desses recursos vai financiar a realização de melhorias na cidade, como a iluminação a gás, a criação de sistema de transporte urbano e de limpeza pública, assim como na construção de estradas de ferro.
O terceiro impacto da abolição definitiva do tráfico foi marcado pelo preço dos escravos que triplicou. Com isso, a cidade passa a ser vista como um repositório de mão-de-obra. Os cativos da cidade passam a ser vendidos para atender a demanda de braços para expandir a produção de café.
Já no censo de 1872, a relação entre pessoas livres e cativos sofre mudança importante. Dos cerca de 275 mil habitantes da capital imperial, aproximadamente 49 mil eram cativos. Com isso, em 23 anos, eles passaram de 41,5% da população para 17,8%. Em contrapartida, entram 70 mil imigrantes portugueses entre 1850 e 1870.
Escravidão matizada
O professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) chamou a atenção para a necessidade de se perceber que a escravidão não se restringia às grandes fazendas dos grandes senhores. Ela admitia relações as mais diferentes.
Em seus estudos, por exemplo, ele encontrou o caso do escravo Henrique. Apesar de a legislação dizer que tudo que fosse do escravo pertencia, como ele, a seu senhor, este escravo tinha uma casa especializada em servir angu. Esta era a comida dos pobres da cidade. Além disso, também tinha uma escrava, outra irregularidade, que o ajudava a preparar as refeições.
Luiz observa que, em 1830, Henrique não foi denunciado por nenhuma dessas irregularidades, mas por participar de rede especializada em sequestrar e revender escravos da capital no interior. Para usar termo da época, os "seduzidos" eram escolhidos entre os recém-chegados.
Publicado em 15/08/2006
Publicado em 15 de agosto de 2006
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