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Recriando a criação

Leonardo Soares Quirino da Silva

Perfil: professor Antônio Carlos de Oliveira - ETE Ferreira Viana/Faetec

Entro em uma sala com pé-direito alto, iluminada pela luz fria característica das oficinas e laboratórios. A metade inferior de suas paredes é pintada de verde claro, a outra metade, de branco. Ao fundo, algumas prateleiras de concreto. Sobre elas, caixas de madeira, resistências, outras caixas com componentes eletrônicos. Um homem de cerca de 50 anos, baixo, forte, de voz entusiasmada corre para apanhar uma das caixas. Na superfície, dois botões grandes - um verde e outro vermelho. Feliz, o homem diz que aquele equipamento se chama "botoeira", um tipo de interruptor de grandes máquinas elétricas. Ele explica que ao fazer o equipamento no laboratório, com a ajuda dos alunos, a escola fez uma grande economia.

- No mercado, um equipamento pronto custa dezoito reais, aqui, conseguimos fazer por seis. Também fazemos módulos com temporizador. Para isso, compramos temporizadores em sucatas, reformamos e reutilizamos.

Desde 2004, contudo, esse não é o único lucro que a Escola Técnica Estadual Ferreira Viana, da rede Faetec, tem com as atividades de desenvolvimento e de manutenção de equipamentos elétricos realizadas pelo professor Antônio Carlos de Oliveira e sua equipe. Pelo programa de desenvolvimento de protótipos do laboratório de eletrotécnica, já passaram cinco estagiários. Atualmente, outros três ajudam o professor. Estes, como seus antecessores, são pagos com bolsas do programa Jovens Talentos, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). Todos os estagiários saem capacitados a desenvolver projetos técnicos, do planejamento à execução, passando pela instalação e pelo acompanhamento.

Como resultado palpável, a iniciativa de Antônio Carlos, atual coordenador do laboratório de eletrotécnica, também produziu mais de 100 módulos didáticos. Qual seu destino? Equipar o laboratório.

Naturalmente, os módulos não funcionam sozinhos. Por isso, são criadas as atividades que os alunos devem realizar com os módulos, descritas nas folhas-tarefa, outra novidade introduzida pelo projeto.

Dessa forma a iniciativa desenvolvida pelo professor e sua equipe atinge dois de seus objetivos. Por um lado, supre a falta de equipamento didático específico. Por outro, apresenta aos alunos material pensado para ajudá-los a fazer a ponte entre a teoria e a prática.

O professor, desde 1997 no quadro da ETE Ferreira Viana, é engenheiro elétrico com 30 anos de experiência no setor eletroeletrônico, com licenciatura em matemática e pós-graduação em docência dos ensinos médio e superior. É daí que vem parte dos meios que ele usa no projeto, mas, e a outra parte, quem dá?

Origem dos recursos

Certa vez, entrevistando um ferreiro, ele me disse que a forja deveria ser a arte de Jesus Cristo, porque do velho se fazia o novo. Depois, que conheci o trabalho de Sebastião Barros, da Oficina de Kits e Divulgação Científica do Cederj, percebi que Jesus tinha outros companheiros nessa arte. Entre eles, com certeza está o professor Antônio Carlos.

O material que serve de base para os módulos iria para a sucata, se não fosse o professor. Alegre, ele mostrou motores elétricos com 50 anos ou mais que, depois de recuperados, são usados como matéria-prima dos módulos, bem como caixas com componentes eletrônicos retirados de equipamentos quebrados que, de outra forma, teriam ido para o lixo.

Naturalmente, a sucata não dá conta de todas as necessidades do projeto. Para conseguir recursos para a fabricação dos experimentos, os professores do laboratório se cotizaram. O próprio Antônio Carlos diz que, ele sozinho, colocou quase três mil reais no projeto, ao longo dos últimos três anos.

Mas o trabalho do professor vai além do desenvolvimento dos módulos. Há cerca de três anos, com recursos da Faperj, o laboratório de eletrotécnica está sendo reequipado. Entre os equipamentos que formam o laboratório de acionamentos está um controlador lógico programável, que simula sistemas de automação industrial. A instalação desses equipamentos no laboratório foi feita com auxílio dos professores.

O próximo objetivo é um equipamento de simulação virtual, parte de amplo processo de reforma da infraestrutura do laboratório. Aprovado pela Faperj em dezembro e a espera da liberação dos recursos, o projeto prevê a compra de 10 computadores onde serão desenvolvidas as simulações virtuais. Segundo o professor, com esse equipamento os alunos vão aprender a resolver problemas criados pelo computador em um circuito elétrico, dispensando gastos em matéria-prima.

- Esse equipamento é uma exigência da indústria que solicita profissionais capazes de resolver problemas. E como eles vão aprender isso? No simulador, empregando a teoria que aprenderam para resolver problemas reais.

Pode ser professor. Mas mesmo antes desse laboratório chegar, seus alunos já aprenderam o fundamental com o senhor, com seu exemplo, com seu entusiasmo e com sua dedicação.

22/8/2006

Publicado em 22 de agosto de 2006

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