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Versos que circulam

Hilan Bensusan

Faço versos de manhã
quando acordo deslumbrado.

Alguns versos faço sozinhos,
outros surgem de montão.
Quando os versos são sozinhos
somem dentro entre os neurônios,
que correm mais do que os versos
e que carregam as palavras,
que andavam todas grudadas
por uma enorme inspiração,
pelos cantos da cabeça
ou as deixa no coração.

No coração não há nada,
só veias e barulhos.
Ficam os versos desmilinguidos
esperando outros neurônios,
de outra manhã deslumbrada,
levarem-nos de volta à casa
abraçar alguma irmã.

Os versos que surgem em muitos,
ponho-os fora no papel;
pelo Letes corriam neurônios
e eles arrancam versos da mão.

Ficam os versos espalhados
entre os cantos do papel.
No papel não há nada,
só tintas e linhas brancas.

Ficam os versos e seus sentidos
esperando outros neurônios
que puxem versos do papel.
Só assim por fundos sulcos
eles correm soltos entre ideias,
viram corpos dentro de almas,
apontam para gentes, lugares e tempos,
saem ao léu mas cheios de planos
vão a passeio de manhã.

Pubicado em 29/8/2006

Publicado em 29 de agosto de 2006

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