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Os gêneros de texto
Maria do Carmo Procaci Santiago
Como distinguir e compreender os diferentes gêneros de texto?
É muito importante o aluno ter contato com os diferentes gêneros textuais e para esse trabalho dar certo é preciso levar para a escola o repertório e os produtos da cultura local, que às vezes nós discriminamos. A receptividade do professor é um ponto essencial, é preciso ter flexibilidade para trabalhar usando os diferentes tipos de texto.
O principal investimento deve ser a formação sistemática, a sedimentação de novas práticas de ensino. É esse trabalho de formiga que muitos fazem: oferecer materiais de apoio, discutir a prática, analisar resultados para aprimorar o trabalho em sala de aula. Não se trata apenas de ensinar o gênero, mas pensar "no que ensinar" por meio do gênero. Por exemplo, se o foco do meu trabalho é a capacidade de argumentação, tanto posso propor um debate sobre racionamento de água, como uma discussão sobre arbitragem no futebol. O fundamental é que o aluno aprenda a negociar, contra-argumentar e tomar posição.
Li que vários países têm como objeto de ensino o gênero. Os currículos são organizados privilegiando a Língua em uso. Eles vêm atender à crescente exigência de letramento no mundo.
Até a década de 1980 era possível focar um trabalho com textos mais escolares e literários. Com as novas tecnologias e as mudanças no mundo do trabalho e das comunicações em geral, torna-se necessário uma variedade muito maior de conhecimento de gêneros do que naquela década, pois já não bastam as noções de tipo de texto e gramática que tínhamos até então. Hoje é preciso ter conhecimento do gênero, formar os alunos para o uso da Língua.
Que Gêneros Textuais ensinar? Isso vai depender muito da cultura local. No mundo atual, por exemplo, o gênero digital vem ganhando cada vez mais espaço. Mas dar essa resposta, sem considerar a realidade de cada canto do Brasil, poderia condenar muitas comunidades a uma situação de exclusão. É preciso conhecer a cultura em que a escola está inserida para pensar num projeto voltado para essa comunidade. Isso inclui mapear os níveis de letramento dessa comunidade: as pessoas leem o quê? Utilizam a leitura para quê? E muitas vezes a escola está distante, não valoriza e até discrimina a realidade, a cultura do lugar. O trabalho fica aborrecido, provoca indisciplina, desistência e resistência.
Os alunos, embora estejam dentro da mesma sala de aula, sentem-se literalmente excluídos. Uma maneira é abrir espaço para dialogar, levar em conta o ponto de vista do outro. Por exemplo: Quais os interesses dessa comunidade? O que faz de melhor? Rap?! Pode ser que você não aprecie o Rap, que não seja de sua geração, mas há letras que têm um apelo poético bem interessante. Assim, é possível aproximar os alunos de outras letras de música, de outros poemas, da literatura e, dessa forma, ampliar seu repertório. E o repertório do professor faz toda diferença. Se o professor não lê jornais, revistas e livros de literatura, com regularidade, isso dificulta o domínio dos gêneros que circulam nesses portadores. É essencial ser usuário frequente da leitura e da escrita, rever valores e conhecer as peculiaridades da cultura local.
Temos os chamados "gêneros jornalísticos", por exemplo, notícias, editoriais e reportagens; os "gêneros jurídicos", como as leis, as petições e os estatutos, e os "gêneros literários" que podem ser agrupados numa mesma "família" e produzidos para o entretenimento dos leitores por autores que são verdadeiros artistas. Entre eles estão os romances, os poemas, os contos, as narrativas policiais, as crônicas e etc.
Além desses campos de conhecimento mais formais, a cultura popular possui gêneros constituídos ao longo de séculos e transmitidos boca a boca entre as gerações familiares, como cantigas de ninar, de roda, contos, fábulas, lendas, adivinhas e muitos outros.
Como todas as formas de linguagem nascidas nas diferentes situações de comunicação são gêneros, podemos dizer que também são gêneros de texto as conversas familiares e as conversas de bar. Estes últimos são marcados pela informalidade das situações de comunicação em que são produzidos.
Digo que, quanto mais gêneros dominarmos e levarmos nossos alunos a se conscientizarem de seus variados tipos, convivendo com eles no dia-a-dia, maior será nossa capacidade de comunicação, nosso desenvolvimento pessoal e nossa capacidade de exercer a cidadania.
Publicado em 12 de setembro de 2006
Publicado em 12 de setembro de 2006
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