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Tempo de ascensão
Cláudia Dias Sampaio
O som de turbina de avião se mistura ao burburinho dos visitantes, a sensação é de que algo especial está para acontecer. Uma fumaça diáfana se alonga em direção ao cume da rotunda e, incansável, se transforma a cada movimentação dos corpos presentes naquele espaço. A dinâmica entre esta interferência e a percepção que a acompanha talvez seja o caminho para pensarmos sobre a inexplicável vibração que emana da exposição Ascension, primeira individual do artista plástico Anish Kapoor no Brasil.
Mergulho dentro de si
Já não basta contemplar a obra e deleitar-se com formas harmônicas e confortáveis aos sentidos. A Arte Contemporânea cria uma desordem entre o que imaginamos e o que somos capazes de entender. As esculturas de Anish Kapoor são da ordem desse abismo perturbador. O sofisticado conhecimento da tecnologia e da arquitetura aliado à sensibilidade, que nos remete às suas origens orientais, permitem que Kapoor manipule materiais pesados, como o aço e o inox, com a mesma sutileza de quem extrai poesia do movimento espectral da fumaça. É nesse lugar entre peso e leveza, oriente e ocidente, espírito e matéria que se localiza a arte deste artista indiano, naturalizado inglês. A interseção entre o ancestral e o cosmopolita surge a partir da forma pela qual o artista trabalha o tempo. O esmero que o leva a passar cinco anos polindo uma obra, se reflete no tempo diferenciado que as obras, naturalmente, impõem ao público mais sensível. O convite à interação é irresistível, mas, diferente dos parangolés de Hélio Oiticica, a ludicidade das obras de Kapoor é da ordem de algo íntimo, quase espiritual, um mergulho dentro de si.
Moderno e ancestral
Anish Kapoor é um dos mais importantes escultores da atualidade. São de autoria dele esculturas gigantescas expostas em parques da Europa e Eua. Situado no Millenium Park, em Chicago, Cloud Gate é considerada a obra pública mais cara do mundo assinada por um artista vivo. A obra de Kapoor está, também, nas coleções das galerias Tate Britain e Tate Modern (Londres), do Museu de Arte Moderna de Nova York, do Palacio Velázquez e Centro de Arte Reina Sofia (Madri) e do Stedelijk Museum (Amsterdam). São dezenas de exposições individuais na Europa, Ásia, Oceania, EUA, Canadá. Ascension é a primeira exposição de Kapoor em um país latino-americano.
Ascensão: novos tempos
Quando esteve no Rio, Kapoor preparou uma obra especialmente para o CCBB, feita com cinco toneladas de uma cera especial vermelha e uma divisória de madeira com 10 metros de comprimento. A intenção era revelar a dificuldade intrínseca ao ato de dividir. Era visível, pelas marcas da cera no chão, a interferência do homem e o esforço brutal que havia sido feito para vencer a resistência da cera e da estrutura.
Ascension nos desperta algo especial: uma inexplicável alegria de ver nossos sentimentos mais íntimos transfigurados em objetos gigantescos e resplandecentes. Ao observarmos nosso reflexo neles, é como se, de certo modo, nossos sonhos belos e terríveis se concretizassem.
Após deixar o Rio de Janeiro, a exposição segue para o CCBB Brasília (12 de outubro de 2006 a 07 de janeiro de 2007) e CCBB São Paulo (29 de janeiro a 01 de abril de 2007).
Com a colaboração dos artistas plásticos: Salmo Dansa, Fernando Mendonça, João Ferraz e Ana Paula Cardoso.
Leia mais:
- Entrevista com Anish Kapoor
- Considerações sobre a pele. Artigo de Agnaldo Farias
- A arte e sua relação com o espaço público. Ensaio de Agnaldo Farias para o Portal da Educação.
Ficha técnica da exposição:
- Título: Ascension
- Autor: Anish Kapoor
- Gênero: Artes Plásticas
- Produção: Mag e Rede Cultural Produções Edições Ltda.
Publicado em 19/9/2006
Publicado em 19 de setembro de 2006
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