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O segredo das aranhas marrons
Belmiro Wolski
Não sei se alguém já escreveu algum artigo sobre aranhas. Não um trabalho científico, mas alguma crônica, banalidades. Sei lá, pode parecer de mau gosto. Afinal, muita gente tem medo, alguns sentem nojo e outros, pânico, frente ao aracnídeo.
A verdade é que é um belo animal. E quantas espécies diferentes. Tem umas que até andam na água, como Jesus andou. E são muito rápidas. Tem outras que fazem um túnel na terra e o revestem com sua teia, algo denso como um tecido de algodão. A entrada tem um diâmetro maior, como uma tuba. Ficam entocadas à espreita de suas presas e usam apenas sua agilidade para capturá-las.
E por falar em teia, que obra de engenharia! Uma vez vi uma que estava ancorada em galhos em margens opostas de um riacho. Procurei, mas não encontrei nenhuma passagem que tivesse servido de ponte para o bicho cruzar o rio. Será que atira as teias a tal distância? E a simetria? Quanta perfeição!
Tem aranhas com estranhos hábitos, como a viúva negra, por exemplo, que come o seu parceiro logo após a cópula. Algumas carregam consigo seus ovos encapsulados em uma enorme bola, maior que seu ventre. E aquela que exala aquele fedor terrível quando agredida?
Tem até aranhas bonitas, coloridas. Já vi uma bem amarelinha e outra verde fosca. Tem umas estranhas. Outro dia até fotografei na parede da garagem. Tinha o corpo bem pequeno, mas as pernas enormes. Algo desproporcional mesmo. E tinha só sete pernas. Comentei com meu dentista e ele me disse que aranha é como lagarto. Quando em perigo, ele solta o rabo (rabo, sinônimo de cauda). A aranha, diz ele, solta a perna, que depois se regenera. Diz ele ter visto uma com a perna em crescimento. Não procurei averiguar a veracidade da informação.
Existe uma pequena aranha, pouco maior do que uma mosca. Voraz predadora. Anda pelo chão ou pelas paredes à caça de moscas. Dia desses tentei ajudar uma, oferecendo-lhe uma mosca tonteada. Refugou minha oferta e, na minha frente, num bote certeiro, apanhou uma mosca bem esperta. É como se debochasse de mim dizendo: - Não preciso de sua ajuda!
E as simpáticas e ágeis aranhas de jardim? Parece que estão sempre sorrindo. Contrastam com as carrancudas e lerdas caranguejeiras. Mas tem uma que é a minha favorita. A majestosa e imponente aranha armadeira. Impõe respeito a qualquer um. Veneno letal. É diferente das outras, cujo contorno pode ser inscrito em uma circunferência. A armadeira requer uma elipse. Sua posição de ataque, com as penas dianteiras levantadas são sua marca registrada. Há algum tempo me deparei com uma em um saco de quirera que ia pegar para dar aos meus boizinhos. Quase a toquei. Era uma aranha enorme. A maior que já vi. Deixei-a ir embora. Saiu se esgueirando pelos paus e se entremeou a uns tijolos velhos. Sorte que minha esposa não estava junto. Teria tido um filho, ali mesmo. Odeia aranhas.
Mas a mais intrigante, com certeza, é a aranha marrom. Bicho detestável. É a única que eu não suporto. E creio não estar sozinho. Pelo menos nunca vi um ambientalista defendendo os direitos da aranha marrom. Muito menos ativistas, engajados em campanhas do tipo: "Salvem as aranhas marrons". Acho que são mesmo personas non gratas, ou melhor, aracnídeos non gratos.
Tenho duas teorias a respeito das aranhas marrons. A primeira é que são seres extremamente inteligentes provindos de uma civilização extraterrestre avançada. Estão concentradas numa estação orbital, de onde se teletransportam diretamente para os tetos e paredes de nossas casas para nos espionar. Sim, pois elas surgem do nada. De repente, lá estão elas caminhando lentamente no teto, ou aninhadas embaixo do travesseiro. Escolheram o sul do Brasil como base de operações e laboratório vivo. Sei até de onde elas vêm. Seu planeta de origem é Aracnius, recentemente descoberto na sinistra constelação de Octopatus. São praticamente indestrutíveis. Com suas poderosas ondas mentais, confundem nosso cérebro, fazendo-nos acreditar que as esmagamos com o chinelo. Pura ilusão. Elas continuam lá, vivinhas da silva. Afinal, de onde você acha que vem tanta aranha marrom? Se a cada chinelada, matássemos uma, não teria tantas delas por aí.
E o seu veneno? Na verdade não é veneno. É um composto que nos injetam para testar nossa reação às suas poderosas armas químicas. É tudo parte do plano de invasão. Outro dia uma se teletransportou, não sei se por erro de coordenadas ou de propósito, diretamente na cabeça da minha filha. Dias depois, outra se materializou no pescoço da minha esposa. Felizmente não tiveram tempo de injetar seu composto macabro.
Tenho um palpite que logo iniciarão seu ataque. Soarão trombetas e nos quatro cantos do mundo milhares de naves espalharão suas letais bombas químicas. Não teremos nenhuma chance. Depois, ocuparão todas as nossas casas e apartamentos onde poderão viver tranquilas, sem as incômodas chineladas.
Minha segunda teoria é que são daqui mesmo. E são extremamente burras. Aceitam passivamente todas as agressões gratuitas. Não são partidárias da máxima que diz que violência gera violência. Mas estão evoluindo. Dentro de no máximo dois milhões de anos terão mudado completamente. Passarão de caça a caçador. Serão seres extremamente agressivos, dotados de asas para mais facilmente nos perseguir. Voarão a velocidades supersônicas e serão capazes de manobras tão radicais que jamais conseguiremos capturar uma só que seja. Viverão exclusivamente para nos caçar, por puro prazer e instinto de vingança. Seu grande trunfo será sua capacidade de lançar seu veneno a dezenas de metros de distância com extrema precisão. E este, de tão letal, bastará nos atingir para que derretamos, como o Nacional Kid fazia com os incas venusianos (esta é para maiores de 45 anos).
Enfim, qualquer que seja a teoria correta, estamos fritos. Por isso, comece hoje mesmo sua jornada contra esses bichos nojentos. Morte à aranha marrom, enquanto podemos. E vivam os humanos!
Publicado em 17 de outubro de 2006
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