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Misto de ficção e documentário

Karla Hansen

Imagens tremidas e entrecortadas mostram um grupo de pessoas atravessando a fronteira do México para os Estados Unidos. Eles correm pelo meio do mato, uma espécie de cerrado brasileiro, sendo "tocados" como bichos pelos "coiotes" - homens que intermediam a travessia ilegal. Logo se percebe que esta é uma corrida de vida e morte.

No meio do grupo, se destaca uma mulher mexicana jovem e forte. Ela é Maya, protagonista de "Pão e Rosas", um filme excepcional, que sem ser panfletário faz uma denúncia pungente às armadilhas do sistema capitalista, nesse início de milênio, ao revelar a exploração do trabalho de imigrantes num país rico como os Estados Unidos.

O filme do diretor inglês Ken Loach (de "Terra e Liberdade" e "Uma Canção para Carla", entre outros) é a prova de que a luta de classes continua firme e forte, ainda que alguns considerem "ultrapassado" fazer uso dessa expressão cunhada e decantada pelo marxismo. Do ponto de vista do gênero, "Pão e Rosas" é um misto de ficção e documentário, desde o tratamento das imagens, sem qualquer "maquiagem", até o próprio enredo da trama, que conta uma história ficcional com base em fatos reais observados pelo diretor e seu roteirista quando estes estavam em Los Angeles divulgando o filme "Terra e Liberdade".

Pois bem, Maya chega a seu destino, graças a seu forte instinto de sobrevivência, que a livra de ser violentada por um dos "coiotes", e se hospeda na casa de sua irmã, Rosa, que já vive nos EUA há muitos anos e tem cidadania por ser casada com um americano.

Em pouco tempo, Rosa consegue uma vaga para Maya na mesma empresa - de limpeza de edifícios comerciais - em que ela trabalha. Lá, Maya descobre que terá que pagar seu primeiro salário ao gerente e que se trata de um trabalho temporário, sem qualquer garantia. Junto com ela há uma pequena legião de imigrantes, a maioria de latinos - mexicanos, equatorianos, guatemaltecos - e até uma russa.

Na empresa, Maya conhece Sam, ativista americano cujo objetivo é conscientizar os trabalhadores da limpeza a lutarem por seus direitos junto ao sindicato dos "faxineiros". Eles têm um rápido encontro quando Sam entra clandestinamente no prédio a fim de fazer contato com os trabalhadores, é perseguido pelos seguranças e consegue escapar com a ajuda de Maya. A partir daí se estabelece um laço entre os dois e, através de Maya, Sam consegue uma reunião secreta com o grupo de empregados da empresa de limpeza para explicar-lhes a estratégia de luta.

É somente com o ideal "a união faz a força" que os trabalhadores se engajam na campanha por direitos trabalhistas, a começar por maior visibilidade, já que, como diz um dos personagens, o uniforme os torna invisíveis. Para isso, no entanto, eles têm que enfrentar resistências internas ao grupo e até traições, o que é potencializado quando ao risco da perda do emprego se soma o medo de serem expulsos do país.

A história poderia ter se passado em qualquer época e em qualquer lugar do mundo, desde a Revolução Industrial até os nossos dias. Pois ela se repete, com os mesmos ingredientes, pelo menos, estruturalmente. Por essa razão, o filme é universal e até didático, no sentido que exemplifica de forma clara e objetiva, como se dão as relações entre o capital e o trabalho neste tempo de globalizadores e globalizados.

Para o professor que se interessar em trabalhar com seus alunos este filme, recomendo uma página da MultiRio que propõe uma atividade em sala de aula.

"Colocando a globalização em julgamento"

Ficha técnica do filme:

  • Título: Pão e Rosas
  • Direção: Ken Loach
  • Gênero: Ficção
  • Produção: Diversos estúdios

Publicado em 31/10/2006

Publicado em 31 de outubro de 2006

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