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Sylvia Orthof
Luiz Alberto Sanz
Me resvalo em pensamento e lembrança
Virei Criança
Saí em busca de um poeta com coração de criança. Há alguns, não demasiados, nem bastantes. Mas, sem dúvida, a saudosa dramaturga, poeta e contista Sylvia Orthof, que nunca devia ter-nos deixado, é um dos mais belos exemplares desse tipo de coração. E fui encontrar seus últimos poemas em www.docedeletra.com.br , a revista eletrônica de meus amigos Davide Mota e Rosa Amanda Strauzs, dedicada a crianças e jovens. Eram ainda anotações, não totalmente revistas, testamentos de quem pode, com segurança, declarar: "Virei criança".
À Sylvia Orthof a saudação de um leitor que na juventude – já como crítico – aprendeu a amar e apreciar seu teatro. A Davide e Rosa agradeço esta chance de repassar o que é belo e eterno.
Sylvia Orthof, últimos poemas
Estes poemas foram encontrados por Claúdia, filha de Sylvia Orthof, na bolsa de sua mãe. Estavam num bloquinho, desses de anotar recado de telefone e tudo indica que foram escritos no hospital, pouco antes da morte da escritora.
Se eu me for
vou de bagagem
sem ter mala
e compromisso.
Vou de anjo,
sem ter asa,
vou morando,
sem ter casa.
Vou medir
o infinito.
Hoje sou mais ontem
e me resvalo
em pensamento
e lembrança.
Virei criança.
Passarinho,
passarinho,
asa de vento
e plumagem,
bico feito de cantiga
me livra desta gaiola
que tem palavra
e linguagem!
A cor do tempo
é aguada,
cor de neblina
e azul.
A cor do tempo
usa óculos,
requebra
numa bengala.
A cor do tempo
é sem cor,
parece filme
antigo.
É um tom
de pianola
ou talvez
de violino.
A cor do tempo
é sem tempo.
E o sem tempo
é a cor que desbota
num "me lembro"
e acaba
em esquecimento
aonde for.
A saudade
é coisa à toa:
avoa!
A saudade
é coisa tanta:
espanta!
Nota Biográfica
Sylvia Orthof Geostkorzewicz (Rio de Janeiro RJ, 1932 - Petrópolis RJ, 1997). Fez cursos de mímica, desenho, pintura, arte dramática e teatro na escola Educação pelo Teatro, em Paris (França), entre 1950 e 1952. Nos anos seguintes foi atriz, no Teatro Brasileiro de Comédia e em telepeças na TV Record. Em 1954 participou no filme O Gigante de Pedra, de Walter Hugo Khouri. No período de 1956 a 1960 trabalhou no desenvolvimento de teatro de bonecos com crianças e de teatro com pescadores em Nova Viçosa BA. De 1960 a 1964 foi professora de teatro na Universidade de Brasília (DF), onde trabalhou na montagem de um teatro universitário. Na época, dirigiu o programa teatral de bonecos Teatro Candanguinho, na TV Brasília. Em 1975 ocorreu a fundação da Casa de Ensaios de Sylvia Orthof, no Rio de Janeiro, exclusivamente dedicada a espetáculos infantis. Em 1981, publicou seu primeiro livro infantil, Mudanças no Galinheiro Mudam as Coisas por Inteiro; até 1995, lançou cerca de 120 livros para crianças. Recebeu o Prêmio Jabuti de Literatura Infantil, pelo livro A Vaca Mimosa e a Mosca Zenilda, em 1983, e o Prêmio Ofélia Fontes, pela coleção Assim é se lhe Parece, junto com Angela Carneiro e Lia Neiva, em 1995. Sylvia Orthof é uma da mais importantes escritoras da literatura infantil brasileira. Sua obra poética, dirigida a crianças, inclui os livros Se as Coisas Fossem Mães (1984), Ponto de Tecer Poesia (1987) e A Poesia É uma Pulga (1992), entre outros.
Fonte: Itaú Cultural Panorama Poesia e Crônica
Publicado em 19/12/2006
Publicado em 19 de dezembro de 2006
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