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Mário Quintana

Luiz Alberto Sanz

Diálogos Poéticos

Voando para o colorido da vida

Quando preparo esta mensagem, caminho por um declive. A lógica (observar para onde se caminha) puxa meu olhar para baixo, mas lá não há horizonte, só o fundo da depressão. Já é noite, as cores se esvaíram, primeiro na penumbra, depois nas trevas. O olhar é atraído para o leve lilás que ainda persiste acima das montanhas. Quer luz, quer cores.

Assim, escolho os poemas que sairão das gaiolas esta madrugada, livrando da poeira as asas. Versos que buscam o colorido da vida, arejando as feridas, cicatrizando as chagas. Falar assim, é falar de Mário Quintana, cuja poesia - dizendo poesia, digo ethos - tanto apavorava os acadêmicos que estes jamais o aceitaram em seu clube fechado, ali na Esplanada do Castelo. 

Em 30 de julho passado, Mario de Miranda Quintana teria cumprido 100 anos, não tivesse comparecido ao encontro com a morte em 5 de maio de 1994, em Porto Alegre.

Do gaúcho, de Alegrete, que amava a solidão e a ironia, conhecido como o poeta das coisas simples, começo recolhendo poema que Rosana Zucolo enviou-me no começo de setembro (penso, só agora, será que não foi esse o mote para que, três dias depois, eu me lançasse aos "diálogos poéticos"?):

Inscrição para uma Lareira

A vida é um incêndio: nela
dançamos, salamandras mágicas...
Que importa restarem cinzas
se a chama foi bela e alta?
Em meio aos toros que desabam,
cantemos a canção das chamas!
Cantemos a canção da vida,
na própria luz consumida...

Embarco em seus versos nessa viagem verdadeira da qual Maria do Carmo Cabral me lembrou em sua tese "Encontros que nos movem", citando A Verdadeira Arte de Viajar, ao dizer: 

Segundo Deleuze o escritor vive à espreita. Mario Quintana (1989) traduz muito bem essa atitude de estar no mundo à espreita, de "alma aberta", quando escreve:

A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,
Como se estivessem abertos diante de
nós todos os caminhos do mundo.

Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali...
Chegamos de muito longe,
de alma aberta e o coração cantando!

Por se colocar à espreita e por sua sensibilidade, o escritor é capaz de andar pelos vários caminhos do mundo e de ver e ouvir, nessas andanças, coisas excessivas, que o desgastam (Deleuze, 1997). Consegue captar mistérios, entrar em contato com os interstícios, com a respiração do mundo. Tudo isso o cansa, o ameaça, o afeta. Por sua saúde, para continuar vivendo, ele escreve.

Acrescento mais um poema, exercício sobre as próprias palavras e o amor que as incendeia, buscado no sítio Releituras (http://www.releituras.com/):

Eu queria trazer-te uns versos muito lindos

Eu queria trazer-te uns versos muito lindos
colhidos no mais íntimo de mim...
Suas palavras
seriam as mais simples do mundo,
porém não sei que luz as iluminaria
que terias de fechar teus olhos para as ouvir...
Sim! Uma luz que viria de dentro delas,
como essa que acende inesperadas cores
nas lanternas chinesas de papel!
Trago-te palavras, apenas... e que estão escritas
do lado de fora do papel... Não sei, eu nunca soube o que dizer-te
e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento
da Poesia...
como
uma pobre lanterna que incendiou!

E encerro com:

Das utopias

Se as coisas são inatingíveis... ora!
não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
a mágica presença das estrelas!

Saudações a todos, mesmo que as nuvens ainda ocultem as estrelas.

Publicado em 02/01/2007

Publicado em 03 de janeiro de 2007

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