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A incrível história de como o homem dominou a madeira e fez figuras

Leonardo Soares Quirino da Silva

Na cultura popular brasileira, a arte de imprimir gravuras em pranchas de madeira – a xilogravura – está associada à literatura de cordel. Foi o baixo custo desta técnica que permitiu aos cordelistas ilustrar suas histórias. Na esteira desse barco surgiram artistas que souberam criar um estilo próprio que define o gênero.

Como o cordel, esta técnica veio da Europa. Ela está na origem da reprodução de imagens,  na arte de criar imagens reproduzíveis. A xilogravura surgiu na China há pelo menos dois mil anos e está associada à invenção do papel e ao desenvolvimento da imprensa.

Todavia, antes das técnicas para fabricação do papel chegarem à ponta ocidental da Eurásia, pode-se dizer que a xilogravura era um personagem à procura de um autor. Até então, o principal meio disponível era o pergaminho, feito com a pele de animais. Apesar da grande durabilidade, seu processo de preparação era lento, caro e complexo. A Bíblia de Gutenberg ainda foi impressa sobre esse suporte. Para cada unidade produzida pelo gráfico alemão era necessária a pele de 300 ovelhas. Isso mudou com a fabricação em larga escala do papel, a partir do século XIV.

Cordel e xilo

A impressão de histórias de cordel no Brasil começou no final do século XIX, tendo como pioneiro – e maior autor do estilo – o poeta paraibano Leandro Gomes de Barros. Segundo a dissertação de Luli Hata, as primeiras capas dos folhetos tinham apenas vinhetas, impressas ou não, com o uso de xilogravuras.

Ainda segundo Hata, foi na década de 1910 que começaram a aparecer ilustrações, sendo algumas produzidas pelo método xilográfico. A autora observa que naquela época esse método estava em desuso por ser mais caro que as matrizes em metal. Estas foram usadas pelo principal editor dos anos de 1920 a 1940, João Martins de Athayde.

No final de 1940, quando Athayde vendeu seu acervo para José Bernardo da Silva, da Tipografia São Francisco, de Juazeiro do Norte (CE), as matrizes estavam desgastadas demais para servirem de base para a produção de novas matrizes em metal. Desde 1925, Silva recorria a artistas locais para produzir xilogravuras para ilustrar seus folhetos.

Pela leitura do trabalho de Hata, foi na gráfica de Juazeiro do Norte que começou a surgir a xilografia que hoje associamos ao cordel. Primeiro, com artistas que trabalhavam para a Tipografia São Francisco, por razões de custo. Depois, alguns poetas aprenderam a arte e passaram a ilustrar eles mesmos seus trabalhos. Por fim, a “descoberta” dessa arte por turistas, intelectuais e marchands do Centro-sul, nos anos 50 e 60, impulsionou-a ainda mais.

Nesta fase, a xilogravura nordestina é alçada a condição de forma de expressão artística tradicional. Ela coincide com a queda nas vendas dos folhetos, quer pela perda de poder aquisitivo, quer pelo aparecimento de formas alternativas de comunicação.

É nesse período que surgem os gravuristas José Francisco Borges (J.Borges) e José Cavalcanti Ferreira (Dila). Uma relação de artistas com biografias curtas pode ser encontrada na página da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC).

Publicado em 10 de abril de 2007

Publicado em 10 de abril de 2007

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