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Perspectivas da educação para um mundo melhor
Ivone Boechat
Os maiores dragões do Século XXI, a má utilização da informação e do som, já começam a se refletir na educação do imaginário da humanidade: os homens pensam que o mundo está um caos, tornam-se retransmissores de tudo o que é ruim e aí os transtornos de comportamento vão se instalando e interferindo, profundamente, na harmonia e no bem estar da sociedade global. O jornalismo de grande parte do Planeta especializou-se em selecionar notícias trágicas. Há muitas pessoas viciadas na droga da violência.
O século XXI chegou distribuindo controle remoto, sites, games, pílulas da felicidade, reposição hormonal e de órgãos... Os cientistas prometem abrir o "livro da vida", curar a maioria das doenças e melhorar sensivelmente a qualidade de vida. Já foi descoberto o segredo de contra-ataque aos radicais livres e criada a dieta antiferrugem. Pode-se viver melhor e mais, porém, o avanço da ciência permitiu que se globalizasse o mal, quase com exclusividade de tempo e espaço.
As neuroses – resultado da leitura equivocada das experiências vividas – evoluíram com o homem. Nunca, como hoje, em toda a história da vida no Planeta, as emoções humanas foram tão evidentemente tocadas. No momento da seleção da notícia, optou-se por ver o mal, o feio, o indigno. Tudo isto sempre existiu, só que, hoje, em segundos, vê-se em cores, luzes e movimento. O mundo não está pior, está mais informado do pior. A humanidade vê expostos os analfabetismos e a pobreza. A pior guerra, e a que mais prejuízo traz à saúde humana, é a guerra de informações.Infelizmente, a seleção do fato obedece à prioridade das tragédias: quanto pior, melhor como “notícia”. Há pessoas viciadas, tomam e fazem questão de tomar uma overdose diária de notícias péssimas e há aquelas que já sofrem da síndrome de ausência da violência. Sofrem com a sociofobia desta nova era. O educador não tem como acabar com a violência. O que a educação pode fazer é ajudar a reduzir o gosto por ela.
O homem conquistou tudo o que sonhou e vive assustado com a dimensão da própria obra. A sociedade necessita de alfabetizadores para os múltiplos analfabetismos, urgentemente. É preciso ensinar ao homem desta Era, que ousa brincar tão ardentemente de Deus, a ler, interpretar e administrar as próprias emoções. Procuram-se digitadores da informática humana, técnicos capazes de ensinar a autoestimulação dos hormônios que formam o padrão químico do bem estar.
Fazer a leitura correta do momento em que se vive é inteligência. Os analfabetos virtuais confundem-se na multidão com todo tipo de analfabeto. São pessoas que não se adaptaram às mutações e não fizeram delas seu universo de felicidade. O futuro é hoje, o amanhã não existe e o passado não é o que passou, é o que ficou do passado.
As depressões e decepções daqueles que foram educados para viver, num tempo que já não existe, vão contaminando os que chegam à procura de paradigmas, de caminhos e soluções. Aqueles interferem e fazem tropeçar a geração atual.
Tudo hoje é rápido, perto e quase perfeito. Isto requer, lógico, pessoas preparadas para comandar as clonagens, a agricultura transgênica, o turismo espacial, as empresas transnacionais, as universidades virtuais, os transmercados da globalização, os transplantes, a comunicação já implantada e os que se prepararam para serem melhores, mais rápidos e perfeitos não têm do que reclamar.
Chega de reclamações. Este é o tempo. As pessoas que aí estão são as pessoas deste tempo. Os valores, os paradigmas, os parâmetros, os conceitos, as definições são como o caleidoscópio: depende de quem o movimenta.
É preciso a reciclagem constante do ser humano, principalmente, deste tempo, porque foi mudança demais em tão curto espaço. Ontem, alguns seres humanos ultradiscriminados “nem alma possuíam”, não podiam votar, não eram contabilizados, não eram batizados, nem registro de nascimento possuíam: não eram cidadãos. Hoje, participam, compõem, decidem, avançam, e muitos até se esquecem da importância dessas conquistas e se acomodam.
Faltam na sociedade profissionais com domínio de tecnologias novas, sobram “sacis” da informática, que só conhecem uma coisa e a usam mal: talvez um bando de ninguém, fazendo nada. A principal conquista deste novo tempo consiste no milagre do ser humano nunca deixar de se reconhecer como ser humano.
Em qualquer tempo, de qualquer era, o homem sobrevive pelo amor. Amor que se manifesta e se declara de muitas formas e maneiras. É preciso entender a linguagem do amor, porque o amor também evolui.
Há esperança. Pode-se plantar valores que vão fundamentar a educação capaz de tornar o mundo possível! Exige-se a presença de educadores. É possível reverter a posição dos olhares mundiais e iluminar tudo de bom, apontar para o conforto que se conquistou ao longo de tantas lutas na jornada percorrida pelos homens.
O futuro é hoje: chegar, alcançar, tomar posse e lamentar-se? Chorar? Claro que não. Os verbos mais adequados para qualquer Era devem ser: dominar-se, conviver, converter-se, repartir, amar-se e amar, comemorar as vitórias fantásticas do homem moderno. Ser moderno é ser feliz.
O perfil do educador que pode implantar a educação para um mundo possível é: competente emocional, gestor do tempo, gestor de informações, sentinela da verdade, líder, empreendedor, guardião das tradições brasileiras. Além, evidentemente, de estar sempre pronto para mudar, aprender, ousar, correr riscos.
Publicado em 10 de Abril de 2007.
Publicado em 10 de abril de 2007
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