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A invasão dos caramujos

Mariana Cruz

Vida útil
Dicas para simplificar a vida

O Trash-Movie real

O fato até que daria um bom título de filme B: O ataque dos caramujos africanos. A sinopse também seria perfeita: seres hermafroditas que transmitem doenças, contaminam lavouras inteiras, legumes, verduras, o solo e a água, alimentam-se de plantas ornamentais, culturas de subsistência e até de seus próprios semelhantes. Mas infelizmente não se trata da versão nacional dos Gremlins, aqueles bichinhos que aterrorizavam a meninada nos anos 80. São os achatina fulica, mais conhecidos como caramujos africanos. E não tem nada de ficção.

Gato por lebre

Originários do leste-nordeste da África, os primeiros caramujos aportaram por aqui na década de 1980 trazidos por comerciantes que queriam empurrá-los por nossa goela abaixo, como alternativa barata ao sofisticado escargot. Se a experiência tivesse êxito, os tais empreendedores de especiarias provavelmente estariam ricos (quem sabe degustando o autêntico escargot?), pois as generosas medidas do caramujo africano (tem em média 200gr e 15 cm de comprimento) correspondem a 6 vezes o tamanho de seu primo français.

Tá dominado, tá tudo dominado

O genérico decepcionou duplamente: além de não-comestível, era venenoso. Dois tipos de microorganismos perigosos são encontrados em sua secreção. Um deles é o Angiostrongytus costaricensis, causador da angiostrongilíase abdominal, doença que pode resultar em morte por perfuração intestinal, peritonite e hemorragia abdominal. O outro é o Angiostrongylus cantonensis, responsável por um tipo de meningite (sem registros no Brasil).

Os produtores, que não queriam mais arcar com os custos dos intragáveis moluscos, arrumaram um jeito prático de livrarem-se deles: simplesmente os jogaram nas matas, rios, lixos e terrenos baldios. Só não previram que tais locais eram ótimas residências para os falsos scargots, fãs de lugares úmidos e sombreados.

Devagar se vai longe

De lento, o caramujo africano só tem a locomoção Para se reproduzir é rápido e bastante fértil. Apesar de ser hermafrodita, cada indivíduo necessita de um parceiro para trocar os espermatozoides que utilizam para fecundar os óvulos que possuem. Após 4-5 meses, o caramujo já começa a se reproduzir. A cada postura são colocadas de 180 a 600 ovos. Em um ano ele pode chegar a fazer 4 posturas. Façam as contas.

Não bastasse isso, ainda são bastante adaptáveis a condições climáticas adversas. Viajam de trem, caminhões, navios, espalhando-se cada vez mais pelo nosso território.  

O êxodo rural dos caramujos

Enganam-se os que limitam a praga dos caramujos apenas ao âmbito rural. Em janeiro deste ano, o molusco, que antes incomodava apenas os diversos estados do país, as diversas cidades dos estados e diversos lugares da Zona Oeste do Rio de Janeiro, resolveu deixar seu rastro de secreção na Zona Sul da Cidade Maravilhosa. E, por fim, ganhou as manchetes dos jornais cariocas.

Medidas de prevenção

Posto o problema, vamos às soluções.

Em casa, é bom checar os cantos dos muros, locais úmidos, onde houver acúmulo de galhos, restos de poda, folhas, madeiras. Bem como restos de construção, entulhos e os tijolos furados. E se seu vizinho é desleixado e não está nem aí para a praga, pelo menos impeça que ocorra uma invasão em seu terreno: prepare uma mistura de sabão em pó e água, formando uma calda forte, e espalhe sobre o muro. Refaça esse procedimento a cada três semanas ou após cada chuva.

O contra-ataque da sociedade

Por enquanto ainda não foi inventado método para extermínio coletivo da espécie, nem uma forma eficaz que não cause danos ao meio-ambiente. Existem, contudo, soluções caseiras e eficientes para o problema.

Em primeiro lugar, é importante certificar-se de que se trata realmente do caramujo africano. Sua concha é marrom-escura e tem listras esbranquiçadas. Cuidado para não confundi-lo com o caramujo-da-boca-rosada ou o aruá-do-mato (Megalobulimus sp). Este último é um tipo de caramujo nativo brasileiro que não deve ser eliminado. O caramujo africano apresenta as bordas da concha afiadas e cortantes, enquanto o nativo apresenta bordas arredondadas.

O colunista Xico Vargas, em sua coluna na revista eletrônica "NoMínimo" nos ensina como acabar com a praga:

  • Ninguém deve tocar no caramujo (nem na concha) com as mãos desprotegidas;
  • Não se deve bater neles ou esmagá-los (isso só espalha contaminação e ovos);
  • Devem ser catados (um a um) com mãos enluvadas ou protegidas por mais de um saco plástico;
  • Depois de catados e reunidos podem ser incinerados ou jogados em algum recipiente com água e bastante sal (nesse último caso, dissolvem-se);
  • Morto o caramujo, as conchas não deverão restar inteiras, para evitar que juntem água da chuva, na qual o mosquito da dengue poderá depositar ovos;

O Ibama nos dá outra receita de extermínio seguro: ferver os caramujos durante 50 minutos ou então enterrá-los mortos dentro de sacos em valas de 80 centímetros, jogar cal virgem em cima dos caramujos e depois cobrir a vala com terra. Tais valas devem estar situadas em locais distantes de poços ou cisternas. 

A orientação da Defesa Civil da Prefeitura do Rio de Janeiro é para que os próprios   moradores façam o recolhimento dos moluscos. Sendo assim:

Uni-vos cidadão e mãos à obra, para que tudo não acabe em gosma!

Dúvidas, auxílio ou dificuldades na identificação dos caramujos africanos entre em contato com os serviços abaixo.

Telefones úteis:

  • Defesa Civil: 199/2576-5665
  • Centro de Zoonozes: 3395-1595 
  • Ibama - (61) 316-1654
  • Os órgãos podem ser acionados pelos telefones do Corpo de Bombeiros: 193

Sites úteis:

(Fontes: Xico Vargas, Ibama, Defesa Pública)

Publicado em 24 de abril de 2007.

Publicado em 24 de abril de 2007

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