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Educação a distância: quanto mais longe, mais perto

Mariana Cruz

Entrevista com Dr. Daniel Sigulem

Muito se especula sobre o deslocamento da montanha até Maomé, mas poucos questionam as razões de Maomé não ter ido à montanha. Sabe-se lá se ele não tinha meios de transporte para tal? Se a montanha era de dificílimo acesso? Se Maomé não tinha condições financeiras para arcar com uma viagem até a montanha? Por incrível que pareça, às vezes, o mais viável é mesmo a montanha ir a Maomé, como acontece quando o assunto é educação a distância.

O surgimento do browser, em 1993, foi um impulso para que 2 anos depois os primeiros cursos da EAD de saúde, na UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), fossem implantados. Ela foi a primeira instituição a adotar a educação a distância para cursos de saúde no Brasil. O EAD, antes feito pelo correio, migrou para o mundo virtual. Com a informatização, houve um grande aumento do formato no Brasil que, de 2005 para cá, ampliou o número de alunos em mais de 30%. Hoje, em nosso país, temos mais de um milhão de estudantes matriculados em disciplinas não-presenciais.

O professor titular em informática da Saúde, Dr. Daniel Sigulem, alerta que nesta modalidade de ensino, apesar das imensas vantagens que ela oferece, quem pensa que vai trilhar um caminho mais fácil do que o do ensino presencial está redondamente enganado. O aluno de EAD tem de se empenhar, e muito, como deixa claro na entrevista dada ao Portal da Educação Pública, que reproduzimos abaixo.

Quais as vantagens da educação a distância em relação ao Ensino presencial?

A EAD dá a possibilidade de estudantes que moram em locais distantes estudarem em bons centros educacionais. Imagina o quanto não iria gastar um estudante que morasse do outro lado do país para vir fazer uma universidade em São Paulo? Passagem, estadia, afastamento do seu trabalho ou convívio, tendo que se mudar de estado. Assim, a EAD congrega alunos dos mais variados rincões.  Por exemplo, aqui na UNIFESP Virtual nós temos alunos de praticamente todos os estados brasileiros. Nos últimos três anos formamos mais de 16 mil pessoas a distância. Imagina o gasto que tais alunos teriam para ter suas aulas presencias? Outra vantagem: o aluno estuda a hora que quer ou que pode, permitindo aos madrugadores estudarem no seu horário preferido, aos notívagos, o estudo nas altas horas da noite. E pelo lado da universidade, imagina o número de sala de aula que teríamos que ter para abrigar todos esses alunos que fazem nossos cursos a distância? Nada sai de graça. Por outro lado temos que ter uma equipe de gente trabalhando, em uma estrutura digital sólida, bons conteudistas, webdesigners, pedagogos e técnicos. Assim, é necessário ter bom conteúdo, boa tecnologia, uma cuidadosa seleção de alunos.

Como deve ser o aluno da EAD?

Nem todos têm o perfil próprio para educação a distância. Existem testes que podem ser aplicados para avaliar se o aluno irá se adequar ou não. Aqueles que são mais passivos, que esperam receber tudo mastigadinho, dificilmente se adaptarão ao ensino a distância. Para ser um aluno a distância, ele terá que buscar informação, estudar, formalizar dúvidas, ir atrás das soluções. Não é mais aquele aluno que fica quieto na carteira, ou dormindo em sala de aula. O aluno na EAD deve ser um buscador, ele tem que ter uma postura ativa. A EAD é mediada por um modelo pedagógico, assim o professor também terá que ter a sua postura modificada. Ele passa a ser um mediador do processo de aprendizado e não um transmissor daquilo que o aluno apreender.

Há quem aponte que o ensino a distancia limita a relação entre os alunos. Qual a posição de vocês sobre isso?

Sobre a questão da falta de convivência dos alunos, isso não é verdade, pois no decorrer do curso os alunos vêm realizando trabalhos colaborativos. Discutem, trocam informações, bibliografias, e experiências. A proximidade que criam entre si é notada quando eles se encontram para a realização das provas presenciais que são aplicadas de quando em quando, por exigência do MEC. Nós temos filmado estes encontros. Quando se encontram pessoalmente é como se sempre tivessem convivido, tamanha é a aproximação ocasionada pela relação que constroem na rede. Parece contraditória, mas a convivência é mais intensa a distância do que no ensino tradicional.

Em uma turma de 50 alunos, por exemplo, quando o professor pergunta à classe se alguém tem dúvida, às vezes, um ou dois expõem suas dúvidas, outras vezes nem isso. No ensino a distância, os alunos ao estudarem se defrontam com muitas dúvidas e assim interagem muito mais intensamente com o professor e entre eles mesmos. O país, atualmente estimulado pela Secretária Nacional de Educação a Distância, está começando a acompanhar o que acontece no mundo, onde esse tipo de educação já é, há muito tempo, praticada.

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Publicado em 2 de maio de 2007

Publicado em 02 de maio de 2007

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