Este trabalho foi recuperado de uma versão anterior da revista Educação Pública. Por isso, talvez você encontre nele algum problema de formatação ou links defeituosos. Se for o caso, por favor, escreva para nosso email (educacaopublica@cecierj.edu.br) para providenciarmos o reparo.

O contexto da revolução industrial

1. A PRIMEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

A Revolução Industrial foi um conjunto de profundas transformações sócioeconômicas ocorridas na Europa a partir de 1750, onde se observa a saída relativa do sistema feudal e agrário para um sistema capitalista.

Trata-se da consolidação de um novo período histórico, com o surgimento do capitalismo industrial. Este modo de produção capitalista, definido através das forças produtivas e das relações sociais de produção, baseou-se em bens de consumo (sendo pioneira, a indústria têxtil), obrigando a melhoria nos meios de comunicação (como transportes terrestres e marítimos), o desenvolvimento da metalurgia, do motor a vapor e do carvão como energia.

O primeiro período ocorreu na Inglaterra em torno de 1750 até 1860.

Isolada do continente, ficou livre dos conflitos europeus que ocorriam na época.

Com a descoberta de novas matérias-primas provenientes das colônias americanas, africanas e asiáticas, gerou um acúmulo de capital, através do mercantilismo.

Este mecanismo de trocas e de novas mercadorias criou um mercado desconhecido no comércio, colaborou para o desenvolvimento da indústria náutica com o surgimento do barco a vapor, das cartas de navegação; acumulando cada vez mais lucros  e  riquezas para esta nova burguesia, ora em ascensão, a burguesia comercial e mercantilista.

A rede fluvial inglesa teve um papel importante. Navegável, facilitou o escoamento da produção não só industrial, como também agrícola. A farta mão-de-obra era proveniente dos artesãos e dos camponeses. Os salários eram baixos, as condições de trabalho subumanas e o trabalhador, explorado, claro, pelos donos do capital (maquinários). Não existiam leis que amparassem os operários fabris.

Neste período inicial destaca-se a indústria de tecidos de lã, de algodão, com a utilização do tear mecânico. A Inglaterra possuía matéria-prima no campo, que mais tarde seria complementada com as colônias, como foi o algodão, inclusive, do Brasil.

O subsolo inglês possuía riquezas minerais tais como o carvão, sal, hulha e ferro, colaborando também para a industrialização. O surgimento de máquinas modernas impulsionadas pelo vapor substituía o trabalho braçal e humano.

A revolução  chega aos campos com a legalização dos "cercamentos", com a nova legislação de terras, criada em 1760 e 1830, a "Enclosures Acts", desapropriando os camponeses.

Com a mecanização, através do arado, surgem novos cultivos como a beterraba e a alface, novas técnicas como o rodízio de terras, aproveitando melhor o solo, aumentando a produção agrícola, fornecendo seu excedente de mão-de-obra para as indústrias.

O aumento do cultivo de forragens  protege o gado  do frio.

Segundo Hunt & Sherman (1977),  a indústria têxtil, além de ser a pioneira, foi o setor mais dinâmico na primeira fase da Revolução Industrial. Em 1700, os fabricantes de tecidos solicitaram ao governo a proibição da importação de cálicos (variedade de tecidos de algodão da Índia), garantindo o mercado interno das indústrias domésticas. Por outro lado, o crescimento da demanda externa estimulou a mecanização da indústria.

Naquele período, a Inglaterra possuía uma indústria doméstica de tecidos de lã (mulheres e crianças limpavam, fiavam, enquanto os homens penteavam, teciam, tingiam pisoavam, desbastavam e cortavam as peças), sendo a maioria destas operações realizadas em casa. Apenas a pisoagem e o tingimento exigiam maiores instalações e equipamentos próprios.

O comércio da lã gerava bons lucros dando origem ao comerciante manufatureiro que, por sua vez, aplicava e investia parte do capital mercantil na produção manufatureira instalada sob o mesmo teto, onde os operários concentravam-se. A produção já não era feita mais em casa, mas sim em galpões. Surge então o embrião destas futuras e grandes indústrias atuais, a manufábrica, nesta Primeira Revolução Industrial.

O capital mercantil estimulou a produção de mercadorias, surgindo uma nova divisão social e espacial do trabalho - a especialização - por parte do trabalhador - uma nova organização no sistema produtivo.

Surgem novas classes e novas relações sociais. A burguesia (donas do capital financeiro, mercantil e industrial) e o proletariado (donos da força de trabalho).

Com a ampliação da produção de lã (estas ligadas ao campo, com a criação de ovelhas),  do algodão (comércio ultramarino) e da juta (importada dos mercados orientais) multiplicaram-se as fábricas têxteis.

A invenção da lançadeira voadora (1730) acelera o processo de tecelagem, mas foram outras três invenções que revolucionaram a indústria têxtil inglesa, como a máquina de fiar (sprinning jenny, 1760), permitindo uma só pessoa fiar vários fios simultaneamente; a máquina de fiar, movida a água (walter frame, 1768) aprimorando as operações de fiação ao incorporar o processo aos cilindros e fusos de Richard; e a fiandeira automática, 1780, que reunia as características destas duas máquinas, com a vantagem de permitir o emprego da energia a vapor - ark wright.

"Estas invenções tornaram-se mais econômicas quando colocadas em uso nas fábricas localizadas próximas de fontes de energia hidráulica, substituídas posteriormente pela energia a vapor" (Hunt & Sherman, 1977:54). A indústria superou a manufatura, gerando altos lucros à burguesia, donas dos teares, do capital, formadoras da burguesia moderna.

Estas novas máquinas transformaram o processo de produção e trabalho, a vida, o ritmo dos operários, das cidades por onde chegaram. Modificando o espaço urbano, reduziram custos, fator fundamental neste novo processo de produção capitalista, intensificando o trabalho e, ao mesmo tempo, manipulando este maquinário formador da indústria têxtil inglesa. As tecelãs, os operários, saíam de suas casas, onde estavam habituados a trabalhar, para um só galpão. Concentrados, vendiam sua força de trabalho.

Estas inovações tecnológicas da indústria têxtil (algodão e lã, siderurgia, e máquina a vapor) forçaram uma melhoria nos meios de transportes e comunicação, ligando campo, cidade e portos. 

Esta integração de operários e bens de capital favoreceu o comércio internacional não só para o escoamento da produção excedente, mas também para a  busca de novas matérias-primas.

Consequentemente, ocorreu à internacionalização da divisão do trabalho com outros centros comerciais e industriais europeus, sobretudo na Inglaterra, o berço desta revolução.

2. A SEGUNDA REVOLUCÃO INDUSTRIAL

A Segunda Revolução Industrial (1860) surge sob a pressão dos movimentos operários e camponeses sobre a burguesia, do desenvolvimento das forças produtivas, das inovações técnicas,  da descoberta da eletricidade, da transformação de ferro em aço, do avanço dos meios de transporte (ampliação das ferrovias, e em seguida, a invenção do automóvel e do avião), do desenvolvimento da indústria química e o esgotamento dos mecanismos já impulsionados pela Primeira Revolução, que deram condições para essa revolução. O liberalismo foi implantado no plano político e o laissez-faire no plano econômico, fortalecendo, em 1830, a burguesia europeia.

O sistema capitalista expande pela Europa Central e Oriental, chegando a países como Bélgica, Franca, Alemanha, Itália e Rússia, aos EUA e ao Japão.

Esta nova Revolução foi dividida em duas fases: a preparatória, no período entre 1815-1870, quando os mercados produtores e consumidores integram-se através do desenvolvimento dos meios de transportes e comunicação e a 2a. Revolução Industrial propriamente dita (1870-1914), quando da utilização do aço, superando o ferro, da eletricidade e do petróleo como fonte de energia, o que impulsionou o desenvolvimento automobilístico, o surgimento do avião, da locomotiva elétrica como meios de transportes.

O predomínio de indústrias de bens de consumo duráveis e não-duráveis, o avanço das comunicações como telégrafo, telefone, jornais, revistas; atingiu as áreas urbanas, levando ao consumo de massa e a universalização da educação básica. A petroquímica desenvolveu a produção de remédios, colaborando com a medicina e a saúde pública em geral.

A livre concorrência dá lugar à concorrência monopolista. O modelo fordista (norte-americano) e o taylorismo dominaram esta nova dinâmica de produção industrial.

Com a liderança inglesa na expansão industrial, exportando sua tecnologia por toda a Europa Norte Ocidental, surgem na França o tear de Jacquard e o pente mecânico para a indústria têxtil local. A Alemanha desenvolveu a indústria bélica, onde os Knupp incentivaram a produção de ferro e aço.

Nesta nova etapa da Revolução Industrial, o Estado Inglês não contribui com a burguesia capitalista. Os demais países europeus dependiam do Estado para expandir seus meios de transportes e comunicações, ligando os centros produtores aos centros comerciais, urbanos, consumidores e portos.

Na Primeira Revolução Comercial, a Inglaterra expande e investe seu capital industrial em outros países, como o Brasil, colaborando, através de empréstimos e financiamentos bancários com a construção de ferrovias, usinas de eletricidade, bondes, indústrias e portos.

Esta 2a Revolução Industrial foi um dos fatores responsáveis pela Primeira Guerra Mundial, devido às disputas por áreas comerciais e coloniais. Nem a Alemanha e nem a Itália possuíam colônias na África e na Ásia; não tinham, até então, como expandir sua produção industrial.

3. A TERCEIRA REVOLUCÃO INDUSTRIAL  E A GLOBALIZAÇÃO

Segundo Paulo Paiva (1996), Globalização é um fenômeno tão importante quando a Revolução Industrial ou a reorganização capitalista na década de 1930. Trata-se de uma integração econômica e tecnológica entre os países, não sendo um processo ideológico, mas sim um movimento de transformação social e de produção, permitindo melhoria na qualidade de vida do cidadão e no domínio cada vez maior das potencialidades naturais. Ainda menciona que é necessário diferenciar a Globalização como "integração mundial e a globalização neoliberal" tratando-se de um novo modelo econômico e espacial.

É um fenômeno antigo, uma continuação do mercantilismo somado as duas outras revoluções anteriores. O capitalismo, como foi visto, é um marco na história econômica mundial. O capitalismo sempre existiu, porém seus padrões comerciais estão sempre em constantes transformações, sejam econômicas, sejam espaciais.

Segundo Ross et Alli (2003:242) "a história de sua formação reside nas crises de 1874 e 1929. As duas guerras mundiais levaram a novas organizações econômicas e os Estados Nacionais conheceram novas ordenações territoriais. A lógica que dominou o mundo do século XX foi àquela ditada por dois processos: a expansão geográfica do socialismo e a formação dos monopólios capitalistas. Com a crise que se abateu sobre os países socialistas no final da década de 80, a principal característica do mundo no final do século XX passou a ser a mundialização do capitalismo".

Embalados pelo Plano Marshall, os aliados dos Estados Unidos cresceram rapidamente, movidos pelas acirradas disputas, concorrências, de empresas americanas na Europa Ocidental e no Japão, introduzindo novas tecnologias, principalmente ligadas ao processo produtivo, como a informática, a robótica, técnicas de miniaturização, etc, que possibilitaram uma elevação nos índices de produtividade dessas economias, tornando-as competitivas.

Na década de 1960, ocorre o "milagre japonês" e a retomada de seu desenvolvimento. Para esta 3ª. Revolução Industrial, fatores econômicos foram importantes, como a mão-de-obra disciplinada, barata e relativamente qualificada, investimentos educacionais e a retomada dos antigos zaibatsus (conglomerados), agora modernos. Fatores estes que tornaram o Japão uma potência com tecnologia de ponta, baseada na microeletrônica.

As grandes empresas não ficam limitadas em seu território de origem - expandiram-se, uniram seus capitais, adquiriram outras empresas, formando um "pool" não mais de empresas nacionais ou multinacionais, mas empresas transnacionais, transformando não só o espaço fabril, mas o sistema de produção, de trabalho e mercado.

Segundo Oliveira, internacionalização, multinacionalização e mundialização são fenômenos integralmente interconectados; expressões que transformam o capitalismo financeiro centrado principalmente nas economias nacionais em um capitalismo centrado na economia mundial.

Concluindo, podemos dizer que produtos padronizados para mercados mundiais sejam igualmente homogêneos, mesmo que tomem os chamados bens de consumo final.

Leia Também:

Extraído da tese Origem, crescimento e crises da indústria têxtil em Nova Friburgo, defendida por Carmen Limoeiro Patitucci Manangão, junto à Universidade Federal Fluminense, a titulo de Bacharel em Geografia, em 16/12/2004.

Publicado em 2 de maio de 2007.

Publicado em 02 de maio de 2007

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.