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Os aldeamentos indígenas do Rio de Janeiro

José Ribamar Bessa Freire

Márcia Fernanda Malheiros

Apresentação

O presente livro  é o resultado do trabalho da equipe do Programa de Estudos dos Povos Indígenas, do Departamento de Extensão - SR-3,  que vasculhou os principais acervos da capital e do interior do Estado, para mapear os documentos manuscritos aí existentes. O levantamento de dados nos arquivos paroquiais, cartoriais e municipais do Norte Fluminense e do Médio Paraíba ultrapassou o recorde inicialmente estabelecido para o texto didático. Sua sistematização pode trazer novas luzes para a história regional, preenchendo lacunas nos campos da demografia indígena, estrutura fundiária, saúde, processo de mestiçagem e identidade étnica.

A proposta inicial era apenas refletir sobre os aldeamentos indígenas no século XIX, quando os índios desapareceram do mapa do Rio de Janeiro. Constatou-se, no entanto, a carência de conhecimentos sobre o período colonial, o que determinou a redação de um texto cronologicamente mais abrangente, devendo o século XIX ser aprofundado em outro trabalho, atualmente em elaboração. 

Este livro, destinado a apoiar o ensino de 1º e 2º graus, pretende atender às exigências formuladas pelo MEC em seus Parâmetros Curriculares Nacionais, pelo Conselho Estadual de Educação do Rio de Janeiro e pela Diretoria de Educação Fundamental do Município do Rio de Janeiro em sua proposta de Núcleo Curricular Básico, no sentido de reconhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sóciocultural brasileiro e de desenvolver conteúdos relacionados às culturas indígenas.

O grande obstáculo encontrado para a realização de tais exigências reside justamente na  inexistência de textos didáticos. Como observa Aracy Lopes da Silva, "os manuais didáticos ainda tratam os índios, suas sociedades e seu papel na história, a partir de formulações esquemáticas e baseadas em pressupostos ultrapassados". 

A elaboração de textos didáticos pressupõe a existência de um saber histórico, isto é, de um campo de pesquisa e produção de conhecimentos básicos do domínio de especialistas. Ora, o conhecimento acumulado até agora sobre as populações indígenas é fragmentado e parcial; apenas metade dos povos indígenas que habitam hoje o país foi objeto de estudos básicos por parte dos etnólogos e linguístas. Das mais de 170 línguas indígenas faladas atualmente no Brasil apenas 10% possuem descrições completas.

Na área de etno-história, as pesquisas são escassas. São inexpressivos, ainda, os trabalhos de coleta da tradição oral, de depoimentos e relatos dos próprios índios. Quanto às fontes escritas com informações etnográficas, elas não foram suficientemente interrogadas e, sequer, identificadas de forma sistemática. Tudo isto vai se refletir sobre o texto didático ou paradidático.

"O público leigo interessado em conhecer mais a respeito dos índios está diante de um abismo cultural e terá que se contentar com uma bibliografia didática rala, quando não preconceituosa ou desinformada", como sinaliza o antropólogo Carlos Alberto Ricardo. 

O conteúdo crítico e informativo que a escola deve desenvolver pressupõe a existência de um conhecimento que ainda não foi produzido pelas universidades e pelos centros de pesquisa. O presente livro - Os Aldeamentos Indígenas do Rio de Janeiro foi construído com o objetivo de dar uma pequena contribuição para o preenchimento da lacuna assinalada.

José Ribamar Bessa Freire
Coordenador do Programa de Estudos dos Povos Indígenas

Liany Bonilla da Silveira Comino
Diretora do Departamento de Extensão

Originalmente publicado em 1997. Publicado na Educação Pública em 8 de maio de 2007.

Publicado em 08 de maio de 2007

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