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Menino enquanto brinquedo

Luís Estrela de Matos

O menino olhava mansamente o brinquedo. Com suas pequeninas garras ele o desmontou em pedaços e quanto menor o objeto ficava mais suas garras agitavam-se no ar. Ao término de sua tarefa, com os destroços do objeto esparramados em cada canto de chão, o menino pôs-se a olhar absortamente. Seus olhos andaram de um pedaço a outro, procurando, talvez, algum outro que fosse ainda decomponível. Depois de executado o percurso, sentiu ele uma tristeza intransferível e olhou os espaços vazios entre os fragmentos do brinquedo. Ficou decididamente confuso e, como não entendesse como poderia haver vazados entre as coisas, tentou reunir, com suas belas garrinhas, o lixo do objeto destruído. Tratou de empilhar o máximo que pôde, não sabendo ao certo se desejava recompor alguma imagem inicial do brinquedo ou se era apenas para esquecer que tinha percebido os vazados. Amontoou tudo o mais que pôde, o que não era grande esforço e, de maneira surpreendente, passou os olhos ao redor de si, retendo apenas a estranha experiência do espaço. Na verdade, teve a primeira sensação de desânimo, aquela derrota que, um dia, o faria homem e, o que é pior, destinado sempre ao fracasso.

Pubicado em 22/5/2007

Publicado em 22 de maio de 2007

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