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As crianças brasileiras precisam ser recuperadas

Luiza Barreto Leite

Especial: Memória da Educação

Mais compreensão e mais saúde - Promessas da Diretora do D. E. P. aos escolares cariocas - Turmas especiais para os alunos difíceis

Continuando com sua interessante e esclarecedora entrevista, a professora Juracy Silveira declarou que o segundo item de seu "ponto de honra" como diretora do Departamento de Educação Primária da Prefeitura é proporcionar às crianças que se encontram sob sua orientação pedagógica "maior riqueza de oportunidades educativas, para que possam resolver seus próprios problemas e os do grupo a que pertencem".

— No decorrer do ano letivo de 51, disse-nos, o DEP começou uma experiência das mais animadoras - a organização de turmas especiais. Em diversas escolas, os alunos que apresentavam dificuldades para aprender ou para se adaptar ao ambiente eram desligados das turmas comuns para formarem essas turmas especiais, entregues à competência de quatro professoras primárias e dez assistentes sociais, que trabalharam supervisionadas por Ofélia Boisson Cardoso, especialista das mais credenciadas no assunto, com a colaboração da professora Lucinda Piquet Carneiro.

O resultado dessa experiência, apesar da exiguidade do tempo, foi de tal forma animador que essas turmas passaram a integrar o sistema escolar, paralelamente às turmas normais ou comuns, medida da maior importância, qualquer que seja o aspecto a ser considerado. Se levarmos em conta o aspecto humano, esse método auxilia o indivíduo a desenvolver sua personalidade e a se integrar por seus próprios recursos na filosofia democrática. Do ponto de vista social, é esse o meio de conduzir o indivíduo a se integrar no ambiente que lhe cabe.

- Para atingir a finalidade de proporcionar às nossas crianças maior riqueza de oportunidades, o DEP pretende ainda incentivar a renovação dos métodos de ensino, determinando as escolas que, no corrente ano letivo, terá um regime diferente de trabalho.

REVISÃO DE PROGRAMAS NO ENSINO PRIMÁRIO

— Ainda em atenção a esse item, continua a professora Juracy Silveira, o DEP promoveu a revisão dos programas, adaptando-os às possibilidades reais das nossas crianças e às exigências de urna formação de base.

— Pensamos também reorganizar os Círculos de Pais e Professores, em atenção à necessidade premente de uma maior aproximação entre o lar e a escola em benefício da criança.

— Outro ponto que nos preocupa é o da educação pré-primária. Devido a isso, e atendendo ao grande número de Jardins de Infância particulares existentes na cidade, foi elaborado um programa evolutivo, acompanhando os períodos de desenvolvimento da criança. Programa esse que é o mais completo guia didático para os professores incumbidos da direção de turmas pré-primárias.

— O terceiro item do meu programa essencial, continuou D. Juracy, refere-se às condições de saúde dos escolares cariocas. É ponto pacífico entre educadores e médicos que, para fazer frente aos trabalhos escolares, para conseguir um rendimento compensador do ensino, é imprescindível um satisfatório funcionamento de toda a personalidade. Para isso seria indispensável a coordenação perfeita entre as reações emocionais, as atividades mentais, o trabalho, a recreação e, principalmente, o vigor físico. A criança tem o direito de ser sadia e feliz, e é obrigação de um país democrático proporcionar-lhe os meios para atingir esse fim. O atual governo da cidade tem a sua palavra empenhada na solução desse problema; razão pela qual, além da preocupação de escolas limpas, claras e arejadas, de parques de recreação, de serviços médicos, temos ainda o problema da alimentação do escolar, que obedecerá, no corrente ano, a uma orientação descentralizadora, para o que já contamos com o acréscimo de verba, que passou de Cr$ 8.400.000,00 a Cr$ 12.000.000,00.

Encerrados os três itens essenciais, poderíamos dar a entrevista por terminada, mas, na verdade, quando alguém que ama sua profissão a ponto de viver para ela, como é o caso da professora Juracy Silveira, deseja expor todos os pontos de um programa de realizações, que deveria se estender pelo país inteiro, não há jornalista que não deseje ouvi-la até o fim e, consequentemente, publicar o que ouviu. Por isso prolongaremos por mais um dia esta entrevista (capaz de abrir os olhos de muita gente), como sugestão também para um "mea culpa" dos ambiciosos donos de estabelecimentos de ensino particular, ou para os desleixados "fazedores" do ensino público.

Publicado em O Mundo, em 3 de abril de 1952, Rio de Janeiro; da série: O problema dos nossos filhos

Publicado em 29 de maio de 2007

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