Este trabalho foi recuperado de uma versão anterior da revista Educação Pública. Por isso, talvez você encontre nele algum problema de formatação ou links defeituosos. Se for o caso, por favor, escreva para nosso email (educacaopublica@cecierj.edu.br) para providenciarmos o reparo.

Laços (e embaraços) da família contemporânea

Mariana Cruz

"Ele é meu irmão só por parte de mãe; a minha mãe é casada com o pai dele; ela é minha irmã do terceiro casamento da minha mãe, eu sou do segundo; meu padrasto é como se fosse pai, o meu pai de verdade casou de novo e a gente quase não se vê..."

À exceção de casos de viuvez, frases como estas, se ditas há cinquenta anos – quando as pessoas desquitadas eram apontadas na rua – causariam impacto. Hoje em dia são proferidas por qualquer pimpolho, numa boa.

Se há meio século os laços matrimoniais eram difíceis de desatar, há um século eram verdadeiros grilhões. Os casamentos daquela época, além de serem para o resto da vida, eram acertados entre os pais do casal. Sorte nossa de hoje podermos casar com quem gostamos. E os filhos desses casamentos arranjados também não eram criados com todo esse amor que vemos atualmente. Os mais abastados, não raro, eram mandados  para estudar no exterior a fim de afastá-los do convívio e da responsabilidade dos pais.

Após a revolução industrial muita coisa mudou. Por volta dos anos de 1920 a 1930, as pessoas começaram a se casar por escolha própria e a ter uma relação mais carinhosa com seus filhos. E assim caminhava a humanidade. 

Andou, andou, até que os casamentos até-que-a-morte-nos-separe, apesar de não serem mais arranjados, saíram de moda. E a separação virou coisa comum.

Hoje em dia, a família clássica que aparece nos comerciais de margarina – pai, mãe, filho e filha (todos super parecidos) ­– está com a concorrência apertada, expandiu-se: os pais separaram-se, casaram-se novamente (ou recasaram, como se fala atualmente)... uma, duas, três vezes, uniram-se a outros parceiros que, por sua vez, também tinham filhos de outros casamentos e geraram filhos da nova união infinita enquanto dure. Formaram um complexo grupo: a família contemporânea .

As crianças, já nascidas nesse contexto, nada estranham.

Dia desses, zapeando pela tv, parei no Canal Universitário, onde a pedagoga Rita Ribes falava sobre a relação das crianças com os desenhos animados. Citou o desenho A Vaca e o Frango como um retrato da família contemporânea, pois os personagens do título são irmãos (?!?). Isso mesmo: uma vaca que é irmã de um frango. A família pluralizou-se: os irmãos não são mais necessariamente filhos dos mesmos pais e por isso podem apresentar diferenças mais acentuadas. E o que as nossas crianças pensam sobre essa estranha irmandade entre uma vaca e um frango? Acham naturalíssimo, afinal, é tutto famiglia.  

Constatada a mudança, vem a pergunta: como fica a educação da criança nessa Era pós-comercial-de-margarina? Um tipo de educação é dado pela mãe, outro dado pelo pai. Somado a isso, temos os pitacos da madrasta, os conselhos do padrasto e, correndo por fora, a experiência (e o inevitável excesso de amor) dos avós, que nesses períodos de transição matrimonial podem ter suas casas transformadas em guaritas para as crianças até a poeira baixar. Ou seja: muito cacique para os pequenos curumins.

Em cada uma de “suas casas”, a criança recebe um tipo de educação: em um lar ela tem de lavar a louça que suja, arrumar o quarto e usar a internet por tempo limitado; no outro, ela pode ver tv até tarde, deixar os brinquedos bagunçados  (a empregada arruma!) e os deveres escolares não são cobrados.

Por mais inserida que a criança esteja na lógica da vaca e o frango, o clima de a fila anda familiar pode deixá-la confusa. Nesta nova distribuição de papéis terá de saber quem é quem: quem deve obedecer, quem educa, que ordens deverão ser seguidas e quais são os seus desejos e vontades no meio de tanta gente.

A família geralmente é a primeira fonte de referência que temos, aquele núcleo responsável pelos valores. Assim, uma família, não necessariamente atada por laços cosanguíneos e sim afetivos (já ouviram falar em boadrasta?), faz-se essencial. Cabe a ela o papel de educar no sentido forte do termo. Se o matrimônio não é mais um compromisso eterno, os filhos são. A preocupação, o cuidado e a atenção com eles devem ser aspectos sólidos e perenes dessa relação. Isso é educar. Afinal, uma família bem estruturada serve de chão para esse individuo que está dando seus primeiros passos por conta própria e cuja contribuição poderá ser essencial nessa longa jornada da humanidade.

Para saber mais

Publicado em 5 de junho de 2007

Publicado em 05 de junho de 2007

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.