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A voz da imagem

Salmo Dansa

A formação de novos leitores tem se tornado uma prioridade no campo da Educação e no mercado editorial como um todo. A criança e o jovem dos nossos dias parecem cada vez mais seduzidos pelos novos meios de comunicação, onde a dinâmica e a visualidade se tornam quase sempre mais atraentes que o livro.

Por outro lado, as Literaturas Infantil e Juvenil têm se beneficiado das influências do nosso tempo e é visível o aumento na qualidade das imagens nos livros de literatura dirigidas a esse público, sobretudo por conta do surgimento de novos e talentosos ilustradores. Um exemplo disso foi a 40ª Bienal de Ilustrações de Bratislava, na Slovakia, ocorrida em 2005, onde o Brasil foi o 3º país com o maior número de artistas selecionados. Entretanto, precisamos entender qual é de fato o papel do ilustrador e da ilustração na formação de novos leitores.

Além do valor estético, a divulgação do conhecimento ao leitor iniciante, em idade escolar, tem atribuído à ilustração o valor de conteúdo e por ser esta mais universal em sua compreensão, torna-se uma importante ferramenta no processo de alfabetização. Nesse processo de formação, será preciso perceber como a imagem, que hoje ganha cada vez mais espaço na TV, internet, jogos eletrônicos, publicidade etc. poderá ter também um papel fundamental na dinamização do objeto livro.

O entendimento do papel da ilustração na formação de leitores carece, sobretudo, do contato entre agentes envolvidos nesse processo sejam eles ilustradores, escritores, editores, designers, distribuidores, divulgadores, educadores, pais e o público infanto-juvenil. É preciso explorar conscientemente os valores estéticos e educativos da imagem e para que isso aconteça é preciso que haja uma aproximação entre todos os lados dessa estrutura: leitor, imagem, texto e editor.

Como dar voz à imagem? Como ampliar o entendimento desta arte e dos seus múltiplos papéis nos livros infantil e juvenil? Como estreitar a relação entre a criança e o livro, sujeito e objeto do processo de aprendizagem, entendendo a ilustração como a primeira porta para o prazer da leitura?

Para termos uma noção numérica do público infantil nas bienais do livro, dos 630 mil visitantes no evento de 2005, no Rio de Janeiro, 170 mil eram estudantes de visitação escolar e esses números, que eram recordes, já foram superados pela última Bienal de São Paulo, 2006. Com isso entendemos que o público infanto-juvenil cresce e carece de um contato tão esclarecedor quanto divertido com relação à ilustração - um importante elemento do livro infantil e do universo de expressão, comunicação e aprendizagem da criança, que ainda é visto como secundário no mercado editorial. Há ainda uma diferença entre o autor e o ilustrador, como se a ilustração não fosse autoral e sim uma prestação de serviço. Ora, a imagem tem ganhado esse status de conteúdo não só pelo valor estético, mas pelas suas capacidades comunicativas. Mas como isso acontece?

A significação das imagens nos livros acontece na sua relação direta com o texto, por isso essas representações passam, necessariamente, por uma qualificação semântica e sintática da comunicação visual. Pode-se dizer que os desenhos tornam-se amplificadores de sentido junto ao texto, e de certo modo, trazem consigo um sentido de entonação existente na narrativa verbal. A ilustração se torna um recurso utilizado para a orientação do leitor dentro do tempo da narrativa formando ligação triangular entre este, a imagem e o texto.

As características conceituais do desenho são atributos que propiciam, por intermédio de uma infinidade de recursos como contraste, justaposição, inversões, coincidências, simetrias etc., um sentido ideológico à imagem.

O uso de figuras de linguagem pode se tornar recurso para a formulação de narrativas visuais, assim como no texto, para enfatizar um sentido ou ampliar significados. Por exemplo, entendemos como hipérboles a repetição enfática de elementos. As onomatopeias são constantes nas escritas sobrepostas à imagem, simulando sons. As metonímias aparecem em enquadramentos parciais de determinada figura. A prosopopeia é bastante característica da Literatura Infanto-Juvenil (LIJ) e é reforçada pelas suas características visuais, relacionando a modernidade aos enredos fabulosos.

As metáforas são a essência desse tipo de representação. A fantasia é parte fundamental da ilustração infantil e, se existe uma identidade visual na LIJ, esta começa na imaginação. No entanto, é na práxis, sobretudo no fazer, que a imaginação ganha vida e se concretiza como ilustração. É a partir das ideias relacionadas às características físicas do material que a cor, textura, densidade, espessura, brilho se transformam em ilustração.

A significação da imagem tem um sentido dialético: por um lado o sentido subjetivo que a palavra atribui à imagem ou inversamente o sentido objetivo que a imagem atribui à palavra. Essa dupla via de significação própria da transposição é a essência da linguagem visual.

Por todas essas características entendemos uma necessidade emergente na formação de leitores: é necessário formar também "leitores visuais" que consigam não somente decifrar códigos de letras, mas que tenham a capacidade de decifrar imagens. Imagens subjetivas, fantasiosas, metafóricas, poéticas, simbólicas e até ambíguas, mas imagens que devem ser sempre compatíveis com o texto literário destinado à criança. Tornando-se ponto de ligação entre o imaginário infantil e o universo da Literatura.

Publicado em 16 de maio de 2006

Publicado em 17 de julho de 2007

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