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Alípio Freire

Luiz Alberto Sanz

Diálogos Poéticos

Estava escolhendo o poema que eu gostaria de enviar, hoje, aos meus amigos e companheiros, quando abri a caixa postal e encontrei, entre outros, este de Alípio Freire. Ele o enviou sem outro propósito que o de "trocar figurinhas", como se diz. Eu é que, abusado, me identifiquei com o personagem e gostei do ritmo, da escolha das palavras e das metáforas (desculpem, é que assisti, no feriado, ao DVD de "O carteiro e o poeta"). Assim, sem consultá-lo, distribuo o poema de Alípio a tutti quanti tenham acesso a esta mensagem.

Sobre o autor, algumas palavras:

Jornalista, continua na luta que o levou à prisão nos anos 70, vive em Campinas, ocupa parte significativa de seu tempo dando cursos e palestras em que compartilha com jovens e trabalhadores os conhecimentos e o saber que adquiriu na vida.

Obrigado, Alípio, e pode me chamar quando for regar, novamente, uma árvore, por mais "politicamente incorreto" que isto possa parecer. O que importa é o que a metáfora nos diz.

31 de março de 1992

Alípio Freire

O velho anota
no metrô
seu poema
velho
da vitória
do que houve
de mais velho
quando era
demais jovem.

Ninguém
além do velho
se interessa
por seu poema
antiquado

Sem rima
e sem metro.

O velho do metrô
usa óculos e bigodes
e nos pés
um par de tênis
surrados

Sem laço
e sem cadarço.

Com a memória em 64
os pés em 22
a cabeça em 68
e o coração sem tempo
o velho anota
seu poema

Datado.

Mulheres de todas as idades
entram e saem do metrô
do mesmo modo como o fizeram
na vida do velho.

Pernas verdes, amarelas, azuis e brancas.
Pernas vermelhas
– Para que tanta perna, meu deus?! –,
considera o velho.

Mas as pernas passam
as mulheres passam
os amores passam
a vida passa.
Tudo na vida passa.
E envelhece.

Rejuvenescido pela poesia que passa
o velho sorri um sorriso ateu
ciente de que o metrô
não é O Trem d’A História
e de que deus não existe.

Assim, desembarca no Paraíso.

O velho sorri solitário
e despojado de expectativas

No metrô
Na gare
Na vida.

O velho deixa a estação
mergulha na chuva fina da noite
declina qualquer autoenternecimento ou comiseração pública
faz xixi na árvore da esquina
e prossegue em direção ao vazio
assobiando uma velha melodia

Por que não?

Publicado em 17 de julho de 2007.

Publicado em 17 de julho de 2007

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