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Agostinho Neto

Luiz Alberto Sanz

Diálogos Poéticos

Sobre nosso visitante de hoje não vou dizer muito, recomendando a quem não o conhece que pesquise. De repente, em alguma biblioteca, achará um dos seus livros ou algum que o inclui, como este "Antologia da Poesia Pré-Angolana", da portuguesa Afrontamento, de onde tirei o poema abaixo. Nas enciclopédias ele está fartamente presente, mesmo que em seu país o governo já não queira lembrar com tanta ênfase seu caráter, tão diferente daqueles que o sucederam. Foi, creio eu, o segundo poeta a governar um país africano na História Contemporânea. Só que as enciclopédias dedicam mais espaço a seu papel político que ao cultural. Mas a revolução angolana foi, como poucas, uma revolução em que a cultura e a arte estiveram intrinsecamente contidas nos atos políticos. Agostinho Neto, nosso convidado, teve como seu antecessor no Movimento Pela Libertação de Angola Mário Pinto de Andrade, outro poeta que virá um destes dias por aqui. Ao seu lado estiveram Pepetela, Luandino Vieira, Ruy Mingas e tantos outros. Conosco, o poeta que primeiro presidiu a República de Angola.

Mussunda amigo

Agostinho Neto

Para aqui estou eu
Mussunda amigo

    Para aqui estou

Contigo
Com a firme vitória da tua alegria
e da tua consciência

    O ió kalunga ua mu bangele!
O ió kalunga ua mu bangele!

Lembras-te?

Da tristeza daqueles tempos
em que ámos comprar mangas
e lastimar o destino
das mulheres da Funda
dos nossos cantos de lamento
dos nossos desesperos
e das nuvens dos nossos olhos
Lembras-te?

Para aqui estou eu
Mussunda amigo

A vida a ti a devo
à mesma dedicação ao mesmo amor
com que me salvaste do abraço
da jiboia
à tua força
que transforma o destino dos homens

A ti Mussunda amigo
a ti devo a vida

E escrevo versos que não entendes
compreendes a minha angústia?

Para aqui estou eu
Mussunda amigo

escrevendo versos que não entendes

Não era isto
que nós queríamos, bem sei

Mas no espírito e na inteligência
nós somos!

Nós somos
Mussunda amigo
Nós somos

Inseparáveis
e caminhando ainda para o nosso sonho

No meu caminho
e no teu caminho
os corações batem ritmos
de noites fogueirentas
os pés dançam sobre palcos
de místicas tropicais
Os sons não se apagam dos ouvidos

    O ió kalunga ua mu bangele...

Nós somos.

(do livro Sagrada Esperança)

Publicado em 31 de julho de 2007.

Publicado em 31 de julho de 2007

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