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Conceição - autor bom é autor morto

Leonardo Soares Quirino da Silva

Na peça Seis personagens a procura de um autor, Luigi Pirandello trata de seis figuras que, no início da peça, pedem ao diretor uma solução para seu problema. Abandonadas pelo dramaturgo após terem sido criadas, elas pedem que o diretor e o elenco deem continuidade a sua história. Em Conceição - autor bom é autor morto (Brasil, 2007, 78 minutos), o primeiro longa produzido pelo curso de cinema da UFF, em exibição nos cinemas, é a vez dos personagens justiçarem seus autores, revoltados com seus destinos.

Partindo desse mote, foi possível realizar um filme dirigido por cinco diretores (André Sampaio, Cynthia Sims, Daniel Caetano, Guilherme Sarmiento, Samantha Ribeiro) que, ao contrário de realizações como Contos de Nova Iorque (1989) ou do recente Paris, te amo (2006), não é uma sucessão de curtas. O filme apresenta uma estrutura amarrada, em que as histórias propostas vão se sucedendo e se relacionando, sempre ficando em aberto, até o desfecho final.

O ponto central é uma reunião de estudantes de cinema ao redor de uma mesa, em um canto isolado de um bar, onde discutem que filmes fariam. Entre estes estão a do fugitivo (Augusto Madeira) e do caçador (Jards Macalé), a dos dois bandidos, a de Julinha e a mendiga, o filho do camelô e a pornochanchada.

Com exceção da perseguição, que abre o filme, todas as outras histórias são introduzidas por declarações de pessoas comuns, dando vazão à proposta de realizar um documentário, feito por um dos comensais desse diálogo sobre cinema.

A estrutura amarrada, contudo, não garante uma obra regular. Isso se explica, primeiro, por ter sido dirigido a dez mãos, o que faz que cada segmento tenha a marca de seu diretor.

Depois, a falta de dinheiro. O filme foi produzido pela UFF, usando recursos próprios. Depois de 38 anos, o primeiro longa feito por alunos do curso de cinema. Segundo Diana Iliescu, da equipe responsável pela produção de finalização, a principal vitória da equipe foi a passagem da bitola 16mm para a de 35mm, a usada nas salas de exibição, e a produção de três cópias, o que foi feito com apoio da RioFilmes.

A estética trash - de filmes como os de Zé do Caixão -, contudo, foi uma opção dos diretores. O resultado final, porém, é bem diferente daquele apresentado, em uma das últimas cenas, pelo motorista da ambulância, feito pelo professor e crítico de cinema João Luiz Vieira. Ele declara que:

- Conceição é um filme que tem um roteiro muito descosturado, é um filme descontínuo, não tem uma sequência lógica. E fica evidente que é um projeto de muitos autores e que acaba se tornando um filme sem estilo. É um filme de todo mundo e é um filme de ninguém. O cinema não existe pra isso. Um filme deve mostrar o que é belo, o cinema deve contar bem uma história e, a partir disso, falar de tudo. O que a gente vê na tela é a exteriorização de um cinismo. Os cenários são mambembes, a ação é uma ação que também não tem muita segurança... Há o interesse de que tudo isso faça algum sentido?

Em 1921, quando a peça de Pirandello foi encenada pela primeira vez, a recepção por parte da crítica também não foi boa. A forma e a temática metalinguística causaram estranhamento. Apesar disso, virou um marco na história do teatro. O humor e a estética trash que permeiam as histórias também parecem garantir um lugar para Conceição mais relevante que o de ser o primeiro longa produzido pela UFF. Estamos diante de um filme que pode se tornar um cult que, a exemplo dos clássicos, será muito comentado e pouco visto. Faça parte desses poucos.

Ficha técnica do filme:

  • Título: Conceição - autor bom é autor morto
  • Direção: Vários
  • Gênero: Humor
  • Produção: Curso de Cinema da UFF e RioFilmes

Publicado em 31/7/2007

Publicado em 31 de julho de 2007

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