Desfolhar

Experimentações literárias

http://www.desfolhar.com/

O Desfolhar é um ateliê literário cujas experimentações aparecem em forma de ensaios, artigos, críticas, crônicas e tudo mais que diga respeito à língua. Há também a volta do saudoso folhetim, que no site aparece sob o título de “Encontro além da Baia”. Cada edição traz um capítulo inédito e ainda há espaço para fazer comentários.

A coluna Memento traz sempre um novo convidado para falar sobre os livros mais marcantes da vida. São citados textos dos mais diversos estilos e origens como a Bíblia, os romances policiais de Agatha Christie, o Grande Sertão de Guimarães Rosa, o juvenil A droga da obediência, o mediavalesco Ivanhoé, as futuristas ficções científicas Neuromancer e 1984, O grande Mentecapto de Fernando Sabino, as obras de Monteiro Lobato, Irmãos Grimm, Machado de Assis. É um passeio que vai das aventuras da bondosa Pollyana ao “mucho loco” Kerouac. São gostos, visões, sentimentos que representaram uma mudança de ótica, uma outra forma de perceber o mundo e a si mesmo. Esses inúmeros títulos ali descritos geram uma troca de experiências: quando encontramos um livro citado que nos identificamos, é inevitável um riso de concordância, e quando se trata de um livro que nunca ouvimos falar, os argumentos do leitor apaixonado atiçam nossa curiosidade e a vontade de procurar a obra no sebo mais próximo.

A outra coluna do site é a Mostrando a Língua, onde encontramos artigos sobre o nosso maleável português. No texto Os sentidos da gíria, percebemos como usamos muitas palavras em um sentido completamente adverso do original, quando dissemos só pra variar está chovendo em Londres, queremos dizer que sempre chove em Londres, ou seja, invariavelmente chove em Londres. Assim vemos que a expressão só pra variar é exatamente o oposto do que ela diz. Estas e outras observações interessantes e engraçadas sobre nosso dinâmico idioma podem ser encontradas lá.

Em Literatura etc..., a proposta é fazer uma relação entre literatura e outros saberes. O ensaio de Dayse Melo sobre a figura do pai em O Peru de Natal, de Mário de Andrade, e sobre o conto A Terceira margem do rio,de Guimarães Rosa, traça a relação entre psicanálise e as letras. No primeiro texto ela vai trabalhar a imagem do pai cinzento e pouco festivo e no segundo a do pai que abandona a família para passar sua vida no rio, dentro de uma canoa.

No artigo de Flávio Moutinho, O fantástico na não ficção de Oliver Sacks, os textos do neurologista são os escolhidos para mostrar que literatura fantástica e literatura realista não são coisas tão opostas assim, pois o neurologista, autor de textos assumidamente não-ficcionais sobre casos clínicos, parece muitas vezes estar falando de personagens irreais, como podemos perceber já no título de um de seus livros: O homem que confundiu sua mulher com um chapéu. Não é à toa que ele é contraditoriamente definido por alguns como autor de não-ficção fantástica.

Ainda nesta coluna, a literatura se mistura com temas como o pensamento vanguardista da beat generation, movimento hippie, guerra do Vietnã, coletividade e contracultura, a migração do movimento surrealista dos livros para o cinema e para a pintura, o Admirável mundo novo de Aldous Huxley, genética, X-Men e Super-Homem.

Temos também uma interessante matéria sobre o papel da educação como transmissora de valores desde a Grécia Antiga até os dias de hoje.

Além dessas colunas e das seções de contos, poesias e crônicas, há um espaço para ensaios e artigos. Estes últimos trazem análises de textos de autores consagrados como Clarice Lispector, Edgar Allan Poe, Fernando Pessoa, entre outros. E para quem quiser enviar seu texto ou tecer comentários a respeito do site é só ir na parte Contato/submissões.

Todos os assuntos citados nesta matéria estão espalhados nas diversas edições, mas como o site não tem um espaço para busca, o jeito é ir explorando e lendo o que aparece pela frente e deixar se levar pelas letras até as terras do sem-fim.

Publicado em 7 de agosto de 2007