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Flávio Barreto Leite
Luiz Alberto Sanz
Poesia andarilha
Conversa puxa conversa, uma palavra leva a outra. Meu avô dizia que são parentes todos os Barreto, sefarditas feitos cristãos-novos; como também sou Barreto Leite (outro sobrenome sefardita), considerem a possibilidade de nepotismo na escolha do poeta de hoje, que eu estava guardando para um dia mais calmo, em que fizesse um inventário de cicatrizes de sua história nômade. Mas acontece que a Ana Müller mandou, ontem, o poema do Marcelo Mello, na casa de quem Flávio Barreto Leite, o Barreto Poeta, hospedou-se quando passou um tempo andarilho em Recife. "Bicho Homem" (muito atual), lembra Barreto, foi escrito lá, no apartamento do Marcelo, creio que nos 80). Os outros são de momentos vários.
Boa leitura.
BICHO-HOMEM
O meu Partido me quis máquina;
minha mulher me quis macho,
e a minha mãe me quis menino.
E assim, cada qual pelo seu tino,
foi traçando o meu destino,
alheio à minha vontade.
Por isso nenhum entende
a razão quando se some
desse insípido convívio.
Eu não morri pra querer lírios:
é outra a morte que me come.
Descansem em paz no delírio,
prefiro meu desatino
de me saber Bicho-Homem!
ENGANA/DOR
Tem uma unha
cravada
no meu peito
feito uma unha cravada
no peito
e não encontro
o jeito
de arrancá-la.
Ou, ao menos,
de estancar a dor.
Poetas,
os leitores ignoram,
têm um defeito:
falam de,
mas deploram
e sentem horror
à dor.
Por motivo assaz simplório:
Ninguém no mundo
domestica a dor
que lhe atinge
com palavrório.
Por mais perverso
ou singelo.
Por isso, caro leitor,
o poeta finge
não pertencer ao universo
da dor.
Apenas
ao do belo.
AMIGOS
Amigos,
na verdade,
são amantes,
namorados
que não tendo
a compartir
nem comprazer-se
com o sexo,
antes
aprofundam-se no nexo
(im)penitente
de ser(se)
o que se quer
e sendo-o,
sê-lo
simplesmente.
Para o que der
e vier.
Publicado em 21 de agosto de 2007.
Publicado em 21 de agosto de 2007
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