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Um imperador brasileiro?

Leonardo Soares Quirino da Silva

Nada pode parecer mais adequado do que aproveitar o feriado de 7 de setembro para se inteirar sobre a vida do primeiro imperador do Brasil. Por onde começar? Uma sugestão é D. Pedro I: um herói sem nenhum caráter (Companhia das Letras, 2006, 340 p.), biografia escrita pela historiadora Isabel Lustosa, pesquisadora da Fundação Casa de Rui Barbosa. A intenção de Lustosa ao escrever o livro foi "contar a história desse homem que foi, sobretudo, um macho, na acepção mais crua da palavra, no que esta tem de sensual e de rude, mas também de valente".

Dividido em nove partes, D. Pedro I oferece um rico retrato desse personagem controverso da história brasileira. Ao mesmo tempo avaro e cínico, avesso a regras formais, disposto a dar razão a intrigas, dividido entre Brasil e Portugal, mas capaz de gestos de grande coragem, como a expulsão da divisão auxiliadora ou a proclamação da independência, d. Pedro I, que bem poderia ser chamado de 'o estouvado', fugiu, como observou a autora, ao maniqueísmo que pretende apresentar heróis todos puros no panteão nacional.

A historiadora começa seu livro apresentando ao leitor as personagens e as condições que formaram a personalidade do futuro imperador. Entre elas, d. Maria I, cuja loucura foi resultado da culpa que sentia pelo fato de o pai ter expulsado os jesuítas de Portugal, e d. João, príncipe regente e depois rei, generoso, bonachão, astuto, mas também pouco asseado, glutão e, dir-se-ia hoje, paranoico.

Esta última característica não era sem fundamento. Sua esposa, d. Carlota, tentou tirar-lhe a coroa algumas vezes, a primeira em 1805. A autora deixa claro que a esposa de d. João sempre se manteve ligada à Espanha e aos interesses desta.

Mas também por sua personalidade - autoritária, cruel e vingativa -, que contrastava com a do marido, ela logo se viu boicotada pela corte lusitana. Como exemplo da crueldade da rainha, basta lembrar a perseguição que promoveu a um desafeto cujo distante relacionamento com a Confederação do Equador (1824) serviu de justificativa para sua execução no Rio e o envio de sua cabeça a Portugal, fato citado por Lustosa.

Foi nesse ambiente que nasceu e se criou d. Pedro.

A exploração que Lustosa fez das relações dentro da Família Real portuguesa pode deixar o leitor com a clara impressão que as brigas entre d. Pedro e d. Miguel iam além da disputa pela sucessão do trono. Elas replicavam, de certa forma, as desavenças e posições do pai e da mãe. O primeiro era mais próximo do pai. O segundo, da mãe, que tentou usar sua ascendência sobre d. Miguel para derrubar d. João em pelo menos duas oportunidades depois da volta da Família Real para Portugal. Depois, em 1828, Carlota influiu na decisão do filho de dar o golpe que o levaria ao trono e, depois, aproveitou a situação para promover a perseguição, prisão e, por vezes, execução de seus desafetos.

Durante a narrativa, o leitor é apresentado a detalhes da vida de personalidades como a imperatriz Leopoldina, sua influência política sobre d. Pedro no período entre a volta de d. João e o Dia do Fico, bem como as razões para sua difícil relação com o marido, que antecederam a entrada em cena da futura marquesa de Santos.

Também fica claro que as relações entre esta e o imperador iam além da alcova. Primeiro, d. Domitila aproveitou-se de sua proximidade e influência sobre o imperador para ganhar dinheiro, ao negociar indicações para o governo. Depois, o relacionamento acabou virando assunto de rodas no Brasil e na Europa, o que, posteriormente, dificultou a busca de uma nova imperatriz.

É o cuidado em explorar esses aspectos da vida privada e apresentar suas implicações na esfera pública que recomenda o livro como leitura para o feriado de sete de setembro. Além disso, serve, naturalmente, de revisão e ampliação de seus conhecimentos sobre a vinda da Família Real, o Processo de Independência e o Primeiro Reinado; o livro é fundamentalmente um romance em forma de história.

Ficha técnica do livro:

  • Título: D. Pedro I: um herói sem nenhum caráter
  • Autor: Isabel Lustosa
  • Gênero: Paradidático
  • Produção: Companhia das Letras

Publicado em 4/9/2007

Publicado em 04 de setembro de 2007

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