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Na Paraíba o ensino é gratuito

Luiza Barreto Leite

Especial: Memória da Educação

FALA A O MUNDO O PROFESSOR EMANUEL DE MIRANDA HENRIQUES

Soubemos que estava no Rio um dos tantos educadores que, por este Brasil afora, fazem de sua profissão um sacerdócio, servindo de exemplo à massa dos outros que a transformaram num comércio ou numa sinecura. Fomos encontrá-lo no Ministério da Educação, onde passa os dias à espera de que o famoso Conselho Universitário resolva o seu problema, na verdade tão simples, mas que a burocracia faz o possível para comp1icar. Ele veio da Paraíba especialmente para pedir autorização ao Conselho para o funcionamento da Faculdade de Filosofia de João Pessoa. Está aí há mais de vinte dias e ainda não conseguiu a preciosa assinatura. Fica sempre para a próxima reunião, pois os membros do Conselho juram que nunca “se deve fazer hoje o que se pode deixar para amanhã”. Enfim, pode ser que a esta hora já esteja tudo resolvido (pois “hoje já é depois de amanhã”) e que o nosso paciente professor já possa voltar para seu estado e continuar sua obra, que é das mais relevantes para a educação do povo brasileiro.

Sua entrevista foi um prazer, pois é sempre um prazer descobrir coisas boas para a Educação.

O professor Emanuel de Miranda Henriques, além de diretor da Faculdade de Filosofia da Paraíba, em seu período de organização, é também diretor do Ginásio do Estado. Foi, pois, sobre o ensino secundário que começamos a falar.

ESTUDAM GRATUITAMENTE TODOS OS QUE ASSIM O DESEJAM

— O curso secundário em João Pessoa não apresenta problemas, foram as suas primeiras palavras. O Ginásio do Estado é completamente gratuito e possui instalações para 1.300 alunos, sem o menor aperto. Nossos pedidos de matrícula nunca são superiores a esse número, nem mesmo conseguiram ainda atingi-lo, por isso não existe para nós o problema do espaço. No dia em que existir, solucionaremos o caso ampliando as instalações, ou oferecendo bolsas aos alunos mais pobres que quiserem frequentar o colégio dos maristas. Aliás, nesse sentido, já o governador José Américo está tomando providências, pois, como os padres maristas são excelentes professores e possuem um externato de primeira ordem, frequentado por todos os meninos que podem pagar seus estudos sem dificuldades, o governo pensou em prestar-lhes auxílio financeiro para a organização do internato, em troca de um certo número de bolsas para os meninos mais pobres. As moças também estudam muito na Paraíba. No Ginásio do Estado há um número sempre crescente de alunas e os dois colégios de freiras estão repletos. Há ainda a Escola Normal, para a formação das professoras primárias. Também nesta, nunca há falta de vagas, estudam lá todas as moças que pedem matrícula. A Escola Normal também é oficial e gratuita.

QUATRO ESCOLAS SUPERIORES EM DOIS ANOS

— E o curso superior?

— Antes do governo José Américo os paraibanos iam fazer o curso superior na Bahia ou em Pernambuco, o que dificultava muito a educação daqueles que não possuíam recursos financeiros, facilitando o afastamento dos jovens que procuravam empregar-se em outros estados para estudar, e lá faziam a sua vida profissional. De dois anos para cá, porém, o problema vem sendo perfeitamente solucionado; em 1951 o governador José Américo pôs em funcionamento as escolas de Direito e Medicina, estamos agora organizando as de Filosofia e Odontologia. No próximo ano será fundada a de Engenharia. Teremos, então, a Universidade completa, pois já possuíamos a de Agronomia, que era a única escola superior da Paraíba.

Naquele momento chegava o professor Luc de Charmont, vindo diretamente da França, para lecionar Língua, Literatura e História da Civilização Francesa na Faculdade de Filosofia da Paraíba, pois o governador José Américo não espera para amanhã, e quando o Conselho autorizar a escola começará a funcionar imediatamente, pois já está completa. Mas o professor Emanuel de Miranda é sereno, equilibrado e paciente, não fala mal do Conselho, não fala mal de ninguém, só fala de educação, e fala bem. Seu único desejo é que o deixem trabalhar descansado, contribuindo com toda a sua energia para a elevação do nível cultural dos paraibanos.

Cremos que exemplos como o do governador José Américo deveriam ser seguidos pelos demais governadores dos estados ainda sem universidades, e, na maioria das vezes, ainda sem cursos secundários, e até primários dignos de respeito. No Sul, o problema, além de qualitativo, é quantitativo, o que complica um pouco, mas nos estados menores, segundo parece, bastaria um bom ginásio oficial em cada cidade mais populosa e muitas escolas primárias e rurais, além das universidades nas capitais. Mas que venham, pelo menos, as escolas primárias, profissionais, rurais, os ginásios. Bons ginásios. Quando os jovens estão preparados basicamente, sempre conseguem solucionar o problema do curso superior. Mas o essencial é possuir base. O Brasil precisa deixar de ser um país solto no ar.

Publicado em O Mundo, em 1952.

Publicado em 11 de setembro de 2007

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