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Que educação é essa?

Ivone Boechat

Analisando com olhos pedagógicos, a situação educacional do Brasil dá para chorar e prantear e gritar de dor pelos milhões de jovens que conseguem ultrapassar todo tipo de barreira e entrar nas instituições escolares. Dói, mas dói muito, ver como os estudantes ainda acreditam no poder da escola e ter pleno conhecimento da imensa decepção que logo logo os assola! Eles chegam eufóricos, sim, porque mesmo quando é “gratuito”, não sai barato. É caro, muito caro, para entrar.

Aí começam as aberrações: todo mundo é burro, todo mundo é malandro, todo mundo é violento... Nós, educadores, sabemos que: todo mundo quer estudar, todo mundo quer aprender, pode-se vencer a violência... E ninguém venha dizer que só os pobres sofrem, porque a escola é pública, os professores ganham pouco, os recursos são escassos. Não! O sofrimento é geral!

No Brasil, a palavra organizado só é usada para o crime: crime organizado. É muita bala perdida! Há brasileiros perdidos também! Votos perdidos e verbas perdidas...

Os métodos de alfabetização no Brasil andam na contramão.

24% dos alunos do ensino fundamental das escolas brasileiras são obrigados a repetir a série pelo menos um ano – a maior proporção de toda a América Latina.

A Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura informa que a taxa de repetência de primeira a quarta série no Brasil é pior do que a do Camboja e equivalente à de países como Moçambique e Eritreia.

No ensino médio, entre 1998 e 1999 a taxa de repetência estava em 17,2%. Em 2001, a Unesco comparou 107 países; o Brasil tinha a mesma taxa de repetência do Burundi e do Congo: 25%. O Ministério da Educação gasta R$ 7 bilhões por ano com repetência no ensino fundamental.

Além de campeões de repetência, ficamos nos últimos lugares do Pisa – Programa Internacional de Avaliação de Alunos. A UNESCO considerou 45 países, cujos índices de repetência são superiores a 10%. O Brasil, com taxa de 21%, está próximo de 15 países, a maioria da África e do Caribe: Camboja, 11%; Haiti, 16%; Ruanda, 19%; Chile, 2%; Argentina, 6%. Brasil, Indonésia e Tunísia estão entre os que têm os menores níveis de conhecimento em Matemática do mundo.

A taxa de evasão, que em 1997 estava em 5,2%, aumentou para 8,3% em 2001. Nos cursos noturnos, essa proporção chega a 35%.

Os alunos mais ricos do Brasil têm desempenho inferior ao dos ricos de Espanha, EUA, Rússia, França, Portugal, Coreia do Sul e México.

Somente 27,6% dos alunos da rede privada que fizeram as provas de Matemática e de Língua Portuguesa tiveram desempenho considerado adequado pelo MEC.

Somente 3,7% dos alunos das escolas públicas se saíram bem no teste de Língua Portuguesa e 2,1% no teste de Matemática.

Pasmem! Segundo o professor Célio da Cunha, assessor para a área da educação da Unesco no Brasil, “o alto índice de fracasso é a falta de condições para os professores. Eles não estão preparados para ensinar alunos com dificuldades socioeconômicas”.

O Brasil tem 24,5 milhões de brasileiros portadores de algum tipo de deficiência, incluindo

176.067 surdos, 159.824 cegos e 6,59 milhões que têm dificuldades físicas motoras.

Ou seja, 14,5% da população brasileira apresenta alguma deficiência física, mental ou dificuldade para enxergar, ouvir ou locomover-se. Existe escola especial para eles?

Em meio a tantas coisas perdidas, só não pode existir educadores perdidos!

Publicado em 18 de setembro de 2007

Publicado em 18 de setembro de 2007

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