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20 anos de Goiânia: ciência e arte para contar a história de uma tragédia
Adriana Oliveira Bernardes Professora de Física
Ensinar Química e Física no curso de jovens e adultos é um dos grandes desafios que encontro hoje como professora. A convivência diária com alunos há tanto tempo afastados dos bancos escolares (situação da maioria) nos faz pensar no quanto é importante que façamos a nossa parte, que ofereçamos um ensino que verdadeiramente forme o cidadão consciente, criativo e responsável.
Pensei muitas vezes em como poderia conduzir o curso e cheguei à conclusão de que a melhor maneira seria dando importância à formação dos alunos como cidadãos; afinal de contas, precisava falar de radioatividade, e aqui no Brasil havia ocorrido a tragédia de Goiânia, com o césio 137, na qual material radioativo tinha sido espalhado no meio ambiente, contaminando várias pessoas.
O que mais impressionava na tragédia ocorrida em Goiânia era a desinformação da maior parte da população sobre o assunto. A cápsula, encontrada num hospital abandonado, continha 19g de césio e havia passado de mão em mão devido ao fascínio despertado nas pessoas pelo brilho azul oriundo do material. Algumas pessoas morreram e outras sofreram sequelas e preconceito até hoje, vinte anos depois da tragédia.
Eu queria, ao mesmo tempo, sensibilizar os alunos, chamar-lhes a atenção para a importância do conhecimento cientifico e mostrar que podemos utilizar outros recursos para melhorar o processo de ensino e aprendizagem. Com certeza o processo aumentaria a autoestima desses alunos, por perceberem que eram capazes, sendo alunos da EJA. Foi assim que pensei: por que não fazer com que ciência e arte caminhem juntas, construindo o conhecimento?
Alunos do EJA do Colégio Estadual Jaime Queiroz de Souza.
Era necessário trabalhar as potencialidades dos alunos, pois o assunto ia ficando conhecido pouco a pouco. Tentei canalizar essas potencialidades de várias formas: teatro, música, desenho, pintura... a tragédia de Goiânia seria expressa utilizando o talento dos alunos, com a forma de manifestação escolhida por eles. Um grupo ficou encarregado dos desenhos e surgiu nesse momento, sobre as folhas de cartolinas disponibilizadas pela escola, o rosto das vítimas de Goiânia, pessoas que não deveriam ser esquecidas, juntamente com a dos pioneiros da área nuclear; o paradoxo: passado e futuro se misturavam para serem reordenados naquele momento para falar de uma triste e grande tragédia que tão poucos conhecem.
Tínhamos muito que mostrar: músicas apresentadas no violão e flauta, colagens formavam mosaicos e os conteúdos pouco a pouco ficavam conhecidos da maioria.
Símbolo de alerta de radioatividade apresentado pelos alunos do EJA.
Os alunos envolvidos com informática propuseram fazer apresentações em PowerPoint com algumas etapas do trabalho, o que acabou contribuindo de certa forma para a inclusão digital dos alunos, já que convivem na escola pessoas que quase nunca utilizam o computador e por isso acabam mantendo certa distância dele.
O trabalho foi motivo de muito orgulho para mim, como professora, e também para o colégio; os próprios alunos se entusiasmaram com o que fizeram, pois no final eles aprenderam não só Física, Química e História Contemporânea do Brasil, mas também cidadania.
A história de Goiânia pelos alunos do EJA.
Fotos do Projeto:
Alunos da peça Brasil da indiferença: o descaso de Goiânia com as fotos das vítimas que representaram.
Cientistas, presidentes envolvidos com a questão e vítimas da radioatividade.
Getúlio e Kelle, apresentadores da mostra, fizeram excelente trabalho.
Eliézer e Lucélia na apresentação da música Rosa de Hiroshima, de Vinícius de Moraes e Gerson Conrad.
Alunos apresentam quadros de algumas figuras importantes da área nuclear.
Moisés, narrador da peça Brasil da indiferença: o descaso de Goiânia.
Isabel, aluna do EJA I, interpreta Maria Gabriela, uma das vítimas fatais de Goiânia, mulher de Devair Alves Ferreira, o dono do ferro-velho onde foi parar a cápsula de césio.
Aluna do EJA I, Arlene fala sobre o acidente de Goiânia.
Publicado em 9 de outubro de 2007.
Publicado em 09 de outubro de 2007
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