Este trabalho foi recuperado de uma versão anterior da revista Educação Pública. Por isso, talvez você encontre nele algum problema de formatação ou links defeituosos. Se for o caso, por favor, escreva para nosso email (educacaopublica@cecierj.edu.br) para providenciarmos o reparo.

Trabalhando com Jovens e Adultos

Adriana Oliveira Bernardes

Professora de Física

Sabemos da importância em oferecermos dentro da escola pública a modalidade de ensino EJA (Educação de Jovens e Adultos). Bem estruturada e pensada como uma modalidade de ensino que atenda a jovens e adultos que não tiveram oportunidade de frequentar a escola na idade adequada, ela favorece a permanência nas escolas destes jovens e adultos, propiciando aos mesmos uma educação de qualidade que serve, principalmente, para formá-los como cidadão. Isto inclui que eles recebam na escola conhecimentos sobre assuntos importantes tais como: a consequência do uso das drogas, a importância de uma alimentação adequada, seus direitos e deveres de cidadão, entre outros assuntos importantes capazes de desenvolver na população uma consciência maior do seu papel e função no mundo e um aprendizado que lhes propicie viver melhor em todos os sentidos em sociedade.

Muitas vezes dentro da escola, bons profissionais, pessoas bem formadas e com ótimas intenções não conseguem desenvolver um trabalho que sirva a este fim, e isto não só o frustra, como também aos alunos, que poderiam ali naquele espaço aumentar sua visão de mundo, e sentirem-se valorizados com o conhecimento que trazem de suas experiências de vida, experiências estas tão importantes quanto qualquer conhecimento acadêmico.

Isto nos faz pensar então que há algo errado. Em certos momentos nosso sistema educacional se mostra falho e pouco atraente, quem deseja frequentar uma escola que parece querer mostrar o quanto o aluno tem dificuldades para aprender, o quanto ele é fraco? Eu não gostaria de frequentar uma escola destas, acredito que ninguém gostaria, mas na verdade sem perceber foi esta a escola que frequentei, e é a escola na qual hoje ensino. É a mesma porque poucas coisas mudaram. O sistema de avaliação é um exemplo que contribui bastante para que estes problemas continuem, pois ela é utilizada muitas vezes como uma arma. Esta escola não respeita as diferenças. A avaliação utilizada como uma arma pelo professor já destruiu muitas mentes que poderiam hoje brilhar.

As considerações de Moacir Gadotti sobre a EJA mostram entre outras coisas a necessidade de reestruturação, e também a necessidade do Ensino de Jovens e Adultos não ser confundido com os cursos oferecidos no turno da noite, que na verdade surgem como opção ao ensino do turno matutino. Ao contrário, a EJA é uma modalidade de ensino direcionada especificamente a jovens e adultos, muitas vezes podendo ser oferecida em outros turnos que não o noturno para assim atender aos que não podem frequentá-lo à noite.

A escola pública precisa oferecer condições para que o jovem e o adulto permaneçam na escola recebendo ensino de qualidade que os desenvolva como cidadão pleno. É necessário que não esqueçamos disto, o que ensinamos só será importante quando contribuir efetivamente para o desenvolvimento do aluno. E isto vai ocorrer na medida em que ele obtenha, na escola, informação para uma vida melhor. Por exemplo: que aprenda a utilizar um caixa eletrônico, a se alimentar de forma adequada e a se prevenir em relação às doenças.

As possibilidades de trabalho com turmas do EJA são amplas, a partir do momento em que contextualizarmos as disciplinas. É importante para os alunos vincularem o que estão estudando aos problemas do dia-a-dia e que contribuam com sua bagagem de vida para o desenvolvimento do curso.

Não seria muito difícil discutir Sociologia abordando o tema do desemprego, que é um problema enfrentado por uma imensa maioria da população, discutir Filosofia, através da questão da ética na profissão, tão importante para todos nós, em Matemática, questões relacionadas a juros. Afinal de contas, vivenciamos no nosso dia-a-dia questões relacionadas a todas estas disciplinas. Não há porque o ensino oferecido fugir destas questões e se apresentar tão subjetivo que muitos alunos acreditem que não possam aprender.

Na Física, podemos explorar várias questões como, por exemplo, os raios-X e a radioatividade. Os raios-X desde sua descoberta vêm sendo amplamente utilizados em medicina e fazem parte da nossa vida, a radioatividade, hoje alvo de tantas polêmicas, é utilizada tanto na medicina como também na esterilização de alimentos, sem contar a utilização da energia nuclear. O fato das ciências aparecerem para o aluno como algo presente em sua vida e de utilidade para o mesmo, aumentará seu interesse pela disciplina.

Ao meu ver as perspectivas para o desenvolvimento de um bom trabalho com a EJA são enormes e por se tratar da educação de pessoas adultas, o interesse é maior e a vivência dos problemas também, por isso as contribuições para ambas as partes, aluno e professor podem ser ampliadas. O trabalho do professor deve ser pautado sempre por este princípio: desenvolver o aluno e a ele também como professor, para isto é necessário que exista diálogo, troca, sendo que o professor deve estar preparado para conduzir todo este processo.

Mas quem está dentro da escola pública sabe que não é fácil. Sabe, por exemplo, das dificuldades de se trabalhar com um projeto, receber apoio e desenvolvê-lo dentro da escola.

É importante também termos em mente que um projeto direcionado à EJA deve estar perfeitamente integrado ao Plano Político Pedagógico da escola. Aliás, como qualquer outro projeto de outro segmento, as escolas devem se tornar palco de discussão de ideias. Não deve haver isolamento dentro da escola e sim integração em torno do Plano Político Pedagógico, repensando a EJA e a escola como um todo perfeitamente integrado e de mãos dadas com a comunidade.

Projeto desenvolvido no Colégio Estadual Jaime Queiroz de Souza

Gostaria de relatar algumas das experiências com EJA que tive, uma delas no ano passado, no Colégio Estadual Jaime Queiroz de Souza, localizado no Noroeste Fluminense, em Itaocara, no qual trabalho como professora de Química e Física.

Antes de qualquer coisa, o projeto visava integrar à escola alunos há muito tempo distantes dos bancos escolares e favorecer o diálogo constante entre alunos e professores mostrando a necessidade de contextualização do que está sendo ensinado.

Dentro da disciplina Química a necessidade de contextualização é evidente, pois o conteúdo para os alunos, na maioria das vezes, é de difícil assimilação.


Alunos apresentam seminário sobre Alimentação Saudável no Colégio Estadual Jaime Queiroz de Souza, em Itaocara/RJ

Vincular o que está sendo aprendido com problemas do cotidiano, alunos da EJA conhecem a importância de uma boa alimentação para que não venham a  desenvolver determinadas  doenças.

O principal objetivo deste trabalho foi a realização de uma pesquisa que apresentasse dados sobre a alimentação da comunidade.

O questionário foi feito a partir de pesquisas em livros, Internet e em vários textos de revistas, e foi aplicado nas turmas do colégio e também na comunidade local. Merece destaque a participação ativa dos alunos em todo este processo de desenvolvimento do trabalho.

Constatado os problemas nas dietas dos alunos, o trabalho foi apresentado em seminário para várias turmas do colégio, com o título de: A Necessidade de uma Alimentação Saudável. Depois, foram realizadas campanhas com a distribuição de informativos sobre alimentação saudável para todos alunos da escola.

Mais do que informar e instruir, o projeto mostrou aos alunos da EJA um outro papel que poderiam assumir dentro da escola, o de agentes do conhecimento. Isto lhes aumentou a autoestima, a vontade de aprender e de estar naquele ambiente.


Aluna do EJA entrevista aluno do curso de ensino médio noturno sobre seus hábitos alimentares.

Alguns dados obtidos pelos alunos

A partir dos dados obtidos, o colégio convidou um médico e uma nutricionista para realizarem palestras para os alunos sobre alimentação saudável, sendo que orientações foram dadas para que a alimentação na escola também fosse adequada aos alunos, sendo que os alunos da EJA tiveram papel ativo em todas as etapas do projeto.

Mais do que uma pesquisa sobre alimentação, o trabalho conscientizou e esclareceu os vários segmentos da escola: direção, funcionários e alunos a respeito de várias questões importantes sobre alimentação saudável.

Todos estes resultados positivos alcançados mostram que acreditar na EJA pode trazer bons frutos, e que na verdade acreditar na educação pode trazer bons resultados.

Para isto é necessário entre outras coisas: além de acreditar, ter iniciativa e acima de tudo não ficar esperando pelas mudanças, realizá-las na parte a qual compete a nós, professores, mesmo que estas ações pareçam inicialmente pequenas gotas num imenso oceano.

Publicado em 30 de janeiro de 2007

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.