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BIFURCAÇÕES ENTRE DIDÁTICA E FORMAÇÃO DOS PROFESSORES: DO DISCURSO À PRÁTICA SOCIAL

Marcelo Bezerra Martins

O termo didática, para a maioria dos professores, remete a técnicas de ensino que deveriam ser aplicadas em sala de aula a fim de que se conseguisse aprendizagem dentro dos ditames da Pedagogia. Contudo, na História da Educação, a palavra didática e seu espectro de pesquisa vêm passando por inúmeras transformações, o que gera consequentemente várias visões e problemas os mais variados na concepção da ciência, promovendo assim a apatia por parte de uns e a instigação por outros.

Logo, as bifurcações que são inerentes à Educação, mormente à sua prática e consecução, estão imbricadas nestas longas discussões acerca da Didática. Contudo, vale ressaltar que tais problemáticas servem de estímulo para que haja, dentro da sociedade educacional brasileira, uma efervescência de pesquisadores que discutem a tênue distância entre Didática e Currículo, causando às vezes descompassos na compreensão de ambos, pois são muito afins e precisam estar “sintonizados” para que exista uma práxis docente consideravelmente eficaz, haja vista que ambos (Didática e Currículo) têm como premissa as melhores condições de ensino/aprendizagem, oferecendo prioritariamente ao educando condições favoráveis de consecução do conhecimento adquirido no ambiente escolar e sua articulação com a realidade em que vive.

Desde os jesuítas até os teóricos pós-modernos, há um consenso de que a prática docente é o importante desafio da Educação, bem como sua consecução através da formação desses profissionais, condizente com o anseio da população e as perspectivas legais que vigem sobre Educação.

Entretanto, o que se vê com muita frequência na atualidade nacional é uma perspectiva de formação docente difusa, em que muitos profissionais possuem apenas a formação em Nível Médio, que não promove integração condizente com as propostas educacionais, muito menos com as propostas legais, além de, num microespaço (escola), não haver dentro da proposta pedagógica (quando a escola possui) uma política de fomento à formação inicial e continuada, causando descompassos e discrepâncias que comprometem sobremaneira os educandos, pois tanto há profissionais que possuem a formação mínima mas conseguem vencer as limitações de sua formação quanto há aqueles que tiveram a oportunidade de adentrar a academia, cursar uma licenciatura, especializar-se e mesmo assim continuam  na “mesmice”, causando espanto a quem vê, quanto mais a quem vivencia tal descompasso.

A partir das discrepâncias, das adversidades da formação docente, construiu-se na História da Educação um desprestígio generalizado da prática docente, banalizando o importante papel desse profissional na construção de ideários socioculturais.

Assim, o binômio docência/discência, tão apregoado por Paulo Freire em suas propostas educacionais, deve ser a peça fundamental para vencer o desafio do ensinar/aprender, em que o educador deve se sentir partícipe do processo, jamais o condutor da mudança, pois a dialogicidade deve ser premissa na práxis docente, além de requisito salutar para que a Didática tenha relevância e cumpra seu papel de articuladora e indiciadora das transformações educacionais, pois um currículo só é pensado a partir das concepções subjacentes à Didática.

Entender a indissociabilidade de ambos requer um mergulho nas vivências, nas experiências, nos desafios e nas possibilidades comuns aos docentes – prioritariamente àqueles que atuam em escolas públicas –, que denotam os grandes impasses vividos na pós-modernidade, na inquietação dos pesquisadores das Ciências da Educação, que procuram incessantemente teorizar Currículo, Didática e formação docente. Nesse âmbito ocorre outra bifurcação: como estudar a tríade acima sem entender e ouvir os principais partícipes do processo, os educadores?

Os estudos pós-críticos na área de Currículo indicam os grandes prejuízos decorrentes da falta de criticidade subjacentes às décadas de 1960 e 1970; os anos 1980 são intimidantes e voltados para as análises críticas do Currículo –estudiosos como Púra Lúcia, Marly André, Selma Garrido, Vera Candau, Paulo Freire e Moacir Gadotti atuam como articuladores nacionais dos estudos em Didática e Currículo; os Endipes (Encontros Nacionais de Didática e Prática de Ensino) tornaram-se grandes fóruns de discussão que fomentam as profundas análises em nível nacional, decorrentes das novas concepções de Currículo, Didática e Educação.

Com as mudanças nos estudos da Didática expandindo e as propostas de Currículo tomando nuances de flexibilidade, a escola começa a apresentar, mesmo que utópico, um panorama diferenciado.

A Constituição Federal, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, e demais legislações que visam à modificação do padrão cultural da sociedade, “futucam” as bifurcações entre Didática e Currículo, mostrando que a Educação está atrelada exclusivamente às transformações sociais. É óbvio que as mudanças não ocorrem como milagre, muito menos sem a participação dos movimentos engajados, o que demonstra que a Educação tem muito a contribuir com as transformações socioculturais, tendo a Didática como facilitadora da práxis e o Currículo como mediador do processo de inclusão das temáticas que envolvem minorias e discrepâncias sociais.

Mesmo com as drásticas afirmações e os resultados (ineficientes) nas provas e avaliações de desempenho dos estudantes, a bifurcação existente nessa problemática não é decorrente, em sua essência, do Currículo, muito menos da Didática, nem da formação docente. Vale ressaltar que tais articulações promovem melhorias, mas há de se convir que a família e demais Instituições sociais também não cumprem com seu papel, pois à escola cabe auxiliar no processo de consolidação da personalidade e oferecer informações suficientes para que os educandos sintam-se autônomos e exerçam essa autonomia nos desafios que encontrarão ao saírem da escola.

Contudo, a escola mantém-se praticamente só na tarefa de educar. Logo, o docente, a proposta pedagógica e as perspectivas educacionais são apenas alguns dos problemas que as instituições escolares enfrentam; a má qualidade estrutural, aliada às péssimas condições de oportunidades aos docentes e a incipiente política pública de extensão culminam na crise curricular nas escolas públicas. Desse engodo, não se escapa o Ensino Superior – os cursos de Pedagogia sofrem incessantemente com as constantes mudanças nos fluxogramas e no papel do pedagogo na Educação, em que licenciados de áreas específicas sentem-se na responsabilidade de entender Currículo e Didática, desprezando muitas vezes o profissional mais adequado para construir uma proposta didático-curricular que contemple todas as perspectivas das variadas áreas do conhecimento, sem com isso fragmentar o conhecimento ou compartimentalizar as ações pedagógicas.

Publicado em 18 de dezembro de 2007.

Publicado em 18 de dezembro de 2007

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