Este trabalho foi recuperado de uma versão anterior da revista Educação Pública. Por isso, talvez você encontre nele algum problema de formatação ou links defeituosos. Se for o caso, por favor, escreva para nosso email (educacaopublica@cecierj.edu.br) para providenciarmos o reparo.

Acorrentados – A Fábula da TV

Karla Hansen

Desfazendo correntes imaginárias

Ela está no centro da sala, cada vez ocupando mais espaço em telas de 29, 42 polegadas, com som e imagem "de cinema", contando histórias, sejam elas fictícias ou reais. Não é isso a televisão? Uma "contadora de histórias" iluminada, que se tornou a rainha do lar e atrai para si a atenção de todos, crianças, jovens, adultos e velhos, que já não se lembram porque estão ali. Assistir à televisão faz parte do cotidiano, é um hábito que se repete todos os dias e, como hábito, é algo automático sobre o qual não se pensa. Ou melhor, não se pensava.

Hoje, educadores, artistas, filósofos, psicólogos, comunicólogos têm pensado como nunca na televisão. Não no aparelho - se bem que este também passa por um momento de mudanças e discussões -, mas no conteúdo e na forma dos programas e, mais que isso, em como o que vemos e ouvimos afeta nossos sentidos, nossas sensações, nosso modo de ver e de conhecer o mundo e a nós mesmos.

Wagner Bezerra é uma dessas pessoas. Diretor e roteirista de programas educativos para tevê, autor de livros, de diversos artigos, enfim, um estudioso do tema mídia e educação para os meios. Ele adaptou o Mito da Caverna de Platão para explicar para crianças, pais e professores como a atitude acrítica diante da televisão faz de nós pessoas "acorrentadas" e mostrou que o caminho para a libertação está na busca pelo conhecimento.

No livro "Acorrentados - a Fábula da TV" ele narra, para um público infantil, a história de um povo que vive dentro de uma caverna e nunca se aventurou a sair. Sua única "visão" de mundo externo chega através de imagens e sons projetados por um ilusionista que, dessa maneira, mantém o povo prisioneiro. "Aceitando tudo o que Doxa (o ilusionista) decidisse oferecer ou apresentar, de um jeito passivo, sem conflito, sem rebeldia".

A vida seguia assim para gerações após gerações de habitantes da caverna até que Episteme, uma menina curiosa, amante das artes e da ciência, resolve sair da caverna e, do lado de fora, sente a dor do contato com a intensa luz do dia, mas apesar disso, se depara com "uma vida inteiramente nova, com novos prazeres, encontros, descobertas, possibilidades e, principalmente, uma nova percepção da realidade".

Episteme, a libertadora, conhece Eidos, a ideia, e juntos decidem voltar à caverna "...e ajudar a quebrar as correntes imaginárias que condenavam os acorrentados ao atraso, ao medo e à submissão..."

Os acorrentados são, portanto, prisioneiros de uma opinião única, de uma única fonte de conhecimento que se pretende verdadeira e absoluta e das projeções das sombras como único meio de informação e de lazer. Nas palavras do autor, eram "correntes imaginárias que condenavam os acorrentados ao atraso, ao medo e à submissão..."

Qualquer semelhança com o que acontece com pessoas que são dependentes da televisão ("acordam com televisão, toma café com televisão, almoçam com televisão...") não é mera coincidência.

Com a adaptação do Mito da Caverna de Platão, o autor põe em foco o poder encantatório, de sedução da tevê, que faz as pessoas viverem num mundo de sombras, de ilusões e distantes da vida real, com todas as suas cores, diversidade, possibilidades de encontro e oportunidades de aprendizagem. Mas como um "acorrentado" pode se libertar da dominação das "correntes imaginárias"?

Para isso, principalmente no caso das crianças, o autor mostra que os adultos, pais e professores, podem ajudá-las a ver a televisão como um meio entre tantos outros que existem e podem nos proporcionar informação e entretenimento. Além disso, diante do poder inegavelmente sedutor da televisão, devemos aprender a ser soberanos, ou seja, capazes de escolher criticamente o que vemos e o que queremos ver, ou seja, uma programação de qualidade.

Wagner Bezerra diz mais, que para não nos tornarmos prisioneiros do meio, não é preciso proibir, censurar ou desligar a tevê, mas, sim, incentivar a busca por outras (são infinitas) fontes de prazer e de conhecimento.

Na segunda metade do livro, o autor apresenta experiências felizes com crianças de 5, 6 e 7 anos de uma escola de Barbacena, Minas Gerais, em que a fábula "Acorrentados" foi usada em atividades didáticas nas quais os alunos classificaram os programas de tevê que eles mais assistiam. A professora conta que, agora, os alunos já sabem diferenciar o que é um programa "lixo" e o que é um programa "bom para assistir".

Nada impede, porém, que esse tipo de atividade pedagógica, de colocar o hábito de assistir tevê em discussão, possa dar bons frutos em classes de adolescentes, jovens e adultos e, mesmo, em conversas informais, entre pais e filhos.

Por problemas da editora, o livro deixou de ser publicado, ainda que tenha sido muito bem recebido no meio educacional. Atualmente, o autor busca novos interessados em publicar uma nova edição dos "Acorrentados - A Fábula da TV".

Enquanto isso, Wagner Bezerra disponibiliza seu e-mail (wagner.bezerra@infolink.com.br), para contato com pessoas interessadas no tema.

Publicado em 06 de fevereiro de 2007.

Publicado em 06 de fevereiro de 2007

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.