Este trabalho foi recuperado de uma versão anterior da revista Educação Pública. Por isso, talvez você encontre nele algum problema de formatação ou links defeituosos. Se for o caso, por favor, escreva para nosso email (educacaopublica@cecierj.edu.br) para providenciarmos o reparo.
Machado de Assis na minha vida – retratos
Letícia Calhau
Estava pensando no que escrever sobre Machado de Assis, provocada por um amigo que me enviou um e-mail:
“O que você tem escrito? Quais têm sido suas leituras atuais? Mande um texto seu sobre Machado de Assis.”
Procurei meus textos acadêmicos, minha produção como aluna de Letras e, enquanto procurava por eles, deparei-me com uma questão curiosa: não deveria reproduzir o que havia escrito no passado, nos padrões que antes seguia fielmente; poderia dar asas ao meu poder de observação e, seguindo o exemplo do escritor, observar ao meu redor e fazer um diagnóstico da minha realidade, talvez com alguns recursos de ficção.
Deixei meus textos acadêmicos de lado e fui contextualizar minha reflexão. Passei a pesquisar meus textos livres, que tenho escrito em um blog há três anos, um espaço de fragmentos de ideias, pensamentos e poemas, e percebi que minha escrita tinha forte influência do Bruxo. Ele havia se misturado a meus pensamentos, meus questionamentos, minhas ideias.
Comecei por sondar os traços dele em mim, sua influência, e vi a presença da forte Capitu nos meus textos sobre mulheres. Olhos de ressaca que deram lugar à comparação com outros: olhos de girassóis, olhos de descobrimento, olhos de rebeldia.
Achei o que estava procurando sobre Machado de Assis. Percebi que a influência de seus textos parece não ter fim. É um poder mágico sobre as palavras que as faz sempre atuais, sempre passíveis de intertextualidade.
Foi nessa hora de pesquisa de Machado em mim, na minha realidade, nos textos publicados na Internet, que encontrei e esbarrei em tantos outros textos de amigos internautas. Havia blogs e mais espaços que tratavam da imagem da Capitu. Até mesmo nas salas de bate-papo eu encontrei essa imagem feminina. Adolescentes, jovens, crianças. Todos parecem se encontrar e se identificar com a história de Dom Casmurro.
Nessas pesquisas redescobri coisas boas, como a música Capitu, cantada por Zélia Duncan; fiquei três dias sem conseguir parar de ouvi-la:
De um lado vem você com seu jeitinho
Hábil, hábil, hábil... e pronto!
Me conquista com seu domDe outro esse seu site petulante
www ponto poderosa ponto com
(...)Capitu
A ressaca dos mares
A sereia do sul
Captando os olhares
Nosso totem tabu
A mulher em milhares
Capitu
Não fiquei satisfeita com minhas descobertas pelo mundo da Internet. Chamei alguns parentes para um almoço e comecei minha pesquisa pelo mundo da intertextualidade. Foi só citar um nome que muitas histórias apareceram: primos, tios, meus avós. Sempre havia uma história preferida, um personagem de Machado com o qual se identificavam. O inesperado foi ouvir de Ana, uma prima de nove anos:
– Eu adoro a Capitu. Ela é linda. Minha mãe diz que ela se parece comigo. Seus olhos são como os meus: redondos, amendoados. Eu tenho olhos de ressaca.
Essa foi a maior descoberta que eu fiz: minha pequena prima já havia entrado no mundo das letras de Machado por um filme que havia visto e revisto várias vezes na TVE.
São tantas as mulheres que entendem Capitu, “a mulher em milhares”. Vejo a obra de Machado influenciando muitas gerações, rompendo barreiras, sendo usada em todos os espaços, para todos os gostos.
Depois de tantas surpresas boas, voltei para meu lugar de criação, coloquei a música de Zélia para tocar e terminei de publicar no meu blog um texto novo, cheio de traços machadianos.
http://mosaicodedeus.blogspot.com/
Publicado em 25 de março de 2008.
Publicado em 25 de março de 2008
Novidades por e-mail
Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing
Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário
Deixe seu comentárioEste artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.