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Bela manhã

Alexandre Rodrigues Alves

Acordei bem cedo hoje. O despertador tocou sua suave melodia, lembrando-me carinhosamente que começava mais um dia de trabalho. Pronto! Mais uma jornada de labuta estafante e desagradável.

Levantei-me descansado, com tempo de tomar um café da manhã completo, preparando torradas com manteiga dinamarquesa, suco de laranja e acerola.

Enquanto fazia o desjejum, liguei a televisão. O jornalista, às gargalhadas, ia lendo as notícias em voz baixa, num tom alegre, otimista e pessoal: "taxa de juros cai para 3% ao ano"; "quatro milhões de famílias vão pedir o cancelamento do Bolsa Família, pois já têm renda suficiente para se sustentar"; "Estados Unidos pedem desculpas ao Iraque e devolvem todas as reservas internacionais, renacionalizam o petróleo iraquiano e indenizam famílias dos civis mortos".

Por causa das notícias, não havia percebido o silêncio que vinha das ruas. Minha esquina de Copacabana estava quieta como se fosse um dia de luto nacional. A vizinha em frente, que sempre fechava as cortinas quando eu chegava à janela, mostrou-me todo seu apartamento e ainda sorriu para mim. O telefone tocou. Era o dono da oficina avisando que eu já podia ir pegar meu carro. Pelas suas previsões, só ficaria pronto sexta-feira à tarde, mas já estava consertado, pois o problema era mais simples do que ele pensava e não tinha nada para pagar.

Fiz a barba sem me cortar. Tomei um bom banho, a água estava quente e abundante. Deixei de lado minhas preocupações ecológicas e passei meia hora sob as águas. Delícia! Penteei minha vasta e negra cabeleira, vesti uma camisa impecavelmente passada e uma calça que, para fechá-la, não precisei prender a respiração.

Peguei minha pasta, leve e pequena, os documentos estavam todos juntos ao dinheiro - que era mais do que eu esperava. Coloquei os óculos, límpidos. Olhei para o relógio de pulso: eu estava adiantado pelo menos quinze minutos! Decidi ir a pé para o escritório, para não aumentar os índices de monóxido de carbono na atmosfera e ajudar a diminuir o trânsito nas ruas.

Fechei a porta do apartamento na hora em que a porta do elevador abria; uma vizinha ranzinza acabara de chegar e me cumprimentou amigavelmente no corredor. Entrei no elevador e ele desceu até a portaria sem parar em nenhum dos dezesseis andares abaixo do meu.

O porteiro cumprimentou-me, efusivo, perguntando-me se eu lhe indicaria um bom investimento, pois estava com dinheiro sobrando; aproveitou para avisar-me que este mês não haveria taxa de condomínio para pagar, porque havia superávit nas contas do prédio.

Ao sair do prédio, tropecei num grosso barbante que estava estendido na calçada e caí como uma jaca. Esqueceram de cortar a corda que estica uma faixa publicitária de um desses políticos que tudo comemoram. Dizia: "Feliz 1º de abril!".

Pubicado em 1/4/2008

Publicado em 01 de abril de 2008

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