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Flores de plástico não morrem... Mas podem matar

Mariana Cruz

Vida útil
Dicas para simplificar a vida

Há uns oito anos, uma amiga me disse que, quando fazia compras, não usava as sacolas do supermercado, enfiava tudo na mochila para não gastar plástico à toa. Achei interessante a ideia e comecei a imitá-la. Tanto as caixas do supermercado como os outros clientes da fila ficavam olhando, interrogativos. Nos dias de hoje, tal conduta exótica vem ganhando cada vez mais adeptos. Embora o número ainda seja pequeno, os olhares já não são de estranhamento total; a maioria entende de imediato o motivo da ação. Isso mostra que o exotismo de anos atrás virou uma questão de cidadania atualíssima, e os eco-chatos de outrora nada mais eram do que vanguardistas bem intencionados.

No Brasil, estima-se que as redes de supermercados utilizem mensalmente 700 milhões de sacolas plásticas de compras. A maioria delas, depois, é utilizada para colocar o lixo doméstico e por fim jogada nos aterros ou na própria natureza. Aí são cerca de 100 anos para se decompor.

As sacolas plásticas, além de não serem recicláveis, são resistentes à degradação. O problema não se limita à terra. Nos rios e córregos, os plásticos, geram entupimentos da drenagem e flutuam nos mares, fazendo com que diversos animais marinhos morram por sua ingestão. As tartarugas marinhas, por exemplo, comem esses plásticos, pois confundem-nos com as águas vivas, uma de suas fonte de alimento. Além disso, geram zonas mortas no fundo dos oceanos de até 70 mil quilômetros quadrados.

Pensando nisso, algumas soluções já estão sendo apresentadas. A rEs Brasil – empresa de representação, distribuição e licenciamento industrial – está importando com exclusividade uma nova tecnologia para as fábricas de plástico do Brasil. É um processo em que são acrescentados aditivos aos plásticos comuns, transformando-os em artigos degradáveis, biodegradáveis e/ou hidrossolúveis, o que faz com que, em contato com a água, o álcool se desmanche sem deixar resíduos. São os plásticos oxibiodegradáveis. Com a adoção de tais técnicas, as décadas que as sacolas plásticas demorariam para se decompor se reduzem a meros 18 meses. Tal processo é realizado através da fragilização das ligações entre as moléculas de carbono formadoras do plástico, o que faz com que bactérias e fungos possam digeri-los. Não é à toa que os plásticos oxibiodegradáveis já estão sendo utilizados em mais de 40 países.

Esse processo, apesar de ter um custo de fabricação mais elevado do que o plástico comum, gera economia nos aterros – uma vez que os sacos plásticos são hoje responsáveis por grande porcentagem do lixo - e na drenagem dos rios. Há também outras novidades ecológicas, como a utilização da resina de milho e mandioca na feitura de pratos e copos descartáveis, bem como sachês plásticos de detergente que se desmancham ao entrar em contato com a água.

Contra a adoção dos plásticos oxibiodegradáveis estão aqueles que afirmam que eles são tão agressivos ao meio ambiente quanto os plásticos comuns, na medida em que sua produção emprega catalisadores derivados de metais pesados como níquel, cobalto e manganês. Para piorar, dizem ainda que as partículas produzidas no processo de decomposição, se atacadas pela ação de microrganismos, liberam gases do efeito estufa, como CO2 e metano, compostos inexistentes no plástico comum, que se infiltram no solo, contaminando os lençóis freáticos. Os defensores dos oxibiodegradáveis dizem que a propagação dos metais pesados no meio ambiente só ocorre caso sejam utilizadas tintas não solúveis. Se forem empregadas as solúveis ou não forem utilizadas quaisquer tintas, o problema não existirá.

Para dar fim à polêmica sobre sacolas de plásticos e as oxibiodegradáveis, uma velha conhecida nossa pode ser a solução: as manjadas sacolas de pano. Em alguns lugares dos Estados Unidos, como San Francisco, a utilização de sacos plásticos em supermercados e farmácias não é mais permitida (com exceção das sacolas feitas de produtos derivados do milho). Em diversos países da Europa, os sacos plásticos utilizados nos mercados são cobrados; assim, a clientela tem a opção de trazer de casa uma bolsa de pano, palha ou algum material durável ou pagar um pouco mais pelas compras. Na Irlanda, a cobrança pelas sacolas plásticas ocorre há anos, e o dinheiro é revertido para projetos ambientais.

As sacolas de pano já são uma febre mundial, virando inclusive acessório de moda nos Estados Unidos, onde transitam pelas ruas, penduradas nos ombros de celebridades e pessoas preocupadas com o meio ambiente com bem-humoradas inscrições, como a famosa: “I’m not a plastic bag” (Eu não sou uma sacola plástica).

O fashion agora é ser politicamente correto.

Sites pesquisados:

Tempo de decomposição dos resíduos

  • Papel: 3 a 6 meses
  • Jornal: 6 meses
  • Palito de madeira: 6 meses
  • Toco de cigarro: 20 meses
  • Náilon: mais de 30 anos
  • Chiclete: 5 anos
  • Pedaços de pano: 6 meses a 1 ano
  • Fralda descartável comum: 450 anos
  • Lata e copo de plástico: 50 anos
  • Lata de aço: 10 anos
  • Tampa de garrafa: 150 anos
  • Isopor: 8 anos
  • Plástico: 100 anos
  • Garrafa plástica: 400 anos
  • Pneu: 600 anos
  • Vidro: 4.000 anos
  • Fralda descartável biodegradável: 1 ano
  • Sacolas biodegradáveis: em média 18 meses

Publicado em 8 de abril de 2008.

Publicado em 08 de abril de 2008

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