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No meio do caminho tinha sangue
Luís Estrela de Matos
Há que se jogar o lixo na lixeira. Há que se jogar aquilo que não se gosta fora. Atirar as coisas à distância. Gostava-se disso em outras infâncias. Não era virtual a pedra que zarpava, alucinadamente, ora numa direção ora noutra, e depois afundava. Ria-se com aquilo tudo. Os rios, os açudes e também as águas das praias guardavam nossas brincadeiras. Revólveres e metralhadoras? Também os tínhamos. Em menor quantidade. Matávamo-nos menos, eis uma triste constatação (deixemos a verdade fora disso). Hoje, virtualmente (antes fosse...) mata-se muito. Os garotos e garotas cansam de matar pela tela. A chacina transborda pelos teclados nauseabundos. Parece que hoje mata-se com mais pertinência, existe mais lugar para a truculência. Ser violento é da ordem do dia. Vira livro, transforma-se em filme. Ibope, eis a palavra mágica.
Jogar coisas fora é coloquial, limpar (ó santa necessidade ocidental judaico-cristã da limpeza...) é imprescindível. Coisas velhas não se acumulam. Aquilo que fica velho merece o fora, o distante, enfim, o lugar escolhido das sociedades: o lixo.
Mas... e as pessoas? O que fazer delas? Jogá-las fora?... No meio do caminho havia uma menina morta. Desculpe, Drummond. Você não merecia isso.
Pubicado em 15/4/2008
Publicado em 15 de abril de 2008
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