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O urso forte

Maurício Barros de Castro

Estava ao lado de dois amigos. De repente, em meio à conversa, lancei para eles a pergunta: "Algum de vocês poderia contar qual foi o melhor momento de suas vidas?". Eles se entreolharam. A primeira reação foi de um certo constrangimento. Parecia que eu estava querendo saber de uma coisa muito íntima. Ao mesmo tempo, era uma pergunta difícil. Foi o que me disseram, enquanto buscavam o tal momento na memória, um esforço denunciado por suas expressões; testas franzidas e olhares perdidos no vazio. Confesso que, se a pergunta fosse endereçada a mim, também teria dificuldades em responder.

"O melhor momento da minha vida foi o nascimento do meu filho", disse meu amigo, finalmente. A resposta dele não me surpreendeu; tinha apenas um filho, parecia natural que este fosse o momento mais marcante que tivesse vivido até então. Ele continuou. "O melhor momento que já vivi foi quando ele nasceu, e o pior foi pouco depois do nascimento".

A história contada foi a seguinte: a mãe do seu filho havia escolhido realizar o parto na posição de cócoras, e se preparou para isso durante todo o processo da gestação. Nem tudo saiu como o previsto. No dia que as contrações a levaram ao hospital, a médica de plantão lhe informou que nunca havia feito esse tipo de parto. O hospital público ficava em Santa Catarina, no sul do país. A outra médica - a especialista na operação feita de cócoras que havia orientado a gestante durante a gravidez - não estava escalada para aquele dia. Ainda assim, a grávida insistiu em parir seu filho da forma para a qual havia se preparado.

Presente na hora do parto, meu amigo sentiu de perto a intensidade daquele momento, por isso se tornou tão importante para ele, apesar de todas as dificuldades. O nascimento foi sofrido devido à inexperiência da médica. Por fim, o pequeno Bernardo veio ao mundo, mas na hora de amamentar aconteceu o pior. O leite saiu pelo nariz. A criança nascera com má-formação no esôfago, canal que liga a boca ao estômago. No caso dele, a ligação estava sendo feita da boca para o pulmão. O bebê teve que ser imediatamente operado e passou quinze dias na UTI.

Bernardo sobreviveu. Meu amigo disse que, ao escolher o nome do filho, foi procurar saber seu significado. Bernardo significava "urso forte". O que ele não sabia era que o pequeno urso teria que mostrar sua força logo nos primeiros instantes de vida.

Pubicado em 17/6/2008

Publicado em 17 de junho de 2008

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