Este trabalho foi recuperado de uma versão anterior da revista Educação Pública. Por isso, talvez você encontre nele algum problema de formatação ou links defeituosos. Se for o caso, por favor, escreva para nosso email (educacaopublica@cecierj.edu.br) para providenciarmos o reparo.

O direito de errar

Alexandre Rodrigues Alves

Na tarde de 4 de fevereiro, um bom jornalista dO Globo – que é um jornal respeitado também por seu cuidado com a linguagem que emprega em suas páginas – saiu-se com uma “pérola” na edição que circula na Internet. Falando das mudanças que estão sendo estudadas para serem aplicadas nas provas dos concursos para magistrados, ele escreveu: [essa medida] “será muito bem recebida entre os milhares de estudantes de direito e jovens bacharéus que deixam os bancos das universidades em busca de um concurso público e uma carreira no Judiciário”.

Provavelmente no sul do Brasil esse erro não seria cometido, porque naquela região o l é pronunciado em sua lateralidade, a ponto de a maioria de seus habitantes pronunciar milium (mil e um), quando os cariocas pronunciam miuium. Os cariocas e aqueles que falam o carioquês, com seus chiados, frequentemente confundem o l e o u no final das palavras – daí a frequência de troféis, chapéis e degrais que ouvimos por aí (ainda bem que nunca apareceram bacalhais).

Certamente o jornalista carioca ficou em dúvida entre bacharéus e bacharéis porque não lembrou de uma palavra derivada dela, como bacharelado, nem teve chance de procurar seu diploma para ver o título que lhe estava sendo conferido.

É óbvio que o Bernardo de la Peña, além de seus anos de jornalismo escrevendo corretamente, pode justificar seu erro pela pressa de colocar a nota na coluna do jornal na Internet ou pela falta de oportunidade de relê-la; pode mesmo dizer que na hora achou que era assim o plural. O fato é que, menos de cinco minutos depois – e após comentários de dois leitores –, o texto estava corrigido.

Como professor de Língua Portuguesa, é claro que vou contar essa história nas minhas turmas, para mostrar essencialmente três coisas:

  1. que, na hora de preparar uma redação, um relatório, um bilhete, uma petição, uma lei ou qualquer documento escrito, é preciso reler o que escreveu;
  2. que os documentos eletrônicos (arquivos de texto, de imagem, de apresentação ou páginas da internet) são corrigidos mais rapidamente do que a redação escrita que os alunos me entregam – o que exige deles mais atenção ainda;
  3. que todo mundo pode errar, mesmo sendo professor ou tendo experiência e um diploma de jornalista.
Errar é humano, todos sabemos; mas é preciso evitar ao máximo esse risco, especialmente se se trata de um grande jornal – cujo plural, aliás, é jornais.

Publicado em 24 de junho de 2008

Publicado em 24 de junho de 2008

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.