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Crônica de absurdos

Tânia Barros

Escritora e professora

Atualmente tenho pensado muito em como o sistema está sempre querendo te curvar, te dominar de alguma forma – dos mais humildes em todo tipo de informação e recursos básicos aos que têm um pouco mais destas duas pérolas. Ninguém foge das garras terríveis de um sistema político-ideológico de um país subdesenvolvido que desprezou valores da ética através da história. Artistas, escritores, filósofos fazem e lutam como podem, mas há no ar um certo pensamento doentio, parecido com "nós não podemos nada mesmo, eles podem tudo, então... dane-se".

Mesmo o que dava certo até há um período aqui no País, como a educação pública, desde a ditadura começou a ser desmantelada, açoitada – e com ela nossa população crescente. A classe dos professores, que antes, com muita justiça, era respeitada por todos – governo, sociedade civil, alunos –, agora parece que os mesmos desejam que se torne uma classe de babás com ensino superior.

O Brasil não é mais o Brasil brasileiro do mulato faceiro, e mesmo que tudo no mundo mude, isso é natural, o Brasil que vem mostrando sua cara (como pediu Cazuza na canção) é de grande perversidade, principalmente para com as classes que mais têm se dedicado aos estudos, muitas vezes depois de jornada de trabalho, para se manter. Classes que lidam com o público em áreas fundamentais para uma boa formação e qualidade de vida: professores e médicos.

Os professores ainda sofrem mais, no sentido de se terem criado (ah... hipocrisia) políticas que não protegem o menor; pelo contrário. Falo de certas leis que agridem o professor no âmago da sua integridade moral, como os casos em que, em sala de aula, o mestre nada pode dizer, que é tomado como uma ofensa e muitas vezes o "grande tema" é levado a um conselho tutelar, por exemplo, de forma que a energia que se gasta com os alunos em classes abarrotadas não basta.

Ou seja, discursar em sala de aula quando se faz necessário em torno de comportamento desajustado, debochado e abusado, ou sobre ética, não é mais possível. O que denotaria atenção com o preparo ético-moral dos alunos pode ser encarado hoje, nos Ensinos Fundamental e Médio, como abuso e ofensa ao menor.

Invariavelmente esses casos ocorrem com "alunos-problema"... Ops... agora estou correndo um grande risco de ser denunciada por usar este termo. O interessante é que quem faz certas leis não sabe nada da realidade da sala de aula; e mais, está dando o aval para que se piore essa realidade, para que se continue xingando professores em sala, insultando e, como infelizmente sabemos, agredindo fisicamente e até matando.

Mais: pelo menos no ensino público do Estado do Rio de Janeiro, há falta de pessoal de apoio. Não temos inspetores de alunos o bastante, nem psicólogos, orientadores. Os professores ainda têm que cumprir esse tipo de tarefa; caso contrário correm o risco de serem acusados de relaxados e de não terem atentado para a fuga de um dos alunos.(realidade). O Estado do Rio de Janeiro é a segunda economia do País e paga um dos piores salários ao seu professorado, que enfrenta, além das dificuldades mencionadas, turmas com 35 a 40 alunos. Eu e vários colegas gostaríamos de saber onde a sociedade  quer parar quando trata a educação e nós, professores, dessa forma indigna.

Lamento, mas parece que ainda vai piorar muito.

Publicado em 22 de julho de 2008

Publicado em 22 de julho de 2008

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