Este trabalho foi recuperado de uma versão anterior da revista Educação Pública. Por isso, talvez você encontre nele algum problema de formatação ou links defeituosos. Se for o caso, por favor, escreva para nosso email (educacaopublica@cecierj.edu.br) para providenciarmos o reparo.

Matemática é tudo de bom

Adriana Oliveira Bernardes

Professora de Física, Clube de Astronomia de Itaocara Marcos Pontes

Figura 1: Monumento à Matemática, em Itaocara
Figura 1: Monumento à Matemática, em Itaocara

A Matemática tem sido considerada, ao longo do tempo, uma das disciplinas de mais difícil assimilação por parte dos alunos e vista pelos mesmos como verdadeiro "bicho papão dos exames vestibulares". Perguntamo-nos então: até que ponto a escola colabora para isso? Como poderíamos contribuir no sentido de reverter essa condição, a fim de obter senão bons resultados na disciplina, o que ocorreria a longo prazo, aos menos alunos estimulados para o aprendizado da Matemática? Isto já seria um primeiro passo para melhorar o ensino e a aprendizagem da disciplina na escola.

Quantificando na escola o número de alunos que consideram a disciplina de difícil assimilação, observamos como a situação da disciplina é complicada: uma imensa maioria a considera a mais complicada dentre todas as disciplinas; ela também é citada como aquela de que os alunos menos gostam, no currículo do Ensino Fundamental e Médio.

Sabemos que a escola colabora para que essa situação continue, na medida em que não se dispõe a mostrar a Matemática como parte integrante do nosso cotidiano e ao transformar a Matemática em mera utilização de complicadas fórmulas que devem ser decoradas.

Pensando em todas essas questões, foram propostas atividades que aproximassem a Matemática do ambiente escolar, através de mostras de Matemática e colóquios apresentados aos alunos, ao mesmo tempo que seriam disponibilizados programas e jogos matemáticos. Acreditamos que isso contribuiria de forma efetiva para a melhoria da situação atual do ensino da Matemática em nossa escola, que conta na maioria das vezes apenas com a aula expositiva como recurso.

Utilizar a História da Matemática para estimular a aprendizagem aproximou mais e mais a Matemática dos alunos, pois estes tomavam conhecimento da época e dos problemas enfrentados por quem colaborou com o desenvolvimento da Matemática ao longo do tempo.

Figura 2: Os matemáticos Gauss e De Morgan retratados pelos alunos do Colégio Estadual Jaime Queiroz de Souza. Os painéis agora integram o laboratório de ensino de Matemática da escola.
Figura 2: Os matemáticos Pascal e De Morgan retratados pelos alunos do Colégio Estadual Jaime Queiroz de Souza. Os painéis agora integram o acervo da biblioteca da escola.

Os objetos de aprendizagem de História da Matemática não só deram aos alunos a oportunidade de ter contato com a informática como também apresentaram uma nova possibilidade de aprendizagem para os alunos da escola: a aprendizagem via computador.

Figura 3: Ao fundo, a Praça da Matemática, em Itaocara-RJ.
Figura 3: Falar de Matemática dentro da escola, estimular a discussão e envolver os alunos com a disciplina. Na foto apresentação de seminário sobre a vida dos principais matemáticos da história.

Ocorreram diversos eventos relacionados à Matemática, como a palestra Mulheres na Matemática, precedida por uma série de entrevistas com as professoras de matemática da escola e discussão da situação da mulher na área e também dentro da ciência, apresentada na Semana de Ciência e Tecnologia, a Mostra Malba Tahan, que envolveu os alunos do colégio e propiciou aos alunos muitas descobertas através da possibilidade da aprendizagem por meio das histórias contadas pelo autor de O Homem que Calculava.

Figura 4: Thiago da Silva Oliveira, aluno da escola, quando falava sobre Malba Tahan
Figura 4: Thiago da Silva Oliveira, aluno da escola, quando falava sobre Malba Tahan. Ele foi um dos vencedores da Olimpíada de Matemática das Escolas Públicas, em 2006. Tal fato certamente estimulou o interesse dos alunos pela disciplina.

Introdução

Sabemos que a Matemática é uma das disciplinas que mais amedrontam os alunos que prestam exames vestibulares e que alcança os piores resultados nos exames realizados pelo governo, como comprovam exames, como o Saeb, que visam avaliar a educação brasileira através de provas aplicadas em diferentes séries do Ensino Básico.

Sabemos também que o desempenho de alunos brasileiros em testes internacionais na área, permanece em níveis aquém do desejado e, infelizmente, do que é investido em educação no Brasil - apesar de o investimento brasileiro também ser bem pequeno.

Problemas como esses nos levam a crer que algo precisa ser feito nas escolas para que o ensino de Matemática seja melhorado, principalmente quando reconhecemos a importância, para nosso país, em oferecer a seus jovens um ensino de qualidade que se reverta futuramente em benefícios na própria área tecnológica. Sabemos que uma das condições para que um país se desenvolva está no aprimoramento nessa área, o que nos leva a refletir sobre o papel da escola nesse momento.

Segundo as orientações curriculares, a Historia da Matemática será importante em sala de aula para atribuir significados aos conceitos matemáticos. Consideramos que, ao trabalhar a História da Matemática e sua relação com o cotidiano, poderíamos despertar o interesse dos alunos pela disciplina, contribuindo assim para melhorar o ensino e a aprendizagem da disciplina. Poderíamos torná-la mais agradável utilizando jogos e desafios matemáticos a serem propostos aos alunos, contribuindo sempre para que ele encontrasse na escola um ambiente propício e motivador ao estudo da Matemática.

O conhecimento das geometrias não-euclidianas no Ensino Médio pode trazer o interesse pela disciplina, além de contribuir para que o conhecimento matemático seja mostrado em sua plenitude e, a partir daí, discutir as ideias de Gauss, Bolyai e Lobatcheviski. Pensando nisto, utilizamos oficinas para colocar os alunos de várias turmas do Ensino Médio em contato com essas ideias.

O conhecimento de como Eratóstenes calculou o raio da Terra, na Antiguidade, mostra sua genialidade e perspicácia. Nas orientações curriculares, fala-se na importância de priorizar a qualidade do processo e não a quantidade de conteúdos a serem trabalhados. Partindo dessa premissa, pudemos abordar vários temas e mostrar a Matemática diversificadamente.

Considerando a presença da Matemática em nossas vidas, planejamos uma série de atividades que mostrassem sua importância e sua contribuição para o desenvolvimento tecnológico, como mostras de Matemática e produção de textos de História da Matemática, que posteriormente fosse impresso um livro.

Metodologia

Já no início do ano os alunos responderam a questionários em que foi sondada sua relação com as disciplinas oferecidas na escola, a fim de que os problemas relacionados àquela disciplina específica fossem discutidos e se tornassem do conhecimento dos professores, alunos e pais de alunos.

Ao longo do ano, foram constantes as atividades na hora do intervalo e visitas às salas de aula para realização de atividades. Procuramos fazer com que o intervalo entre as atividades fosse sempre menor que uma semana. Estas atividades visavam despertar o interesse do aluno para a disciplina: eram oficinas, colóquios, atividades na sala de informática e desafios matemáticos.

Foram apresentados seminários para os alunos, muitos deles falando sobre a vida de matemáticos famosos, entre eles, A vida e a obra de Gauss, para que a História da Matemática, assim trabalhada, pudesse atuar como um fator motivador. Além disso, foram realizados na escola seminários e oficinas sobre Matemática Aplicada, tratando da função exponencial e sua aplicabilidade na Biologia.

Figura 5: O aluno Régis na produção do texto para gravação de vídeo educativo de História da Matemática.
Figura 5: O aluno Régis na produção do texto para gravação de vídeo educativo de História da Matemática.

Para popularizar a Matemática na escola, foram utilizados jogos no computador e recursos da informática, como planilhas eletrônicas.

O trabalho com as turmas das séries iniciais foi feito utilizando a Geometria como tema principal. Materiais como palitos de fósforo, folhas de cartolina foram empregados em atividades artísticas de elaboração de desenhos pelos alunos utilizando figuras geométricas.

Em Geometria, a orientação curricular fala da importância de desenvolver nos estudantes a capacidade de resolver problemas práticos; menciona ainda que, se o professor quiser trabalhar com projetos, deverá estabelecer atividades que provoquem reflexões, desde que facilite o acesso a recursos, materiais e informações. Foram também organizados jogos de raciocínio lógico.

A culminância dos eventos ocorreu na mostra Matemática é Tudo de Bom, que foi aberta a toda comunidade.

Figura 6: Com orgulho, Régis fala da importância da construção da Praça da Matemática em Itaocara.
Figura 6: Com orgulho, Régis fala da importância da construção da Praça da Matemática em Itaocara.

Resultados

Tendo detectado os problemas relacionados ao ensino e aprendizagem da Matemática na escola por meio de questionários que sondavam a relação dos alunos com a disciplina, verificamos que a Matemática era considerada a disciplina mais difícil e aquela de que os alunos menos gostavam.

A partir daí, várias atividades ocorreram, sempre objetivando reverter esse quadro. Com o desenvolvimento do projeto, conseguimos fazer com que os alunos tivessem regularmente contato com temas de Matemática na escola, através dos colóquios que abordavam vários assuntos. Nesses encontros, o fato de alunos falarem de Matemática para seus colegas ajudou a desmistificá-la como disciplina de difícil compreensão e que poucos dominam.

Figura 7: Alunos do Ensino Fundamental e Médio assistem à palestra de Sônia Cunha, professora de Língua Portuguesa, sobre História da Matemática.
Figura 7: Alunos do Ensino Fundamental e Médio assistem à palestra de Sônia Cunha, professora de Língua Portuguesa, sobre História da Matemática.

Nas oficinas, realizadas tanto nas séries iniciais quanto no Ensino Fundamental e Médio, as atividades oferecidas aos alunos despertavam seu interesse e tornavam problemas e desafios matemáticos alvo de discussão.

Os resultados foram muito positivos, tanto da parte dos alunos quanto dos professores, que vêm detectando o aumento de questionamentos sobre determinados temas, o que demonstra, de certa forma, aumento do interesse dos estudantes pela disciplina.

Os objetos de aprendizagem criados compõem hoje uma biblioteca digital e foram disponibilizados para os professores. Formam, no colégio, um recurso didático que antes não existia e que foi criado por alunos do Ensino Médio. A utilização da sala de Informática, que antes era escassa para a aprendizagem da Matemática, agora se tornou algo frequente.

Os vídeos educativos produzidos estão disponíveis para os professores, que podem contar hoje com vídeos falando sobre a vida dos grandes matemáticos, o que também tem motivado o aprendizado da disciplina.

Figura 8: Gráficos obtidos em pesquisa com os alunos do Ensino Médio no Colégio Estadual Jaime Queiroz de Souza mostram as dificuldades dos alunos nas disciplinas
Figura 8: Alunos Thiago e Régis responsáveis pelo desenvolvimento do projeto na escola

Considerações finais

De maneira geral, o projeto trouxe algo novo para escola: a preocupação com a aprendizagem da disciplina e a certeza de que todos esses problemas podem ser contornados e de que a Matemática pode ser agradável e divertida para o aluno.

A criação dos recursos didáticos pelos alunos e sua aplicação nas turmas foram avaliadas; a opinião de professores e alunos sobre eles foi positiva, incentivando a continuação do trabalho.

A disponibilização desses objetos na Internet traz a possibilidade que outras pessoas venham a utilizá-los, possibilidade esta que é um grande incentivo ao projeto, que pretende entrar em contato com outras escolas para difundi-lo.

Todos os recursos estarão sendo aplicados nas turmas até o mês de novembro, quando então teremos dados mais precisos sobre sua aceitação.

Bibliografia

BONGIOVANNI, Vissoto e Laureano. Matemática. Volume Único. São Paulo: Ática, 1994.

FACCHIN. Matemática. Volume Único. São Paulo: Saraiva, 1996.

FILHO, Benigno Barreto; SILVA, Cláudio Xavier da. Matemática. Volume Único. São Paulo: FTD, 2004.

MARCONDES, Gentil e Sérgio. Matemática. São Paulo: Ática, 2000.

MEC - Secretaria de Educação Básica. Ciências da Natureza, Matemática e suas tecnologias. Orientações curriculares para o Ensino Médio; volume 2. Brasília: MEC, 2006.

Anexo 1

Questionário aplicado aos alunos do Ensino Fundamental e Médio

Aluno: ______________________ Série: ____ Idade: ____

1) De qual a disciplina você mais gosta?

2) Qual disciplina você considera mais difícil?

3) De qual disciplina você menos gosta?

Anexo 2

Questionário aplicado aos alunos do Ensino Fundamental e Médio

Aluno: ______________________ Série: ____ Idade: ____

1) De qual oficina você participou?
(  ) Informática
(  ) Geometria
(  ) Desafios matemáticos

2) O que você achou de participar dessa atividade?
(  ) Muito bom
(  ) Não gostei
(  ) Poderia ter sido melhor

3) O que você acha da realização desse tipo de atividade na escola? Você acredita que beneficia o ensino da Matemática?
(  ) Sim
(  ) Não

Anexo 3

Professor: ___________________________________

Formação: ___________________________________

1) O que você achou de participar desta atividade?
(  ) Muito bom
(  ) Não gostei
(  ) Poderia ter sido melhor

2) O que você acha da realização desse tipo de atividade na escola? Você acredita que beneficia o ensino da Matemática?
(  ) Sim
(  ) Não

3) Por quê?

Publicado em 22 de julho de 2008

Publicado em 22 de julho de 2008

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.