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A dor da gente não sai no jornal

Leonardo Soares Quirino da Silva

Projeto Teatro do Oprimido nas Escolas difundiu técnica que leva à reflexão sobre situações do cotidiano

“O aluno chega em casa desesperado. A professora passou como última avaliação um trabalho para o dia seguinte. Tenta conseguir ajuda, mas sem sucesso. Os colegas e a irmã não têm tempo. A mãe analfabeta, por sua vez, diz-lhe que tem que trabalhar, porque escola não enche barriga.”

Trazer à tona histórias como essa, criada por alunos da Escola Municipal Visconde de Sepetiba (São Gonçalo), e que neste momento pode estar se repetindo em muitos lugares, foi um dos resultados do projeto Teatro do Oprimido nas Escolas, realizado pelo Centro do Teatro Oprimido – CTO-Rio, dentro do programa Escola Aberta, do Ministério da Educação.

Encerrado em abril do ano passado, se tudo der certo, talvez o projeto volte no ano que vem, segundo a instrutora do CTO-Rio, Helen Sarapeck.

De março de 2006 a abril de 2007, o projeto capacitou 60 professores e

agentes comunitários ou “oficineiros”, como são conhecidos os agentes multiplicadores da metodologia do Teatro do Oprimido. O curso de formação durou 40 horas e foi realizado nos fins de semana.

O projeto foi realizado em 33 escolas públicas em parceria com as

Secretarias de Educação dos municípios de São Gonçalo, Niterói, Duque de Caxias, Belford Roxo, Queimados, Nova Iguaçu e Mesquita. Com isso foram montados 22 grupos. Os organizadores estimam que as apresentações tenham envolvido mais de seis mil participantes.

Estética do Oprimido

Todas as pessoas envolvidas no projeto usaram técnicas desenvolvidas com base na estética do oprimido. Helen explicou que essa metodologia surgiu da constatação, por parte de seu formulador, Augusto Boal,

de que o teatro é uma capacidade humana, portanto, todos são capazes de representar, não só os atores.

A partir daí, as cenas são criadas com base em experiências pessoais onde os participantes dos grupos se encontraram na posição de oprimidos. Foi assim que surgiu o argumento da cena descrita no início deste texto e de outra sobre as possíveis consequências de uma brincadeira em sala de aula feita por alunos da Escola Municipal Manoel Gomes, de Belford Roxo.

Uma vez escolhido o tema pelo grupo, o passo seguinte é a montagem e a encenação, que seguem a abordagem do teatro fórum. Neste, a cena, que sempre envolve um opressor e um oprimido, é representada e o público é convidado a debater a situação e a buscar alternativas. A discussão é mediada por um “facilitador”, chamado de “curinga” dentro da metodologia do Teatro do Oprimido.

Artes conexas

Assim, “se a dor da gente não sai no jornal”, como diz o samba Notícia de Jornal, ela pode virar uma cena ou uma peça inteira de teatro.

Como as artes cênicas dependem para sua realização da contribuição de

outras artes, as oficinas do Teatro do Oprimido abrem espaço também para poesia, literatura, pintura e escultura.

Nesses dois últimos casos, um dos exercícios propostos é a partir da bandeira do Brasil. O objetivo é fazer com que os participantes reflitam sobre o que podem fazer para mudar a situação atual. Primeiro, os membros do grupo são convidados a falar o significado das cores.

Depois há uma discussão sobre como eles veem a situação do país hoje e se as cores usadas representam o país como está. Por fim, eles são estimulados a pintar uma nova bandeira, escolhendo cores que representem como queremos que o país fique.

Outro exercício, dessa vez de escultura, chama-se “Ser Humano Lixo”. Cada membro do grupo deve trazer de casa sucatas que tenham relação com seu estilo de vida e construir um boneco com ele. Segundo Helen, o objetivo desse exercício é levar os participantes a refletirem sobre si mesmos.

Quem for ao CTO-Rio, na Lapa, será recebido por uma exposição permanente de bandeiras do Brasil e “seres humanos-lixo” que foram realizados em edições passadas das oficinas.Agora resta torcer para que essa coleção aumente com a volta do projeto Teatro do Oprimido nas Escolas.

05/08/2008

Publicado em 05 de agosto de 2008

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