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O que é dar uma "coisada na paradinha"?

Luiz Canelhas

Professor de Física

Será que é coisa de velho? “Coisa” virou verbo mesmo – coisar? Uma “paradinha” seria um desfile em pequena escala? Só sei que fico esperando o desenrolar dos acontecimentos para poder entender o que vem a ser a tal “coisada na paradinha”. Quando um adolescente manda essa, é duro saber se está falando de sexo, limpeza de algum objeto, instalação de um programa no computador, fazer um cálculo, apontar o lápis...

Complicado mesmo é quando não entendemos o exposto! Viramos uns “caras” complicados, querendo que sejam usadas “aquelas” palavras. Que palavras seriam essas? Quando estamos falando de economia, temos que usar o tão falado economês, política gera o politiquês... Os grandes doutores do “mundo acadêmico” geram toda sorte de palavras que o dicionário não reconhece. Quem será proprietário do direito de criar palavras ou reinventar o significado das que já existem?

No dia-a-dia vou tentando dar um jeito nessa confusão. Não sou jovem e também não fiz doutorado... Vivo apanhando dos dois lados! Quando dou de cara com determinados textos, construídos por grandes pensadores contemporâneos, tenho que me virar sem usar o “desatualizado” dicionário. Na outra ponta estão as “paradinhas”, muitas e diversificadas, para trabalhar e decifrar. Logo eu, que sou das ditas Ciências Exatas, tenho que lidar com esses trecos todos, criações da esmerada imprecisão humana.

Sou péssimo em análise sintática! Até hoje acredito que um objeto direto seja uma pedrada na testa ou em qualquer outro local, como queira. O tal agente da passiva não é o sujeito gay que mora lá na esquina? Sempre acreditei que o agente apassivador fosse um cara degenerado que sai por aí fazendo a cabeça dos jovens na intenção de despertar seu lado inativo!

A realidade é que, sem o santo editor de texto e o Aurélio Eletrônico, eu só teria minha imaginação e uma forte vontade de expressão. Será que despertar essa vontade nos jovens não seria uma boa coisa? Eles não gostam de ler, não sabem interpretar textos, apresentam sérias dificuldades no momento de manifestar suas opiniões. Podemos viver sem conhecer o que pensam aqueles que tomarão conta da nossa velhice?

Outro dia, um jovem queria explicar uma questão a respeito dos fenômenos ligados à propagação da luz; a falta de vocabulário estava matando-o, quase teve um ataque de nervos. Quando tentei ajudar ficou pior ainda...

– Quero dizer do meu jeito!

Naquele momento, fiquei preocupado em tentar verificar se ele conhecia os fenômenos. Apesar de estar criando novos termos, deixando de lado os que são amplamente utilizados pelos mestres, se ele demonstrasse entendimento naquele instante estaria satisfatório. Depois mostrei que, durante sua vida acadêmica, seria impossível caminhar sem dominar o vocabulário específico de cada ciência.

Será que um trabalhador carregando sacos de cimento, com 50kg de massa cada um, em um pátio perfeitamente plano, irá aceitar que o trabalho realizado por ele é zero? Acho que quem disser isso pro camarada vai tomar uma “bifa na orêia”! Já é complicado explicar que a lâmpada interna de um ônibus pode não estar em movimento quando o danado está andando. Nem é bom falar que a casa dele está viajando ao redor da galáxia!

Cada um puxa a brasa para a sua sardinha. Os grandes escritores querem a linguagem rebuscada. Os das Ciências Biológicas usam termos que somente com treinamento são pronunciáveis. Até na lanchonete existe confusão, são egg-x-saladas, hot-dogs, milk-shakes...

Quero saber quem vai dar uma força nessa confusão!

Fico triste em saber que, dentro das universidades, os próprios acadêmicos dizem:

– Os doutores só servem para formar outros doutores.

Para termos acesso aos bons canais de televisão, aqueles que educam, temos que pagar. É bom ver que algumas tentativas são feitas, mas ainda é muito pouco. Como despertar realmente o interesse pelo conhecimento humano assistindo a novelas? Acredito que somente os fofoqueiros fiquem plenamente satisfeitos com essa falta do que falar.

Enfim... Vou dar uma coisada aqui nas paradinhas do computador, tentando deixar este texto “legível”; nada tão lindo quanto um homem de fardão poderia fazer, pois sou apenas um mortal, um cara como outro qualquer, “caminhando para a morte pensando em vencer na vida”. É assim mesmo, né?

Todo ano, como este que estamos vivenciando, as “almas do outro mundo” vêm com essa historinha: “Importante é educação e saúde. Sem um trabalho sério e investimentos nada será construído nessa nação”.

E como dão espaço pra eles na mídia!

Cadê o trabalho? Cadê? Será que fazendo uma pesquisa na Internet eu acho? Somente com uma máquina de busca... Não é assim? Como, então?

Rapaz eu queria ver esses camaradas vivendo com o que eu ganho. Com dinheiro no bolso é mole, quero ver fazer isso duro!

Publicado em 05 de agosto de 2008

Publicado em 05 de agosto de 2008

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