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O Fórum Social Mundial: um grito que não se cala

Cândido Grzybowski

Sociólogo, diretor do Ibase

Em sucessivas edições anuais desde 2001, o Fórum Social Mundial (FSM) tornou-se uma referência da nascente cidadania de dimensões planetárias. Primeiro, três vezes em Porto Alegre, quando surpreendeu pela novidade, pela capacidade de mobilizar milhares de pessoas e pelo impacto político no confronto com a globalização econômico-financeira, a mais recente panaceia geral dos velhos mercadores do mundo. Depois, em 2004, o FSM foi para Mumbai, na Índia. Voltou a Porto Alegre, em 2005. Realizou-se de forma policêntrica em 2006: em Caracas (Venezuela), em Bamako (Mali) e em Karachi (Paquistão). Aí, em 2007, realizou o principal evento da história da sociedade civil africana, em Nairóbi, no Quênia.

Paralela e simultaneamente, o método FSM de produção de uma nova cultura política foi se enraizando de diferentes formas nos mais diversos países e cidades, em todos os continentes. Surgiram fóruns regionais, nacionais, locais, temáticos. Perdeu-se a conta da quantidade de eventos e dos milhões mobilizados. O fato é que o mapa do mundo, além da versão eurocêntrica, com dominância das nações do Norte desenvolvido, começou a ser redesenhado pelos povos e culturas do mundo, revelando uma vibrante e esperançosa cidadania, reivindicante de “outros mundos possíveis”, diante da homogeneidade da  globalização pelo mercado.

O Fórum Social Mundial tem como antípoda o Fórum Econômico Mundial, mais conhecido como Fórum de Davos, realizado nas geladas montanhas e nos elegantes hotéis suíços, com sua falida e ultrapassada agenda de globalização neoliberal. O FSM vem despertando a esperança onde grassava o desânimo, o sonho onde havia a desilusão, o ativismo onde parecia que nada poderia ser feito. Como espaço aberto à diversidade de sujeitos coletivos e à pluralidade de visões, análises e opções, ele reaviva princípios e valores éticos comuns, capazes de renovar projetos e a força da cidadania e das sociedades civis em sua incidência sobre Estados e economias. Emerge com o FSM um forte sentido de humanidade comum a unir a diversidade e um intenso sentimento de preservação, fortalecimento e sustentabilidade dos bens comuns naturais e de alargamento dos espaços públicos constitutivos dos direitos humanos individuais e coletivos.

Mais uma vez o Fórum Social Mundial vai surpreender neste ano de 2008. Não há um evento central, mas muitos eventos simultâneos em várias cidades e países. Basta olhar o site do Fórum (www.wsf2008.net) e clicar no mapa-múndi para ver o que está em curso.

Parece que começamos a abraçar o mundo. Vai ser possível seguir o giro da Terra e ver, a cada hora, o que vai estar acontecendo. O dia de referência comum da Jornada de Mobilização do FSM é 26 de janeiro de 2008. Mas, em torno à data, muita coisa estará acontecendo. As iniciativas não poderiam ser mais diversas. Cada lugar, cada grupo, cada evento terá uma forma própria, de fórum clássico a passeata, de seminário a coletiva de imprensa. O importante é a demonstração de estarmos juntos, como uma rede de cidadania ativa – virtualmente conectada pela internet – que se alastra pelo mundo, para gritar em alto e bom som que nós acreditamos e agimos, que “outro mundo é possível”.

Aqui no Rio de Janeiro, estamos organizando o grande evento político-cultural do “Rio Com Vida”. Será um dia inteiro de demonstração, pela linguagem das várias expressões culturais – uma das forças mais vivas do nosso Rio –, de como imaginamos e estamos construindo outros mundos. Todos os grupos e galeras profundamente enraizados no local são convidados a se fazer visíveis, a externar suas críticas e angústias, na linguagem mais vibrante da sensibilidade cultural. Vamos fechar o evento com um grande show no Aterro do Flamengo.

Como espaço aberto, todas e todos terão lugar e vez, seja cantando, batucando, tocando, declamando, dançando ou trocando suas ideias e suas práticas, do fazer política à economia e comida solidárias. Trata-se de demonstrar para nós mesmos, o Brasil e o mundo, que o Rio tem vida e com muita vida enfrenta seus problemas, acreditando que há soluções e possibilidades de construir uma sociedade includente, livre, justa, diversa, solidária, participativa e sustentável. Estaremos conectados em tempo real com os muitos eventos pelo mundo, criando um sentido de pertencimento à mesma e diversa cidadania planetária.

O Fórum Social Mundial aposta em sua própria renovação como modo de ser e acontecer. Claro que continuamos a nos opor radicalmente ao Fórum de Davos. Queremos chamar atenção, porém, para o mundo real, da exclusão social, da desigualdade, da destruição ambiental, que os donos do mundo ignoram. Queremos, sobretudo, afirmar que a vida e o futuro da humanidade ficam mais evidentes no ritmo das pessoas que acreditam nos seus sonhos.

Publicado em 22 de janeiro de 2008.

Publicado em 22 de janeiro de 2008

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