Este trabalho foi recuperado de uma versão anterior da revista Educação Pública. Por isso, talvez você encontre nele algum problema de formatação ou links defeituosos. Se for o caso, por favor, escreva para nosso email (educacaopublica@cecierj.edu.br) para providenciarmos o reparo.
José Lezama Lima e as mitologias do cotidiano
Cláudia Dias Sampaio
Tradução de Cláudia Dias Sampaio
Publicado em Fragmentos a su imán (Editorial Letras Cubanas, La Habana, 1977), “A mulher e a casa” (1976) foi um dos últimos poemas escritos por José Lezama Lima (1910-1976). Nascido em Cuba, o poeta, ensaísta e romancista manteve intensa afinidade com as ideias de Octavio Paz. Assim como o escritor mexicano, Lezama defendia uma afirmação da cultura latino-americana a partir do diálogo com outras culturas. Traduzido para o francês em 1971, o romance Paradiso (1966) é considerado sua obra-prima. Góngora e Proust foram as principais referências do poeta que, ao publicar em 1941 o livro de poemas Enemigo Rumor, estabeleceu-se como um dos mais importantes intelectuais cubanos de sua geração.
A mulher e a casa
José Lezama Lima
Fervias o leite
e seguias o cotidiano aroma do café.
Percorrias a casa
com uma disposição sem desperdícios.
Cada minúcia consagrada
como uma oferenda ao peso da noite.
Todas as tuas horas justificadas
ao passar da cozinha à sala
onde estão os retratos
amantes de teus comentários.
Reparas a lei do dia-a-dia
e a ave dominical se insinua
com as cores do fogo
e as espumas do pirão.
Quando quebra um copo
é teu riso que tilinta.
O centro da casa
voa como o ponto na linha.
Em teus pesadelos
chove interminavelmente
sobre a coleção de matas
anãs e o flamboyant subterrâneo.
Se te apressasses,
o horizonte estilhaçado
em lanças de mármore,
voaria sobre nós.
La mujer y la casa
José Lezama Lima
Hervías la leche
y seguías las aromosas costumbres del café.
Recorrías la casa
con una medida sin desperdicios.
Cada minucia un sacramento,
como una ofrenda al peso de la noche.
Todas tus horas están justificadas
al pasar del comedor a la sala,
donde están los retratos
que gustan de tus comentarios.
Fijas la ley de todos los días
y el ave dominical se entreabre
con los colores del fuego
y las espumas del puchero.
Cuando se rompe un vaso,
es tu risa la que tintinea.
El centro de la casa
vuela como el punto en la línea.
En tus pesadillas
llueve interminablemente
sobre la colección de matas
enanas y el flamboyán subterráneo.
Si te atolondraras,
el firmamento roto
en lanzas de mármol,
se echaría sobre nosotros.
Saiba mais sobre a obra do poeta José Lezama Lima:
- http://www.culturapara.art.br/opoema/lezamalima/lezamalima.htm
- http://www.los-poetas.com/c/lima.htm
- http://www.cce.ufsc.br/~nelic/Boletim_de_Pesquisa_6_7/inimigo_rumor6_7.htm
- http://www.casalezama.cu/poemas76.htm
Publicado em 12 de agosto de 2008
Publicado em 12 de agosto de 2008
Novidades por e-mail
Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing
Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário
Deixe seu comentárioEste artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.