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As malas dos turistas sobre as costas dos viajantes

Maurício Barros de Castro

Doutor em História Social, pesquisador e jornalista

O viajante que se desloca pelo planeta nestes tempos de modernidade globalizada se depara com muitas dificuldades. Umas antigas, como as guerras; outras, fruto de inovações tecnológicas, como o terrorismo internacionalizado, que gera todo tipo de problemas nas fronteiras dos países. Uma outra adversidade encontrada pelo viajante é escapar da condição de turista, um rótulo que se incorpora até mesmo àquele que não quer tê-lo.

Penso nisso quando vejo a proliferação do chamado “turismo de aventura”, realizado por agências que oferecem a prática de esportes em montanhas, cachoeiras e rios. O rafting, por exemplo, atividade na qual as pessoas descem corredeiras numa balsa, surgiu nas águas geladas que cercavam os garimpeiros da América do Norte. Era a forma que tinham – umas vezes a mais rápida, outras a única – de carregar ouro e provisões. Com certeza não desciam numa balsa de borracha como as de hoje, fabricadas especialmente para essa modalidade. A hipótese mais provável é que faziam a descida em jangadas construídas por eles mesmos.

A aventura vivida por antigos exploradores foi absorvida pelo turismo; da mesma forma, a noção de viagem foi traduzida como atividade turística, o que não significa dizer que o turismo global é capaz de acabar totalmente com a experiência da viagem. Mesmo que haja agências e guias, cartazes e folders coloridos, há sempre um vento novo, uma face a ser descoberta. Os anúncios e intervenções turísticas nos remetem ao tempo comum, a um cotidiano programado, só que vivido em um lugar diferente daquele em que moramos. O desconhecido com o qual nos deparamos numa viagem nos leva a um tempo extraordinário, a uma aventura existencial, criativa e lúdica. Por isso, viagem e aventura não podem ser confundidas com turismo e esporte.

De qualquer maneira, o turismo é inevitável e, em alguns casos, acaba por proteger o meio ambiente ou revitalizar lugares. Noutros, é uma atividade agressiva e predatória. Tudo depende de como acontece nas localidades distintas. O certo é que, atualmente, torna-se difícil conceber expedições desbravadoras como as que empreenderam Marco Pólo, Arthur Rimbaud, Paul Bowles e outros obstinados. Mesmo assim, ainda é possível sentir o cheiro forte da aventura, ao invés de respirar apenas o perfume de borracha dos esportes radicais.

Publicado em 19 de agosto de 2008

Publicado em 19 de agosto de 2008

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