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A princesa Oríntia
Henryane de Chaponay
Muito tempo atrás, em uma época tão longínqua que eu não saberia indicar a data, se elevava, orgulhoso, majestoso e inacessível, no meio de uma densa floresta, um magnífico castelo. Era todo construído em granito negro; em seu contorno havia largas fossas. Suas altas torres se lançavam ao céu límpido, dominando as árvores milenares da floresta onde se encontravam barulhentos bandos de pássaros de plumagens brilhantes.
Esse castelo era cheio de mistérios, e ninguém jamais tinha conseguido entrar ali.
Tudo que se sabia era que numa bela noite ele surgiu da terra, e depois de então sempre esteve proibida a entrada de alguém. Se alguma vez um cavaleiro errante por acaso ousasse bater à sua porta, um anão furioso saía dos seus muros: esse anão era um feiticeiro e jamais um desses cavaleiros retornou.
Do outro lado dessa maravilhosa floresta se erguia outro castelo, com uma arquitetura tão fina e cuidada que não poderia haver outro igual no mundo. Era construído em marfim e mármore rosa; em toda a sua volta, um campo de flores maravilhosas, onde esvoaçavam pássaros de todas as cores. Entre as árvores, estavam estendidas cordas de harpas: quando os pássaros pousavam sobre elas, faziam ressoar no ar uma música muito suave que se misturava com seus encantadores chilreados.
Esse feérico palácio era habitado pela princesa Oríntia, a rainha dos pequenos pássaros; diziam que ela era de uma beleza deslumbrante, mas nenhum ser humano jamais a havia visto.
Um belo dia, a princesa Oríntia desapareceu. Os pássaros pararam de cantar e partiram.
Não foram mais ouvidos os doces sons das cordas das harpas; o castelo se cobriu de musgo, as flores morreram e tudo se tornou ruína e desolação.
Então, meu querido Manny, quando estava debruçada sobre meu caderno, o lápis na mão, procurando uma inspiração que não vinha, pois ninguém sabia mais qualquer coisa sobre a princesa Oríntia, subitamente uma boa fada apareceu e me perguntou se podia me ajudar em alguma coisa. Eu lhe contei minha dificuldade.
E a boa fada, que se chamava (ela me disse bem mais tarde) fada da floresta encantada, me contou que mostraria coisas tão maravilhosas que eu poderia encher muitos cadernos.
Ela me tocou com sua varinha mágica, e subitamente eu estava sentada em uma carruagem entalhada no mais puro diamante, com as rodas de ouro. Essa carruagem era puxada por quatro esplêndidos tigres, cujos nomes, a fada me disse, eram: Esmeralda, Rubi, Topázio e Ágata. Seus nomes se referiam à cor de seus olhos fosforescentes.
A fada sentou a meu lado e, segurando as rédeas de fios de ouro, fez estalar seu chicote e a carruagem partiu, num barulho ensurdecedor.
As quatro feras avançavam como o vento, correndo com leveza e tencionando seus músculos de aço.
Logo nos embrenhamos na sombria floresta, e a carruagem só parou diante do castelo de granito negro, aquele sobre o qual já lhe falei.
Eu pude então examiná-lo com calma. Sua fachada não tinha nenhuma abertura e, no silêncio que reinava em torno desse misterioso castelo, não havia sinal de vida... O toque da varinha da fada tinha me transportado para milhões de anos atrás. A fada, então, se aproximou e me disse que me deixaria nas redondezas e viria me buscar no dia seguinte. Partindo, soltou Esmeralda, dizendo-me: “quando montares Esmeralda, vocês duas se tornarão invisíveis e poderão entrar onde quiserem”. Era uma possibilidade tentadora. Eu saltei sobre as costas da tigresa e desejei, no mesmo instante, estar no interior do misterioso castelo do qual vou agora contar as maravilhas e as aventuras surpreendentes que se descortinaram diante de meus olhos. Chegamos primeiro a uma imensa sala decorada com ricos tecidos, com dourados cinzelados finamente e pinturas maravilhosas.
No centro da sala uma fonte jorrava água cristalina, que murmurava docemente. Ao fundo, estava sentada em um trono de marfim a mais linda jovem que podemos imaginar. Ela estava com um vestido inteiramente tecido com as mais brilhantes e coloridas penas dos mais exóticos pássaros; seus longos cabelos louros desciam até a terra, num rio de ouro e de luz; seus grandes olhos eram de um azul profundo como a água do mar; ela tinha nas mãos uma cítara; sua cabeça inclinava-se para trás, seus dedos ágeis percorriam as cordas. Ela cantava com uma voz suave mas infinitamente triste.
De repente, a sala se encheu de um fru-fru de asas, e milhares de aves com penas multicoloridas entraram, vindas de não sei onde. Então, a jovem parou de cantar e, sob um sinal de sua mão, todos os pássaros começaram a cantar em um tal conjunto, uma tal harmonia seus sons alegres, com tantas modulações, que fiquei atônita. Depois, os alegres trinados pararam e, após saudar a jovem, os pássaros desapareceram como tinham vindo. A jovem recomeçou a cantar.
Esmeralda levou-me, então, pelo castelo misterioso; atravessamos os intermináveis corredores e chegamos a um grande pátio arenoso.
No meio do pátio vi um horroroso anão disforme. Ele segurava pelos arreios um imenso cavalo negro de ébano, cujos maldosos olhos soltavam faíscas e lançavam raios mortíferos. Quando respirava, uma grossa e sufocante fumaça saía de suas narinas. O anão parecia dotado de uma força extraordinária e, com uma de suas mãos peludas, mantinha quieta sua nervosa montaria.
Subitamente escutei, atravessando as grossas muralhas, o barulho precipitado e impaciente de um galope. Ouvindo esse som, o anão ficou vermelho de cólera e pulou como um gato sobre o cavalo, que tremeu de raiva e empinou violentamente. O anão pegou no bolso um pequeno apito, do qual tirou sons estridentes, e instantaneamente as paredes se abriram diante dele.
Ele se encontrou, então, face a face com um jovem cavaleiro de aparência orgulhosa e cheia de coragem.
O jovem tinha tirado seu capacete e mostrava um semblante sério e belo; empunhava sua lança em riste e gritou para anão com uma voz máscula e quente:
– Saiba, velho bruxo, que, sabendo por acaso que tu manténs prisioneira aqui a princesa Oríntia, reconhecida por sua gentileza e sua beleza, a quem eu amo com amor sincero, vim travar contra ti um leal combate para libertá-la.
Ao ouvir essas palavras, o anão faz uma careta estranha e zombeteira e ordena ao intrépido cavaleiro que renuncie à sua louca decisão, porque, se não o fizer, isso lhe custará a vida ou, ao menos, sua liberdade.
– Eu jamais recuarei, reponde o cavaleiro, pois eu me chamo Thrasus, o corajoso.
Abaixando seu capacete, esporeia os flancos de seu belo cavalo de batalha e, lança em riste, avança sobre o anão.
Mas o anão Morphos era um feiticeiro; no momento em que Thrasus ia traspassá-lo com sua lança, ele desapareceu de seus olhos, enquanto a lança se quebrava em nove pedaços. Thrasus tirou sua espada da bainha e se entranhou num terrível combate.
Apesar de todos os seus esforços, ele estaria sob as ordens de Morphos se não tivesse sobre si um cinto mágico que o tornava invulnerável e invencível. Após uma hora de duro combate, o anão teve que se declarar derrotado e indicar o lugar onde se encontrava Oríntia...
E, assim como em todos os contos de fadas, Oríntia e Thrasus se casaram e viveram felizes durante todas as suas vidas, que foram bem longas, sempre rodeados de seus pássaros, no castelo de marfim e mármore rosa, que havia voltado a ser como antigamente; as cordas das harpas retornaram ao acompanhamento dos alegres refrãos dos pássaros.
Foi isso que me contou a fada da floresta encantada. Levando-me de volta em sua carruagem de diamante, contou mais coisas maravilhosas sobre a princesa Oríntia, a rainha dos pequenos pássaros, e sobre Thrasus, o intrépido, seu belo amigo.
Mas não tenho tempo para contar essas coisas agora, meu irmão, pois elas encheriam livros bem mais grossos que este.
Traduzido por Lourdes Grzybowski
Publicado em 23 de setembro de 2008.
Publicado em 23 de setembro de 2008
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