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Acordo ortográfico da Língua Portuguesa visa unificação das grafias, não exatamente sua simplificação

Alexandre Alves

Para alcançar a unificação da grafia empregada em todos os países da Comunidade de Países da Língua Portuguesa, o acordo incorpora tanto características da ortografia utilizada em Portugal quanto algumas do Brasil. Os outros países lusófonos (Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Timor Leste) já adotavam quase completamente a grafia lusitana, ainda que estivessem sendo influenciados pela forma brasileira, em função do acesso que passaram a ter à nossa literatura. Um fato importante de ser registrado é que essa mudança de que tanto se está falando se refere apenas à forma de escrever, não à pronúncia que utilizamos. Não precisaremos falar pinguim ou cinquenta (sem pronunciar o u) ou até toneis (com o e fechado, como teia) porque mudou a escrita. A forma de pronunciarmos as palavras permanece.

Com o acordo, o trema (que já havia sido suprimido na escrita dos portugueses) desaparece de vez também no Brasil. Palavras como lingüiça e tranqüilo passarão a ser grafadas sem o sinal gráfico sobre a letra u: a ortografia passará a ser linguiça e tranquilo. A exceção são nomes estrangeiros e seus derivados, como Müller e Hübner.

Adotando o padrão empregado em Portugal, as palavras paroxítonas com ditongos abertos ei e oi (como ideia, heróico e assembléia, por exemplo) deixam de ter acento agudo. O mesmo ocorre com o i e o u precedidos de ditongos, como em feiúra (que vai se transformar em feiura). Também deixa de existir o acento circunflexo em paroxítonas com ee ou oo, como vôo, enjôo, crêem e lêem, que passarão a ser grafadas voo, enjoo, creem e leem.

Os portugueses não vão estranhar a forma como acentuam as palavras, mas terão que mudar sua forma de escrever algumas. As consoantes mudas (aquelas não pronunciadas) serão abolidas da escrita. Palavras como objecto e adopção, que em Portugal ainda usavam as letras 'c' e 'p' sem que fossem pronunciadas, passarão a ter a grafia usada no Brasil: objeto e adoção.

O alfabeto passa a ter 26 letras, com a inclusão de k, y e w. Isso de pouco vale, pois a utilização dessas letras permanece restrita a palavras de origem estrangeira e a seus derivados, como Kafka e kafkiano, e a abreviaturas, como kg, km, kW.

Dupla grafia

A unificação na ortografia não será total. Como privilegiou mais critérios fonéticos (pronúncia das palavras) do que os etimológicos (de origem das palavras), para algumas delas será permitida a dupla grafia.

Isso se dá especialmente nas paroxítonas que têm diferenças na entoação de brasileiros e portugueses, sendo mais abertas (Portugal) ou fechadas (Brasil). Enquanto aqui as palavras recebem o acento circunflexo, em Portugal utiliza-se o agudo. Ambas as grafias passarão a ser aceitas, passando a ser corretas as formas fenômeno e fenómeno, tênis e ténis, oxigênio e oxigénio, Antônio e António. Essa regra vale também para algumas oxítonas, como caratê e crochê, que poderão ser escritas caraté e croché também (como são usadas nas formas lusitanas).

Hífen

As regras de utilização do hífen também ganharam nova sistematização. O objetivo das mudanças é simplificar o emprego do sinal gráfico, já que suas regras são das mais complexas da norma ortográfica.

O sinal será abolido em palavras compostas em que o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com vogal, exceto (e lá vem uma exceção) se as duas vogais forem iguais. Ou seja: vale para em aeroespacial, infraestrutura e extraescolar, por exemplo, mas anti-inflamatório, arqui-inimigo e micro-ondas ganharam hífen (mudando a grafia usada no Brasil).

Outra boa simplificação, também porque acaba com as exceções, está nos casos em que a primeira palavra (radical) termina em vogal e a segunda começa por r ou s: estas letras deverão ser duplicadas, como em antirrábica ou ultrassonografia.

Entretanto, quando o primeiro elemento terminar em r e o segundo começar com r, a palavra deverá ser grafada com hífen, como em hiper-requintado e inter-racial, forma que, aliás, é usada hoje.

Ah, se você quiser conhecer o texto completo do acordo ortográfico, basta acessar: http://www.filologia.org.br/acordo_ortografico.pdf.

Publicado em 7 de outubro de 2008

Publicado em 07 de outubro de 2008

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