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Desabafo: mas o sonho continua...

Glads Leão Schlosser

Sou filha de professores. Carioca, 46 anos, há 15 morando em Nova Friburgo, qualifiquei-me como Pedagoga, pós-graduei-me em Psicopedagogia Institucional e pude comprovar como o seio da educação está vazio de ideais, de vontade, de seriedade e de qualidade. Fiz tudo que estava ao meu alcance como professora pesquisadora e educadora para tentar reverter este quadro. Passei por quatro governos e, com muita tristeza, vi a educação em Nova Friburgo andar para trás. Enfraquecer.

Fui afastada de um cargo para outro, de uma escola para outra por causa de minha posição sempre questionadora. Eu me senti muitas vezes perseguida. Com o tempo, observei que não era só comigo. Vi professores sendo humilhados e perseguidos por apoiarem outros governos. Vi professores desmotivados, com baixos salários e com medo de perder seus empregos se submetendo à opressão dos "poderosos".

Constatei que os alunos não têm seus direitos preservados. O Estatuto da Criança e do Adolescente não é cumprido na íntegra. As salas de aula, em sua maioria, são impróprias para a quantidade de crianças, e o material didático oferecido pela prefeitura é de péssima qualidade.

Apontador que se quebra ao apontar o lápis, o lápis tem grafite de baixa qualidade, que quebra toda hora. "E ainda dizem que a criança é que não sabe fazer ponta". O giz de cera não tem cor, a canetinha hidrocor não escreve nem pinta, já chega às escolas seca. Assim não dá!

O atendimento aos alunos que necessitam de apoio psicológico é super precário. Seus responsáveis precisam enfrentar filas de atendimento demoradas por demais. Os alunos e seus pais têm pressa em resolver seus problemas imediatos. Eles têm esse direito, mas a maioria continua sem ser atendida de forma adequada. Infelizmente!

A merenda escolar, que deveria ser acompanhada por um nutricionista, constantemente não é revista nas escolas. O cardápio a ser seguido é impossível de ser cumprido, porque sempre faltam os alimentos que fazem parte dele. Faltam muitas vezes óleo, alho e cebola. Por muitos motivos, a merenda se apresenta de baixa qualidade, muitos alimentos perecíveis chegam semiapodrecidos. Fora o papel higiênico, que "constantemente falta" para alunos e professores. Que administração é essa? Nem o papel higiênico? É de doer.

Só as escolas escolhidas "a dedo" têm material didático adequado, alimentação e infraestrutura satisfatória, afinal, esse governo, precisa ter alguma coisa boa mascarando toda uma rede de escolas que deveria ter os mesmos direitos.

Mas, pela educação, fui adiante, frequentando reuniões, participando de debates, fazendo palestras sobre educação no Sesi, no Sesc, participando de conferências nacionais, estaduais e municipais sobre educação.

Em 2002, participei como relatora da elaboração do Plano Municipal de Educação na área de financiamento e gestão e continuo observando diretamente o que ainda está sendo avaliado para que o PME tenha suas metas e ações garantidas na totalidade.

"Eles" dizem que fazem o possível para melhorar a educação. Fazer o possível em educação é fazer quase nada. Sem qualidade, sem experiência, sem liberdade para agir, sem espaço para que cada sujeito que compõe o quadro de educadores possa ser autor da sua própria história de competências, fica ainda mais difícil trabalhar. Ainda pior: com medo de se posicionar contra os métodos impostos aos trabalhadores da educação e correr o risco de sofrer retaliações dos superiores.

A democracia escolar é um mistério até então indecifrável.

Um município que não educa sua população não consegue se educar e crescer com qualidade. Vamos exigir qualidade e qualificação nas escolas friburguenses e principalmente competência na administração da Secretaria de Educação. Conhecer leis, normas e decretos é muito fácil! Só é necessário estudar e decorar. O difícil é reconhecer o ser humano e aprender a respeitá-lo. É difícil também saber reconhecer e assumir nossas faltas e falhas, não é mesmo?

Como formar profissionais cada vez mais capacitados, que é o que exige o mercado atual de trabalho, se não tivermos uma educação de qualidade e atualizada? É direito do seu filho, é seu direito. Você quer continuar pagando impostos sem receber os seus direitos? Não podemos deixar de acreditar em um futuro melhor, cheio de novas oportunidades para nós e para nossos filhos.

Chega de opressão. Vamos lutar pelos nossos direitos de cidadãos livres. Vamos sonhar com uma educação de qualidade e transformar esse sonho em realidade!

Vamos acreditar! É bom lembrar Paulo Freire: "Sonho não é coisa de maluco. Sonho é coisa de quem vive e de quem existe".

Publicado em 7 de outubro de 2008

Publicado em 07 de outubro de 2008

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