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Carnaval para todas as tribos

Mariana Cruz

Nem só de festa vive o carnaval

Evoé!!! O carnaval se aproxima e, com ele, as torcidas se dividem entre os amantes da festa momesca e os que não suportam o agito.

A tribo dos empolgados com a folia carioca é composta de vários subgrupos: os que gostam do carnaval das escolas de samba batem ponto na Marques de Sapucaí todos os dias, desfilam geralmente em mais de uma escola ou, quando não conseguem, vão para a concentração ver carros alegóricos e têm todos os sambas-enredo do ano na ponta da língua (e dos anos anteriores também). Quando não estão na avenida, desfilando ou na arquibancada, estão no Terreirão do Samba, logo ali ao lado. E não perdem, é claro, o desfile das campeãs.

O segundo grupo é dos que vão aonde a vida levar, ou aonde o primeiro amigo chamar. Trata-se daquele folião mais displicente, que não tem preferência por este ou aquele bloco, qualquer um está bom, desde que seja fácil comprar cerveja. Para ele, basta uma blusa amarrada na cabeça ou um arco com duas anteninhas para se considerar fantasiado. Encara a festa como uma espécie de spa etílico em que o importante é acordar já com a latinha em punho e continuar assim o resto do(s) dia(s). Até que lá pelo terceiro dia de folia se dá conta de que está à base de cerveja e que ainda não ingeriu nada de sólido. A dúvida fica entre o churrasquinho ou o cachorro-quente no trailer mais próximo.

Outro personagem importante é o folião-hiperativo. Dias antes do carnaval, já manda para os amigos e-mails com data e hora de todos os eventos. Faz uma verdadeira maratona carnavalesca: vai ao maior número de blocos possível, tem fantasias elaboradíssimas para cada dia de folia (obviamente sai no Bola Preta com uma roupa branca de bolinhas pretas), está sempre munido com uma garrafinha d'água e com a programação dos blocos debaixo do braço e tem um grupinho fiel que o acompanha nessa empreitada. Mesmo depois de ter ido a quatro lugares no dia, e apesar de estar bêbado, não abre mão da liderança do grupo, quando o bloco já está começando a desanimar e já é hora de migrar para outro. Com a maior disposição, vai atrás dos amigos que se perderam na multidão, de longe vê a espada do He-Man, o calção estrelado da Mulher Maravilha e a peruca da Mortícia, cata-os todos. Depois de reunir a trupe fantasiada, seguem avante para o próximo cordão.

Das fantasias também há muito que falar. Algumas deveriam estar isoladas em uma ala especial, como no caso de borboletas, fadinhas, anjinhos e qualquer outro bicho e/ou elemental que tenha um par de asas nas costas. São insuportáveis aquelas armações duras, de arame, que ficam esbarrando incessantemente em quem está atrás. Existem também as fantasias descoladas, que são criadas de acordo com os temas atuais. O carnaval de 2006 foi impagável, com dois garotões sarados espremidos em collants de manga comprida à la Daiane dos Santos. A fantasia ainda vinha acompanhada de performance: após cada estrela dada, eles erguiam os braços e agradeciam ao público.

É quase certo que este ano teremos dezenas de capitães-nascimento espalhados por aí. Interessantes também são as fantasias unidos-venceremos. Alguns carnavais atrás, teve um grupinho vestido de piscinão de ramos. A fantasia era simples: uma piscina de plástico com buracos na base, em cada um estava uma pessoa. Elas praticamente vestiam a piscina. O problema é que esse tipo de fantasia obriga o grupo a ficar junto do início ao fim da folia. Para evitar essa dependência, existem as fantasias um-por-todos, todos-por-um, cujos integrantes não estão presos fisicamente, mas ficam juntos por opção e pela harmonia do conjunto. Como um grupo vestido de sonho de valsa no carnaval passado, com seus imensos capacetões envolvidos em papel celofane rosa. Era um excelente ponto de encontro para os outros grupos: "olha, se a gente se perder, vou ficar perto dos sonhos-de-valsa!".

Ainda sobre o quesito fantasias, o chato é quando o grupo de foliões devidamente paramentados na constante migração entre os blocos aterrissa naqueles blocos de azaração, cheio de pitboys, em que ninguém vai fantasiado. O pior é que as pessoas ficam olhando como se o grupinho estivesse em trajes impróprios ou "pagando mico", quando na realidade o que ocorre é o oposto.

Mas nem só de festa vive o carnaval, existe aquele grupo que tem absoluto HORROR de blocos, de escola de samba, e tira a data para descansar. Nessa turma também há vários subgrupos. Existem os que buscam recarregar as baterias para o ano que finalmente começa (ignoremos os que defendem que o ano se inicia de fato após a semana santa), querem curtir uma bela cachoeira, uma praia paradisíaca, ficar perto do mato e se desligar dos vícios da cidade. Para estes, uma boa opção é Visconde de Mauá ou lugares menos conhecidos, como Matutu, em Aiuruoca; Ibitipoca, São Tomé das Letras ou São Pedro da Serra. Se a preferência for por praia, os lugarejos da Ilha Grande também são bastante procurados nesta época. Para os mais desprendidos, que gostam de acampar, ficar em lugar sem luz elétrica e sem comércio, Martim de Sá é a pedida ideal: um paraíso perto de Parati, aonde só se chega de barco, tem-se a opção de fazer sua própria comida ou comer o PF preparado pela família do seu Maneco, o dono do único camping de lá. Que, por sinal, não vende bebida alcoólica. Então, quem quiser ficar animadinho no carnaval vai ter que levar sua própria garrafa de casa, ou ficar zen, como pede aquele cenário paradisíaco.

Outros preferem celebrar a festa da carne cuidando do espírito; muitas vezes optam pelos retiros espirituais. No Centro Budista Mahabodi, no Rio de Janeiro, haverá retiro de carnaval com a monja Gen Kelsang Pelsang, de 2 a 5 de fevereiro. Serão dadas aulas e meditação sobre os dois principais aspectos dos ensinamentos de Buda. O dia do antifolião zen começa às 9h30 e vai até as 18h, com palestras que tratam de temas como sofrimento, compaixão e meditação.

Para os católicos apostólicos romanos e simpatizantes, o Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro está realizando seu retiro de carnaval, com início também no dia 2, às 8h, e término dia 6, após o café da manhã. Com todas as refeições incluídas e duas conferências diárias. A hospedagem é no próprio mosteiro.

Aqueles que não querem gastar dinheiro viajando, mas também não são amigos da folia, podem preparar seu próprio retiro no lar-doce-lar, aproveitar os dias para ficar em casa e ler diversos livros, acordar cedinho para andar na praia e colocar os filmes em dia.

Do sagrado ao profano, o feriadão carnavalesco pode ser aproveitado de diversas maneiras, "pra tudo se acabar na quarta-feira".

Leia mais sobre o carnaval em:

29/1/2008

Publicado em 29 de janeiro de 2008

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