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Avaliação sem neutralidade
Rosemary Kaspary
Nos diversos estudos sobre avaliação, não há conclusão encerrada ou modelo definitivo que tenha sido implantado como a “receita” ideal. Afinal, o ser humano varia sua maneira de ser conforme a realidade e o contexto social em que vive.
Cada ambiente pede um tipo de avaliação. Por essa razão, não há uma forma única; há, sim, educandos que passam por nossas mãos para aprender a ser cidadãos construtivos de sua história. E está nas mãos dos educadores a responsabilidade de permitir que esses sujeitos avancem com sucesso. Por isso é tão importante que a avaliação esteja em constante discussão, sem fazermos “experiências” avaliativas ou cópias de outros países. É preciso ter olhar crítico, objetivo, e metas definidas para os que passam pelas mãos de quem pode contribuir nessa construção do saber.
Avaliação é um processo abrangente que implica uma reflexão crítica sobre a prática e suas dificuldades, possibilitando a tomada de decisão para vencer os obstáculos. Seja por nota, menção ou parecer, sempre existirá para que possa ser acompanhado o processo de aprendizagem, superando as dificuldades.
A prova ainda é uma das formas mais usadas de chegar à nota, mas para alcançar o resultado não é necessário realizar esse tipo de avaliação.
A maneira como muitas vezes é trabalhada a avaliação escolar baseia-se no prêmio-castigo. Tanto um como outro causam sentimentos de dependência, revolta ou satisfação. O sujeito agirá sempre por recompensa ou ameaça, formando assim educandos e professores preocupados com a nota e não com a aprendizagem propriamente dita.
Há muitas respostas para a pergunta Por que Avaliar?. Entre elas está registrar, investigar, aprovar e reprovar, preparar para a vida, verificar a assimilação, rotular, cumprir a lei, selecionar.
Em sua maneira de avaliar, o professor reflete sua concepção perante a aprendizagem. Se tiver objetivo fiscalizador e controlador, caracterizar-se-á como um profissional transmissor de conteúdos. Mas se o objetivo maior é acompanhar, valorizar e estimular o educando, sua postura será de construir a autonomia e a superação das dificuldades. Essa concepção interativa transforma a aprendizagem numa troca de experiências e resgata positivamente o trabalho educativo.
A partir do momento que o professor muda sua concepção de avaliação, da reprodução para a transformação, os seres humanos serão mais criativos, críticos e construtivos de sua própria história.
Considerar a nota como uma simbologia já é um indício que essa relevância não tem a importância do número em si; ou seja, 7,0 ou 7,5. A dúvida gerada nesse detalhe mostra ainda uma grande preocupação com a nota justa. Para não deixar que o essencial da aprendizagem seja inferior ao burocrático, é preciso desmistificar o número, transformando-o em mero detalhe no crescimento e sucesso do educando.
Transformar um novo conceito de avaliação não significa “liberar geral”. É preciso exigir um ensino de qualidade, feito através da construção do pensamento, da curiosidade e da pesquisa, contrários à decoreba, ao trabalho alienado que gera distância entre educando e educador.
A questão da nota vem historicamente acompanhando a educação. Por essa razão é muito difícil mudar o método avaliativo. O educando estuda porque tem que vencer os obstáculos causados pela nota, que, por sua vez, poderá ou não servir de passaporte para a série seguinte (Vasconcellos, 2000).
A preocupação da tradicional avaliação deixa pais e educadores ansiosos com relação aos educandos que muitas vezes perderam o interesse pela aprendizagem. À medida que o educador se “liberta” deste condicionamento lógico, acaba refletindo esta tranquilidade diretamente aos estudantes.
Simplesmente absorver os conteúdos transmitidos coloca o educando na condição de cópia de objeto, caracterizando uma educação subdesenvolvida. Um país que não constrói sua própria história vive à sombra dos demais; trabalha com sucata e é sucata.
Quando o professor se preocupar com o aproveitamento de cada componente curricular, buscando alternativas para retomar os assuntos, diferente da forma que “não deu certo”; quando o educando se empenhar mais, revendo seu método de estudo; quando a escola oportunizar as condições para esse processo, os resultados serão bem-sucedidos.
Referências
LUCKESI, C. Avaliação da aprendizagem Escolar. 11ª ed. São Paulo: Cortez, 2001.
VASCONCELLOS, C. S. Avaliação – concepção dialética, libertadora do processo de avaliação escolar. 11ª ed. São Paulo: Libertad, 2000.
Publicado em 21 de outubro de 2008
Publicado em 21 de outubro de 2008
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